31.3.10

Deficiente desespera por ajuda

Leonor Paiva Watson, in Jornal de Notícias

Mora em casa degradada e pediu auxílio à Câmara que lhe recusou habitação social


Paula Bem-Haja, deficiente motora e auditiva, vive numa casa degradada e pejada de humidade, tendo por isso pedido uma habitação social à Cãmara de Gondomar. A Autarquia respondeu-lhe que notificasse a senhoria - pobre e com 82 anos - a fazer obras.

Paula Bem-Haja, 37 anos, vive no 531 da Rua da Restauração, em Rio Tinto, desde que se entende como gente. E desde que se entende como gente que a casa está a precisar de obras. A porta principal mal fecha e dificilmente se consegue abrir, os tectos estão pretos de humidade e em risco de cair, chove no fogão, e as torneiras da água quente da cozinha e do quarto de banho soltam uns pingos que mal darão para lavar as mãos. "Eu lavo a louça com muita dificuldade", disse, apontando para uma banca bem limpa.

Paula - com severa deficiência auditiva, que articula mal as palavras e anda com muita dificuldade, porque tem raquitismo - vive com 340 euros por mês, um total que advém parte do Rendimento Social de Inserção e parte de um seguro de vida deixado pelo pai. "Eu não tenho dinheiro para fazer obras. Isto é uma miséria. Ninguém me dá emprego por causa das minhas deficiências", contou.

Paula decidiu pedir ajuda à Câmara. Os técnicos foram a sua casa e a Autarquia respondeu, depois, por escrito. A Edilidade entendeu que a casa precisa de obras, mas que a sua situação não é enquadrável na legislação que permite atribuir habitação social. Sugeriu, ainda, que solicitasse uma vistoria de salubridade, segurança e solidez, com o objectivo do proprietário ser notificado a fazer obras.

Ora, a senhoria de Paula Bem--Haja é uma senhora de 82 anos e que também não tem possibilidades de levar a cabo a requalificação necessária, tanto mais que a renda paga por Paula fica pelos 50 euros. "A senhoria não pode, eu não posso e não tenho família que me ajude", disse Paula, cujos pais já morreram.

"Ninguém me dá emprego"

Por isto mesmo, Paula insistiu com a Câmara, mas esta - colocada de parte a possibilidade de uma habitação social - repetiu que nada podia fazer por ela. Um canalizador para proceder aos arranjos necessários e uns baldes de tinta para pintar a casa já seriam uma grande ajuda.

"Eu não posso, eu tenho uma série de deficiências. Ninguém me dá emprego. Não posso mesmo", repetiu.