Maria João Lopes, in Público on-line
Cerca de 24 mil dos diplomados estão inscritos no IEFP. Secretário de Estado defende que não se pode “alimentar desperdício”, que um curso com poucos alunos “não vai ter qualidade” e que a taxa de abandono tem de ser estudada.
O Portal Infocursos, lançado nesta quinta-feira pelo Ministério da Educação e da Ciência, reúne um conjunto de dados que têm como objectivo, segundo o ministro Nuno Crato, ajudar não só os candidatos ao ensino superior a escolher o curso como “melhorar” as instituições, permitindo que se comparem “umas com as outras”. Alguns desses dados incluem a taxa de desemprego e, ainda, o número de estudantes que, ao fim de um ano, não foram encontrados no ensino superior – 12,2% no caso das licenciaturas do sector público. Apesar de admitir que é um número que “deve ser estudado”, o secretário de Estado do Ensino Superior defende que não há dados que permitam atribuir o abandono a problemas económicos.
Alguns dos dados reunidos no site mostram que 8% dos licenciados do ensino público estão desempregados enquanto no privado são 9,5% - dos 231.267 diplomados formados entre 2007 e 2012 no ensino público, 18.545 estavam registados no Instituto de Emprego e Formação Profissional, em Dezembro de 2013. Já no privado há 5769 desempregados num universo de 60.365. Nuno Crato insistiu, porém, que não é “pelo facto de haver jovens com curso superior no desemprego não vale a pena tirar um curso superior”. Outros dados revelam que 45,8% dos jovens entrou, em 2012/2013, na primeira opção.
De acordo com o subdirector-geral da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência, João Baptista, agora, em infocursos.mec.pt, é possível saber, curso a curso, o que aconteceu aos alunos ao fim de um ano: se se mantêm, se mudaram de curso, de instituição, ou se não se encontram no ensino superior. No caso do sector privado, há 16,3% estudantes que, ao fim de um ano, não foram encontrados no ensino superior nacional. No que se refere às licenciaturas do primeiro ciclo do público, o número situa-se nos 12,2%.
Porém, segundo o secretário de Estado do Ensino Superior, José Ferreira Gomes, não é possível dizer se tal desaparecimento do sistema ou desistência, acontece, por exemplo, por terem saído do país, por erros na introdução dos dados, ou se esse abandono foi motivado por questões económicas.
O governante admite que é “um ponto sensível”, que o “número deve ser estudado” e que “há famílias com dificuldades”: “A pergunta é saber se há abandono em concreto na sequência das dificuldades e o que tenho dito sobre este problema é que não temos um estudo completo”, afirmou, defendendo que o abandono acontece sobretudo por dificuldades escolares e não económicas. E citou ainda um estudo da Universidade do Porto, segundo o qual a taxa de abandono entre estudantes com e sem bolsa é “essencialmente” a mesma.
Nuno Crato diz que gostaria de ter mais dados sobre a relação entre o abandono e as dificuldades económicas, mas não tem: “Temos falado com senhores reitores sobre isso, temos pedido inquéritos sobre esse assunto, temos tentado recolher estatísticas.”
Desemprego
Sobre a questão da empregabilidade, Crato sublinhou que não se pretende “condicionar as escolhas dos jovens”, mas os estudantes “têm direito” a conhecer as taxas. A taxa de desemprego apresentada em cada curso é a registada no IEFP e pode ser comparada com a da área de formação e com a existente a nível nacional no sector público.
Apesar de ressalvar que o site reúne muitas informações para além desta, Crato sublinhou que o programa do Governo previa “uma melhoria dos mecanismos de informação sobre a empregabilidade dos cursos” e salientou que o portal também ajudará as instituições a “melhorar”, a compararem-se “umas com as outras e com as metas que estabeleceram para si próprias”.
Apesar de o ministro ter ressalvado que a cerimónia era para apresentar o portal e não para definir políticas para o ensino superior, quando questionado sobre se estes dados podiam servir para a tutela encerrar mais cursos com poucos alunos, o secretário de Estado voltou a defender que é necessário satisfazer as necessidades “dos jovens, da sociedade e do mercado de trabalho”: “E temos de o fazer de uma maneira eficiente, não podemos alimentar desperdício. Seguramente que um curso que recebe um número muito pequeno de alunos, não vai ter qualidade, não há competição interna naquela micro sociedade que se estabelece com cinco ou dez alunos. E vai ter um custo unitário muito alto”, disse, explicando que o que se pretende é “discutir” e “acordar” com as instituições de ensino superior a oferta educativa de cada região.
A plataforma foi desenvolvida pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência e pela Direcção-Geral do Ensino Superior e reúne informação sobre todos os cursos de licenciatura e mestrado integrado ministrados em Portugal registados na Direcção-Geral do Ensino Superior até 31 de Dezembro de 2013. Apesar de reunir dados sobre o público e o privado, este tem menos informações disponíveis e os dois sectores não podem ser comparados.
O portal permite saber, em cada curso, quais as classificações à saída, o número de portugueses e estrangeiros inscritos, a distribuição por idades, o número de diplomados, entre outros dados. A título de exemplo, João Baptista referiu que o curso com o “percentil” mais alto em Portugal é o de Comunicação na Universidade Nova (92%), o que significa que aqueles alunos estão, em média, 92% acima dos outros que fizeram a mesma prova de ingresso.