Sérgio Aníbal, in Público
Efeito do abrandamento da economia pode estar a começar a reflectir-se no mercado de trabalho. Taxa de desemprego subiu de 6% para 6,4% em Novembro.Os sinais de abrandamento dados pela economia portuguesa nos últimos meses do ano passado parecem ter tido também impacto no mercado de trabalho, com a taxa de desemprego a registar no mês de Novembro a maior subida mensal dos últimos dois anos.
De acordo com os dados publicados esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, a taxa de desemprego (calculada levando em conta os efeitos sazonais) cifrou-se no passado mês de Novembro em 6,4%, colocando um ponto final num já largo período de um ano em que este indicador se manteve estável em torno da marca dos 6%.
Os dados publicados pelo INE relativamente a Novembro são ainda provisórios, o que significa que podem vir a ser alvo de uma revisão dentro de aproximadamente um mês.
A confirmar-se, a subida de 0,4 pontos percentuais agora calculada para Novembro (em Outubro a taxa de desemprego foi de 6%) foi a maior subida registada desde o Verão de 2020, quando a economia portuguesa sentia os efeitos dos confinamentos iniciais em resposta à pandemia. A taxa de desemprego mantém-se ainda assim abaixo dos 7,2% registados há dois anos e dos 6,7% registados há três.
A taxa de subutilização do trabalho – que é uma medida mais alargada do desemprego que inclui, por exemplo, aqueles que já desistiram de procurar emprego – também subiu em Novembro de 11,2% para 11,6%.
Passou a haver, face a Outubro, mais cerca de 18 mil desempregados, sendo o número total estimado de 331,6 mil pessoas. Em contrapartida, há menos 20 mil pessoas empregadas em Portugal.
O número de jovens (entre os 16 e 24 anos) em situação de desemprego até diminuiu, mostram os números do INE, que coloca a taxa de desemprego nesse segmento etário nos 19% em Novembro, quando em Outubro era de 19,3%.
A evolução da taxa de desemprego está normalmente associada ao desempenho da economia. E, neste caso, a subida da taxa de desemprego registada em Novembro deverá ter como explicação o abrandamento da actividade económica que, no fim do ano, se está a registar em Portugal, em sintonia com o resto da Europa.
Embora o Banco de Portugal ainda aponte para uma taxa de crescimento positiva do PIB durante o quarto trimestre, é consensual entre todos as entidades que produzem previsões para a economia que, depois de um início de ano muito forte, a economia registou na segunda metade de 2022 um abrandamento significativo, fraquejando perante o peso da escalada da inflação e da subida das taxas de juro.
Este desempenho económico mais fraco deverá, com toda a probabilidade, prolongar-se no início deste ano, até porque o impacto da subida de taxas de juro por parte do BCE se irá tornar cada vez mais importante.
Ainda é incerto como é que o mercado de trabalho em Portugal – que tem vindo ao longo dos últimos anos a superar as expectativas – vai conseguir resistir a esta conjuntura económica mais difícil.
Esta evolução negativa do emprego em apenas um mês, e ainda por cima sendo os dados publicados pelo INE ainda provisórios, pode não ser suficiente para retirar já conclusões definitivas, mas constitui o primeiro indício de que o período de desemprego baixo de que o país tem vindo a beneficiar pode estar a chegar ao fim.