30.11.07

Padre Jardim denuncia pressão imobiliária no Centro Histórico

Manuel Vitorino, in Jornal de Notícias

O título da UNESCO foi honroso e, em 1996, houve champanhe e foguetório. Onze anos depois, muitos portuenses lamentam a "oportunidade perdida" e a "apressada extinção" do Comissariado para a Renovação da Área Urbana da Ribeira-Barredo (CRUARB) e da Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica do Porto (FDZHP). "As casas estão muito degradadas. Está tudo ao deus-dará", lamentou, ao JN, o padre Jardim Moreira, da paróquia de S. Nicolau e Vitória, duas das freguesias mais atingidas pela desertificação do Centro Histórico.

"A extinção das duas fundações foi uma machadada nas aspirações das pessoas. O organismo criado pela Câmara [Sociedade de Reabilitação Urbana] é outra coisa está mais empenhada no centro da cidade e menos no núcleo antigo. Na Rua do Infante, já só vivem dez pessoas e os mais velhos estão a ser assediadas para vender as casas. A pressão das imobiliárias é enorme", confessa o também presidente da Rede Europeia Antipobreza.

Especulação imobiliária

O socialista Miguel von Haffe prefere aludir à "mudança de paradigma" para manifestar as diferenças políticas entre o passado (nomeadamente os executivos socialistas de Fernando Gomes) e a chegada de Rui Rio à Câmara "O CRUARB e a FDZHP tinham, por missão, a reabilitação e a melhoria das condições sociais das pessoas. Mas todo o trabalho desenvolvido até agora está em causa. A SRU está assente num modelo onde são mais fortes os valores da especulação imobiliária", disse.

Rui Sá, da CDU, corrobora a ideia de que a cidade "não soube" aproveitar a distinção da UNESCO "Em vez da Câmara reforçar os investimentos no Centro Histórico, diminui a sua intervenção. Desde 2001 até agora, só houve confusão entre organismos e fundações. O Centro Histórico está abandonado", considerou, sem antes traçar um diagnóstico "bastante sombrio" sobre as condições de habitabilidade em S. Nicolau, Sé, Miragaia e Vitória. "O processo de desertificação está em marcha e não existe uma política destinada a fixar as pessoas", considerou.

O presidente da Junta da Sé (PS) corrobora a tese de "abandono" por parte do Executivo de Rui Rio e dá como exemplo o facto de ter solicitado um apoio de 2500 euros para equipar a cozinha do centro de idosos da freguesia e não ter obtido resposta "É inadmissível. A Câmara desprezou o Centro Histórico", aludiu.

Já o presidente da Comissão Executiva da SRU, Joaquim Branco, tem uma visão optimista e acredita que, "a partir de 2008 e durante três anos", vão existir várias obras em diferentes locais da cidade. "Estamos a trabalhar em cerca de 500 edifícios espalhados em diferentes quarteirões da cidade. Na maioria dos casos, temos sido bem sucedidos nas negociações com os donos dos prédios. Já só resta arrancar com as obras", concluiu.