24.11.07

Famílias que ficaram no "bairro dos ciganos" desesperam por casa

Natacha Palma, in Jornal Notícias

Liliana e Lurdes são duas moradores no "bairro dos ciganos" que lamentam estar há um ano sem saber quando mudam para novas habitações


Faz exactamente um ano que a grande maioria das casas e barracos do então chamado "bairro dos ciganos", a sul da Marinha de Silvalde, em Espinho, foi demolido e as famílias realojadas num bloco de apartamentos de habitação social novo situado a algumas centenas de metros dali. Um realojamento que, segundo a Divisão de Acção Social da Câmara, decorreu dentro da normalidade, isto embora haja quem diga que o edifício foi praticamente tomado de assalto.

Na altura, não houve casas para todos e a esses foi pedida paciência e dito que em breve também seriam realojados. Um ano se passou e a família de Maria de Lurdes Gonçalves continua à espera juntamente com outras seis famílias. Ao todo são cerca de 30 pessoas que todos os dias esperam por novidades e elas nunca chegam.

"Estamos fartos de ir aos serviços tentar saber quando é que nos dão casa nova e dizem sempre a mesma coisa brevemente, brevemente... Não sabem dizer outra coisa, isto quando todos os dias passamos pelo bloco de apartamentos que nos está destinado, aqui em Silvalde, e que está pronto. Somos obrigados a voltar para casas cheias de ratos, com os telhados cheios de pedras para que os ondulados que servem de telhas não voem com o vento", criticou Liliana Rocha, 18 anos, filha de Lurdes Gonçalves.

Liliana Rocha nasceu na casa que tão desesperadamente quer abandonar. "Não percebo como é que estas 30 pessoas não se juntam e protestam a ver se alguém nos ouve. É que eu e a minha mãe não somos suficientes para fazer força", lamenta. "Temos as nossas coisinhas, algumas bonitas até, e somos obrigadas a vê-las desfazer--se lhes chover em cima", lamentou. "A canalização está podre, as fossas estão cheias, o telhado desfeito e a única resposta que nos dão é que é nossa obrigação cuidarmos da casa. Como e com que dinheiro?", questiona.

"A única coisa que eu peço é que José Mota, o presidente da Câmara, não nos abandone, ele que olhe por nós", disse, por sua vez, quase em lágrimas, Maria de Lurdes Gonçalves.

Ligação da água

Questionado sobre qual a previsão para a entrega das novas casas de habitação social da Marinha de Silvalde, o vice-presidente da Câmara de Espinho, Rolando de Sousa, explicou que a obra ainda não está concluída. Falta, segundo o autarca, uma série de pormenores a ser ultimados, nomeadamente a ligação à rede de água da companhia.

No que respeita à habitação social nova na Ponte de Anta, faltam ainda algumas demolições para que os arranjos exteriores possam ser feitos. "Nós não temos qualquer interesse em ter casas prontas e mantê-las vagas. Estamos a fazer tudo para as entregar o mais depressa possível. Não posso é garantir que seja ainda este ano, mas será brevemente", concluiu o autarca.