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Presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza rejeita «paternalismo bacoco»
O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza (REAPN) em Portugal, padre Agostinho Jardim, defendeu esta segunda-feira a necessidade de ouvir os pobres para encontrar soluções para o problema da pobreza, rejeitando o «paternalismo bacoco» da sociedade para com os mais desfavorecidos, escreve a Lusa.
«A solução para o problema dos dois milhões de pobres portugueses não pode ser decidida apenas pelos deputados, é preciso que os pobres digam o que pensam, qual a avaliação que fazem das políticas do governo e quais as suas propostas para melhorar a situação», defendeu.
Para o presidente da REAPN/Portugal, «é preciso que deixemos de viver num paternalismo bacoco e assistencialista que só prejudica as pessoas».
«Há muito gente que fala de pobreza, mas ninguém ouve os pobres. Eles têm que ter a oportunidade de dizer o que pensam», frisou.
Agostinho Jardim falava em Paredes, durante a sessão de apresentação de um projecto da REAPN/Portugal tendo em vista estudar as causas do desemprego nos oito concelhos do interior do distrito do Porto e a sua relação com as situações sociais de pobreza e exclusão social.
«Este projecto pretende proporcionar dados sobre as causas que fazem com que esta zona se tenha tornado numa das mais pobres do país e da Europa», frisou o padre Jardim.
O responsável admitiu que os resultados deste trabalho podem ser conhecidos no final de Fevereiro.
A região abrangida por este estudo, que engloba os concelhos de Felgueiras, Amarante, Paços de Ferreira, Paredes, Lousada, Marco de Canaveses, Baião e Penafiel, tem uma taxa de desemprego de 9,6 por cento, superior à média nacional.
«Não podíamos fechar os olhos a esta realidade», salientou Agostinho Jardim, frisando que os resultados que serão obtidos com o estudo permitirão que a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN) possa aproveitar melhor as verbas dos fundos europeus para combater a pobreza.
Para o presidente da REAPN/Portugal, «não é verdade que, como dizem os políticos, o maior problema dos pobres seja o desemprego porque 17 por cento dos pobres portugueses estão empregados».
«O que é necessário são empregos estáveis e ordenados adequados às necessidades», acrescentou, defendendo que a pobreza «não se resolve com políticas assistencialistas, mas com o desenvolvimento da pessoa humana como um todo, que lhe permita a inclusão social».
Por essa razão, considerou importante definir com a máxima precisão possível quais as causas da pobreza, de forma a tornar mais eficaz o seu combate.
«Na luta contra a pobreza nenhum passo pode ser seguro se não soubermos o caminho que temos que percorrer», afirmou.
Esta ideia foi também defendida pelo presidente da Câmara de Paredes, Celso Ferreira, para quem este estudo «permitirá fazer um diagnóstico que ajudará a decidir quem tem que tomar decisões».
«Este é um projecto prioritário porque é com iniciativas desta envergadura que se consegue perceber os problemas para se tomarem as decisões mais adequadas», frisou.
Celso Ferreira recordou que o concelho de Paredes, onde se produz 65 por cento do mobiliário fabricado em Portugal, tem uma taxa de desemprego de 12,3 por cento, salientando a importância de conhecer as origens deste fenómeno.