Rita Siza, Washington, in Jornal Público
A precariedade laboral, o desemprego e a crescente inflação dos preços, nos combustíveis e no cabaz alimentar, justificam o aumento de pedidos de apoio
O número de americanos que dependem do programa federal de ajuda alimentar estará prestes a atingir um novo recorde histórico de 28 milhões, segundo as previsões do Gabinete Orçamental do Congresso [Congressional Budget Office, ou CBO, na sigla em inglês].
Desde a criação do programa de distribuição de senhas alimentares, na década de 60, nunca como agora terá havido tantos candidatos a esse subsídio social - apesar de alguns picos pontuais em anos recentes, como por exemplo durante a recessão económica de 1990 ou imediatamente após o furacão Katrina, em 2005. No final de 2007 havia 26,5 milhões de inscritos.
Em menos de um ano, foram vários os estados norte-americanos que reportaram um aumento de mais de dez por cento no número dos pedidos para ajuda alimentar ao abrigo do programa administrado pelo Departamento de Agricultura. No Michigan, onde a taxa de desemprego é a mais alta do país, um em cada oito residentes é recipiente de senhas alimentares.
No Kentucky uma em cada sete pessoas é beneficiária e na Virgínia Ocidental um em cada seis habitantes também tem direito ao subsídio.
No estado de Rhode Island, mais de 84 mil pessoas, sensivelmente oito por cento da população, estão a receber apoio financeiro para a compra de comida. Em Nova Iorque, desde Julho de 2007 até agora, houve 67 mil novos pedidos de adesão ao programa, que fizeram subir o número de beneficiários para um total de 1,86 milhões de pessoas (um em cada dez residentes).
Como explica Jim Weill, presidente do Food Research and Action Center, uma organização de combate à fome sediada em Washington, esta "avalanche" de pedidos de apoio alimentar explica-se pelo aumento do desemprego e crescente precariedade laboral, e ainda pela inflação dos preços dos combustíveis e do cabaz alimentar mais básico.
"As pessoas estão a perder o emprego ou a trabalhar menos horas e, consequentemente, a ganhar menos dinheiro. Estes novos casos são na maior parte famílias, que recorrem ao subsídio federal ou a outras formas de ajuda para suportar a economia doméstica num momento de carestia dos bens de necessidade", observa este responsável.
De acordo com os critérios de elegibilidade do programa, os beneficiários têm de apresentar um rendimento compatível com os valores definidos como patamares de pobreza - não precisam necessariamente de estar classificados como "pobres", mas não podem exceder 130 por cento do montante máximo (para ter direito a este subsídio, uma família de quatro pessoas não pode dispor de mais de 27.500 dólares de receitas anuais).
O montante máximo mensal per capita é de 100 dólares, um valor que os especialistas concordam ser insuficiente até para cumprir os objectivos do programa. As senhas de alimentação foram criadas como um complemento e não para servir como a "tábua de salvação" das famílias. Mas foi nisso que se tornaram.
Com efeito, só no último ano, quando o valor do ordenado mínimo foi revisto pela primeira vez em dez anos (de 5,15 para 5,85 dólares por hora), o preço do leite nos Estados Unidos aumentou 17 por cento. O valor do pão, arroz e massas subiu 12 por cento. Os ovos ficaram 25 por cento mais caros do que em 2006. E em 2008, a inflação dos preços da comida já chegou aos cinco por cento.
Mas o ajustamento dos valores pagos em senhas alimentares à evolução da inflação é politicamente sensível, simplesmente porque não existe margem orçamental para o financiamento dos programas de subvenções estatais (a Segurança Social, o Medicare, etc., que os americanos definem como "entitlements" ou direitos adquiridos). Segundo as projecções do CBO, o peso das subvenções alimentares no orçamento federal deverá subir dos 34 mil milhões de dólares cativados até ao final deste ano para uns estimados 36 mil milhões de dólares em 2009.
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milhões é o número de americanos que dependem dos programas federais de apoio alimentar. Um número recorde