in Público on-line
O debate ressurgiu no Brasil a propósito do Mundial de Futebol, com comentários como estes a circularem nas redes sociais: “No Brasil é mais fácil esconder a pobreza do que a resolver!” E esta não resolução da pobreza é um problema mundial tão antigo quanto grave, um problema que estudos e inquéritos regulares transformam em números, mas que, no dia-a-dia, em particular nas grandes cidades, tem o rosto de pessoas. Centenas, milhares, milhões. Na Europa dos 28, com a crise e o aumento do desemprego, havia em 2012 (os dados são da Rede Europeia Anti-Pobreza, EAPN, e são os mais recentes) cerca de 124,5 milhões de pessoas em risco de pobreza ou exclusão social. Uma dúzia de Portugais, um número assustador. E isto apenas na União Europeia. Ora nas sociedades desenvolvem-se duas formas de lidar com a pobreza: uma é o assistencialismo, a ajuda a partir de instituições privadas ou estatais, uma forma de minorar o problema e sobretudo aliviar as carências dos que pouco ou nada têm; outra é a repressão, a intimidação, a ameaça, escondendo os pobres à força em instituições para que não “incomodem” (isso foi feito durante o salazarismo, a coberto de uma política de sanidade pública) ou afugentando-os para que vão “incomodar” para outro lado. Tratados como animais vadios, não como pessoas com os mesmos humanos direitos de todos os outros. Ora foi isto que aconteceu agora num edifício do centro de Londres e que, pelas informações conhecidas, já é norma noutras cidades: num lugar onde dormiam sem-abrigo foram colocados picos de metal para os afugentar, como se faz aos pombos. Isto numa Europa onde com o que é gasto num só “almoço de negócios” podiam alimentar-se dezenas de pessoas! Não se trata de gritar igualdade, essa inatingível quimera, mas de exigir humanidade onde começa a imperar o desprezo na sua forma mais vil.