8.11.07

Revolução verde

Ana Fernandes, in Jornal Público

O antigo secretário-geral da ONU Kofi Annan exortou ontem em Lisboa a União Europeia a promover uma "revolução verde" em África, para reanimar a agricultura e minimizar os efeitos das alterações climáticas, diz a Lusa. "É necessária uma revolução verde. Em África o caminho para a prosperidade tem de começar nos campos, junto dos agricultores", declarou. "A UE e os países do G8 [os mais ricos do mundo e a Rússia] têm de agir melhor e apoiar África."

a A Comissão Europeia pretende criar uma aliança com os "países em desenvolvimento mais afectados pelas alterações climáticas e com menos recursos para lutar contra os seus efeitos", disse ontem Durão Barroso, na abertura das Jornadas Europeias do Desenvolvimento, que decorrem até amanhã em Lisboa.

A ideia é aumentar a cooperação entre a UE e os países mais pobres - com destaque para África e Estados insulares, que serão os primeiros atingidos pelas alterações no clima - para integrar a luta contra este problema nas suas estratégias de desenvolvimento e redução de pobreza, acrescentou o presidente da Comissão Europeia. Reduzir as emissões de carbono relacionadas com a deflorestação e ampliar o mercado de carbono são medidas previstas.

A União compromete-se a aumentar o apoio financeiro às medidas de adaptação e atenuação dos efeitos das alterações climáticas e para a transferência de tecnologia."Devemos apostar na criação de um mercado global do carbono que crie financiamento e criatividade para os sectores público e privado, ao nível da investigação de novas tecnologias limpas", salientou o primeiro-ministro, José Sócrates.

Barroso comprometeu-se a pressionar os Estados -membros para que cumpram os compromissos de apoio aos Objectivos do Milénio, para reduzir a pobreza para metade até 2010. "Quando vemos as estatísticas, verifica-se que grande parte da ajuda pública ao desenvolvimento dada pela Europa foi cancelamento da dívida. Portanto são transferências que contam de uma vez, mas não têm de ter seguimento." Daí a necessidade de uma estratégia concertada e continuada em prol do desenvolvimento sustentável.

"A luta contra as alterações climáticas é uma luta pelo desenvolvimento", sublinhou. Isto porque são os países mais pobres, e que menos contribuíram para o problema, que irão sofrer as maiores consequências, dada a sua elevada vulnerabilidade a catástrofes naturais. "No continente africano, em que as economias assentam em grande medida na agricultura, as alterações climáticas têm provocado profundas mudanças nos sistemas agrícolas, engendrando rupturas graves de segurança alimentar e, em consequência, dramáticas deslocações das populações", disse José Sócrates. Acrescem as tensões provocadas pelos milhões de refugiados ambientais.

Por isso, tanto Sócrates como Barroso sublinham que as alterações climáticas serão parte fundamental da parceria estratégica UE-África, a discutir na Cimeira de Dezembro. Será lançada uma parceria para promover condições favoráveis ao investimento em infra-estruturas no domínio da energia, como as renováveis, e investir na transparência e estabilidade do mercado.

As jornadas, organizadas pela Comissão Europeia, estão a decorrer na FIL e juntam governos, ONG, empresários e instituições europeias e da ONU, reunidas para partilhar experiências e debater iniciativas.