25.11.07

País assimétrico precisa de uma reforma social

Alexandra Serôdio, in Jornal de Notícias

Ao longo de vários meses uma equipa de cerca de 100 pessoas inventariou todos os equipamentos


O desenvolvimento de Portugal "não foi acompanhado do apoio às populações", e por isso o país apresenta hoje "assimetrias muitíssimo acentuadas". O rendimento per capita "é muito baixo" e a desertificação "tende a aumentar".

Estas são algumas conclusões resultantes de um estudo que faz a caracterização social, económica e cultural das freguesias de Portugal. O livro, lançado ontem em Fátima, à margem da Assembleia Geral da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), analisa 900 freguesias de Norte a Sul e aponta para "a necessidade urgente de uma reforma do serviço social".

Isabel Monteiro, que liderou a equipa de mais de 100 pessoas que esteve no terreno, garante que este estudo "é uma ferramenta muito importante" colocada "à disposição de todos". Apesar do trabalho ter sido concluído entre 2003 e 2004, a vogal do conselho directivo da CNIS garante que "está cada vez mais actual".

O alcoolismo, o analfabetismo - "é muito evidente" - a saúde e o envelhecimento da população, são alguns dos problemas detectados nas freguesias estudadas. Isabel Monteiro alerta ainda para o problema da solidão "que é transversal, atingindo todas as camadas etárias, desde as crianças até aos mais velhos".

No elencar dos vastos problemas detectados pelos técnicos, a responsável realça ainda o insucesso escolar. "Foi possível verificar que este assunto está bastante ligado à violência familiar e à desestruturação das próprias famílias", explicou realçando que "hoje em dia as pessoas já falam abertamente deste assunto".

A pobreza "é também acentuada" e quando se fala de habitação, a diferença entre as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e o interior do país "não é muito grande". "Há muita gente a viver em barracas, nas grandes cidades, mas há no interior quem viva em casas sem água, luz ou rede de esgotos", realçou.

O livro apresenta também proposta de actuação. "É necessários que as instituições intervenham mais na família e no meio", admite Isabel Monteiro.

Lino Maia, presidente da CNIS, está preocupado com a desertificação do interior e admite que o sector social pode ajudar a minorar o problema, dando trabalho aos desempregados.

Ministério estuda propostas para travar "fecho" de ATL

O presidente da CNIS defendeu ontem que "uma boa articulação" entre as várias instituições de solidariedade e o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social "pode ajudar a resolver o problema" dos 850 espaços de tempos livres das crianças (ATL), dos 1079 que pertencem à CNIS. Dando conta de uma reunião, que teve com o ministro Vieira da Silva, Lino Maia garante que a direcção da confederação "não pode fazer mais do que tem feito". "É importante por as uniões a funcionar para resolver este problema", afirmou o responsável, admitindo que a reunião com Vieira da Silva "ajudou a minorar os estragos causados. "Vai haver engenho e arte para resolver" os problemas causados com a diminuição de crianças nos ATL, que passaram a ter nas escolas as actividades extra-curriculares. Lino Maia revelou que o ministério "está a estudar as propostas", provando desta forma que "está interessado na cooperação".