5.6.14

Desemprego diminuiu? Formadora fala em dados viciados

por Liliana Carona, in RR

Reportagem num centro de formação profissional, onde centenas de desempregados tiram cursos, as explicações não acompanham o cenário positivo. No terreno há uma vontade enorme de partir à procura de uma vida melhor.

O desemprego em Portugal diminuiu, segundo o Eurostat, mas será mesmo assim? No Centro de Formação Profissional do Instituto de Emprego de Viseu já não há lugar para tanto carro estacionado à porta. Centenas de desempregados tiram cursos de formação, mas estes não contam para os números das estatísticas.

Carla, nome fictício, é uma das formadoras, disse à Renascença que os dados são manipulados. “Quem está a frequentar acções de formação não é contabilizado como desempregado. Portanto, isso vicia toda a lógica de contabilização do desemprego em Portugal”, esclarece.

Esta profissional, casada e com filhos, a trabalhar a recibos verdes, também fala em emigrar.

A maioria das formadoras aufere um salário de mil euros a recibos verdes. Descontos à parte e despesas fixas, o que resta para sobreviver é tão pouco, que também elas partilham o desespero dos desempregados, a quem dão formação.

Dar o salto
Na hora de almoço, no Centro de Formação do Instituto de Emprego de Viseu, Alexandre Rocha, de 38 anos, desempregado lê no jornal a notícia da descida da taxa de desemprego para 14,6%, em Abril.

“Penso que é uma aldrabice e nota-se pelos centros de formação que estão apinhados de pessoas”, disse à Renascença, acrescentado estar a pensar emigrar para a Austrália.

Também Carlos Diogo, de 24 anos, que trabalhava na área da restauração, mas está agora a tirar um curso na área da electrónica, pensa em emigrar para algum país nórdico. O único entrave é a barreira linguística.

A taxa de desemprego em Portugal registou em Abril a segunda maior descida homóloga da União Europeia, de 17,3% para 14,6%, apenas atrás da Hungria, sendo contudo a quinta mais elevada entre os 28, revelou o Eurostat.