25.11.07

Para que é que serveo Plano Tecnológico?

Francisco Jaime Quesado*, in Jornal de Notícias

O Plano Tecnológico cumpre dois anos. Numa altura em que o nosso país se debate com decisões estratégicas em torno do futuro da sua competitividade, a oportunidade para algumas reflexões sobre os novos desafios que mais do que nunca estão em cima da mesa. Um tempo novo suscita novos paradigmas e daí a necessidade de, olhando para trás, para a realidade do que foi feito, formular novas pistas de actuação. Consolidar os bons resultados, desenvolver novas soluções para o que correu menos bem.

O novo ciclo que o Plano Tecnológico, ao fim destes dois anos de implantação, deve protagonizar tem de se assumir acima de tudo como um fórum aberto de clarificação das apostas concretas que a política pública, em articulação com os diferentes actores da sociedade civil, deve definir em sede do modelo de desenvolvimento económico e social para o território. Não se pode ter mais do mesmo e o tempo é de mudança, ao nível da definição dos pólos de competitividade que devem ser seleccionados e dos recursos efectivos que devem ser alocados a uma estratégia voltada para a criação de valor centrada na inovação e conhecimento.

O diagnóstico é claro. Não há outro caminho a seguir. Neste sentido, a análise atenta do que se tem passado no nosso país suscita conclusões muito claras

- O modelo de criação de valor na maior parte dos sectores económicos do país continua a enfermar da falta de "leitura" estratégica dos novos drivers do crescimento - a "mecânica" de Porter e de outros discípulos da competitividade ainda não está suficientemente internalizada na prática da maior parte das empresas que a montante (utilização de recursos) e jusante (integração nos circuitos comerciais internacionais) patenteiam ainda falhas estruturais incompreensíveis;

- A dimensão social do paradigma nacional está esgotada. Novos desafios exigem soluções pragmáticas e claramente que a integração social e fomento da empregabilidade, próprios duma sociedade justa e equilibrada, têm de assentar na sustentabilidade do mercado económico e não (apenas) em dinâmicas artificiais de política pública meramente conjunturais. A justiça social potenciada pelo emprego tem que assentar na capacidade dos actores sociais criarem aquilo que recebem, para que o sistema funcione de forma sustentada;

- A aposta na Inovação Tecnológica tem de ser lida a partir do mercado e da fase final da cadeia de valor. Criar novos produtos e serviços, melhorar processos, qualificar a utilização dos circuitos internacionais, dando-lhes dimensão e escala, é o caminho exigido por quem procura. Continua a haver uma utilização inadequada de recursos e esforço em I&D a partir da oferta, quando o pragmatismo da Economia Global o que exige é respostas claras, atempadas e marcadas pela criatividade.

- A relação dos cidadãos com o Estado tem de, duma vez por todas, ser clara, transparente e eficaz. Numa sociedade sem tempo, exigem-se respostas rápidas, simples e sobretudo potenciadoras do "valor" mais importante que é a noção da qualidade de vida no exercício do direito da cidadania. Por isso, importa qualificar e sustentar essa relação, cabendo ao Estado o papel central de criação das condições de salvaguarda dessa relação.

A prioridade está claramente na execução. Importa agora, mais do que nunca, criar as condições de efectiva implantação em cada um dos países dos objectivos propostos e sobretudo dar aos diferentes protagonistas da sociedade civil (empresas, universidades, centros de inovação) as condições práticas de efectiva operacionalização das suas diferentes acções.

Há um tempo novo para o "Plano Tecnológico". Um desafio global de todos os que ainda acreditam num Portugal para o futuro. Uma oportunidade, única e decisiva, de construir uma rede global que faça deste país um admirável mundo novo onde vale a pena viver.

* Gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento