18.11.07

Em 2012 já será tarde para lutar pelo clima

Clara Barata, in Jornal Público

Grupo de peritos que trabalha sob a égide das Nações Unidas fez o apelo mais urgente de sempre à redução da emissão de gases com efeito de estufa, para limitar alterações climáticas


As conclusões dos cientistas são as mais claras de sempre e o apelo lançado ontem em Valência por Rajendra Pachauri, o economista que lidera o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), foi bem directo: "Se não fizermos nada até 2012, será tarde demais." Pela primeira vez, os cientistas que trabalham sob os auspícios das Nações Unidas para avaliar o que se está a passar com o clima da Terra dizem claramente que há mudanças que podem ser irreversíveis - e algumas mais rápidas e intensas do que prevêem os modelos.

Este sentimento de urgência é a mensagem que os cientistas enviam para Bali, na Indonésia, onde de 3 a 14 de Dezembro os governantes do mundo vão reunir-se para discutir um novo tratado para limitar as emissões de gases com efeito de estufa, que estão por trás do aquecimento do planeta. "O que fizermos nos próximos dois a três anos vai determinar o nosso futuro", disse Pachauri.

A China e os Estados Unidos, que não assinaram o protocolo de Quioto para limitar as emissões de gases com efeito de estufa e são os maiores emissores de dióxido de carbono, são os principais destinatários desta mensagem, sublinhou o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon: "Hoje os cientistas do mundo falaram, claramente e numa só voz. Em Bali, espero que os governantes façam o mesmo", disse ontem em Valência, a cidade espanhola onde o IPCC se reuniu para elaborar um documento de síntese para os políticos.

Substituir o protocolo de Quioto, em vigor até 2012, é o objectivo da reunião de Bali. Se em 1997, quando Quioto foi negociado, ainda havia alguma incerteza sobre os efeitos das actividades humanas no clima do planeta - e se isso poderia ser bom ou mau para a humanidade -, hoje os cientistas são unânimes. O que não significa que não restem ainda muitas incertezas, mas essas inquietam mais do que sugerem uma folga.

Mar vai subir e subir...

Por exemplo, o documento de síntese das três avaliações do IPCC apresentadas este ano não dá um valor máximo para a subida do nível do mar - que está a acelerar, não só por causa do derreter dos gelos, mas também por causa do fenómeno da expansão térmica das águas. Mas o relatório diz que essa subida pode ser significativa em algumas centenas de anos, e não em milénios - o que configura uma alteração rápida, à escala geológica.

"Ainda não sabemos o suficiente sobre o derretimento dos gelos da Gronelândia e da Antárctida. Pode ser mais rápida do que esperamos", disse à AFP Pachauri, o coordenador do grupo distinguido com o Nobel da Paz de 2007, junto com o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore.

Este é um dos pontos mais importantes da avaliação do IPCC. Nos últimos cinco anos, desde que o grupo de peritos começou a trabalhar no relatório apresentado ao longo deste ano, "registaram-se tendências muito mais fortes de alterações climáticas", como a aceleração do derretimento dos gelos polares, disse ainda Pachauri, citado pelo jornal The New York Times.

Mas nem todas as mensagens do IPCC são negras: "A estabilização das emissões dos gases com efeito de estufa pode conseguir-se com um portfólio de tecnologias que já existem ou estão em desenvolvimento."

No entanto, os países mais ricos e desenvolvidos devem ajudar os mais pobres - e normalmente aqueles em que os efeitos das mudanças climáticas serão mais dramáticos - a pôr essas medidas em prática, comentou Achim Steiner, responsável pelo Programa de Ambiente das Nações Unidas.

- O aquecimento climático é inequívoco e coincide com os picos das emissões de gases com efeito de estufa da actividade humana

- As temperaturas médias devem subir entre 1,1 graus e 6,4 graus até 2100

- Os mares podem subir entre 18 e 59 centímetros até ao fim do século; mas é certo que continuarão a subir; as contribuições do gelo da Antárctida e da Gronelândia podem ser mais que o previsto

- Lutar contra o aquecimento global custaria anualmente menos de 0,12 por cento do PIB mundial até 2030