8.3.23

Cinco mulheres falam sobre "problemas" que ainda enfrentam nos dias de hoje


8 de março é Dia Internacional da Mulher e de celebração das suas conquistas. Uma data para refletir, também, acerca do progresso a nível de direitos, assim como honrar a coragem e determinação das mulheres que ajudaram a redefinir a história.

Nascido no virar do século XIX, o Dia Internacional da Mulher começou por estar interligado com os movimentos trabalhistas da Europa e da América do Norte. O primeiro Dia Internacional da Mulher foi celebrado nos Estados Unidos da América, a 28 de fevereiro de 1909, em honra da greve das trabalhadoras têxteis nova-iorquinas, em 1908. Posteriormente, o movimento das mulheres rapidamente assumiu uma postura global, sendo atualmente celebrado em quase todo o Mundo.

Em 1975, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu oficialmente este dia, durante o Ano Internacional da Mulher. Dois anos mais tarde, em 1977, a Assembleia Geral da ONU adotou uma resolução que proclamava o Dia das Nações Unidas pelos Direitos das Mulheres e da Paz Internacional.

Foi ainda nos anos 1970, em dezembro de 1979, que nasceu a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, geralmente denominada de CEDAW (sigla em inglês). Este documento, que é comummente conhecido como Carta dos Direitos Humanos das Mulheres, vai para lá da "eliminação da discriminação"— todo ele é bastante explícito no seu objetivo de atingir a igualdade de género entre homens e mulheres. Surgiu ainda a necessidade de criar um Comité sobre a Eliminação da Discriminação contra as Mulheres, um grupo independente de 23 especialistas em direitos da mulheres de todo o Mundo, e que acompanham a implementação da Convenção.

20 anos mais tarde, em 1995, mais de 17 mil delegados e 30 mil ativistas juntaram-se em Pequim, na China, para a 4.ª Conferência Mundial sobre as Mulheres, da qual resultaram a Declaração e a Plataforma de Ação de Pequim. Ainda hoje, este acordo, que definiu as 12 áreas de ação mais importantes para esta luta e que foi assinado por 189 países, é considerado um dos documentos centrais e mais progressivos para o empoderamento das mulheres e raparigas de todo Mundo.

Apesar de todos os avanços relativos aos direitos das mulheres, nenhum país atingiu a igualdade plena entre homens e mulheres. E é destas dificuldades, aos mais variados níveis, que falam as cinco mulheres com quem a Voz da Planície falou nas ruas de Beja.

Começamos com o depoimento de Inês Manguito, que tem 27 anos de idade e que vive e trabalha em Beja.

Inês Manguito realçou que dia da mulher "é sempre" e que celebra o facto de ser mulher sempre que pode. Quanto a desigualdades diz "não somos só desiguais no trabalho". Explica que na profissão que exerce ganha e faz o mesmo que os colegas homens. Mas deixa outras queixas, referindo que "ainda há profissões «de homens» e tem de se terminar com isto, as mulheres podem e quando lá chegam, muitas vezes, são confrontadas com estigma de que conseguiram por «vender o corpo» ou ser bonitas". Revela que foi vítima de "assédio sexual no trabalho", que fez queixa e que "não deu em nada pois em causa estava um homem". Lamenta o sucedido, mas não o facto de ter feito o que deveria pois, tal como frisou, "estava a trabalhar".

Susana Fernandes também falou com a Voz da Planície. Professora de profissão, e a exercer em Beja, tem 45 anos de idade.

Susana Fernandes frisou que "é bom valorizar esta data, especialmente numa atualidade onde a violência contra as mulheres continua a ser praticada e a aumentar". Relevou que "é preciso estar-se alerta" nesta matéria.

Deixou, igualmente, uma mensagem a todas as mulheres, pediu que continuem a "manifestar-se e a lutar pelos seus direitos. Todos são iguais".

Soraia Tavares, de 28 anos de idade, trabalha em Beja e vive na cidade. E confessou à nossa rádio estar a passar por um "situação pessoal complicada devido a um processo de separação".

Deixou no seu depoimento "as dificuldades que as mulheres ainda hoje sentem quando há separações. No tratar os filhos continua a ideia de que é a mulher que deve ficar em casa com eles e impedida muitas vezes até de sair para tomar um café com as amigas".

Deixou claro que celebra "todos os anos o Dia Internacional da Mulher". E que "os pais têm de estar presentes na vida dos filhos tal como as mulheres. Separam-se mas não deixam de ser pais".

Maria Rodrigues, tem 53 anos de idade e vive em Beja. Trouxe para esta conversa a propósito do Dia Internacional da Mulher, alguns dos "lados fundamentais que muitas vezes não se valorizam como deveriam".

Falou sobre o ser "mãe e tomar conta da família a tempo inteiro", assim como as dificuldades em se conciliar "tudo isto com a vida profissional".

Salientando que "dia das mulheres é todos os dias", fez questão de realçar que "ser mulher tão bonito como complicado".

No final deixou o registo de que "todas as mulheres são guerreiras".

Fernanda Raposo, tem 40 anos e vive, assim como trabalha, na capital de distrito.

Começou por dizer que "aos poucos as mulheres vão conseguindo os seus objetivos, mas há matérias onde ainda estamos longe dos homens, como é o caso dos salários".

"As oportunidades no trabalho também ainda não são iguais para homens e mulheres", frisou, deixando, contudo, o comentário de que "lá chegarão".

No final exortou "todas as mulheres a lutarem pelos seus direitos", recordando que "este, o direto de lutar sempre, assim como outros, ninguém pode tirar".