28.3.10

A oportunidade do excesso de informação

Por Raquel Almeida Correia, in Jornal Público

Dois desempregados tornaram-se empreendedores ao fundar a Essential Data, uma start-up que teve o apoio da InovCapital, empresa de capital de risco estatal


Bastou uma reunião, dois meses de espera e 60 mil euros para que o projecto de Jorge Ferreira e Célia Costa visse a luz do dia, em Janeiro de 2009.

Saturados do excesso de informação que hoje mina a comunicação nas empresas, os dois empreendedores, a braços com o desemprego, decidiram encontrar uma solução para o problema. E foi assim que surgiu a start-up Essential Data, que filtra as mensagens que todos os dias nos chegam, assegurando que não deixamos escapar as mais importantes.

O desenvolvimento tecnológico dessa ferramenta foi complexo, tanto que demorou cerca de sete meses a preparar. Mas o resultado prático é relativamente simples. A empresa instala uma barra nos computadores dos seus clientes, muito semelhante à que hoje se usa como rodapé nos noticiários televisivos. Nessa barra só aparece a informação realmente relevante, de acordo com os critérios estabelecidos pelo utilizador.

No caso de uma empresa, o segmento de negócio para o qual a Essential Data mais trabalha neste momento, pode haver dois caminhos distintos: a barra ser usada como difusor de comunicação interna, alertando os trabalhadores para uma reunião importante, por exemplo, ou como veículo de informação externa, prestando informações aos trabalhadores sobre movimentações no sector de negócio em que se inserem ou novidades nos catálogos dos seus clientes, entre outros.

Mais rápido do que imaginava

Cabe a cada organização escolher o que quer destacar nessa barra e à Essential Data ser um filtro capaz de eliminar todo o ruído em redor. Tarefa que executa através de um servidor informático, mas também com a ajuda da mão humana, uma vez que trabalha com profissionais especializados nos sectores dos seus clientes.

A primeira empresa a ficar rendida ao sistema foi a Nokia, que já implementou o serviço nos seus escritórios. A operadora de telecomunicações Vodafone, a seguradora Tranquilidade e o grupo Brodheim, que representa marcas como a Guess, a Furla e a Burberry, estão a testá-lo neste momento.

Jaime Ferreira, que trabalhou 15 anos em multinacionais e que, por isso, teve de lidar diariamente com excesso de informação, sabia que tinha uma boa ideia nas mãos. "Está provado que perdemos grande parte do nosso tempo de trabalho com pesquisa e com informações inúteis", assegura. Porém, nunca pensou que fizesse tanto sucesso junto dos investidores. Mal finalizou o plano de negócio, contactou a DNA Cascais, uma agência de promoção do empreendedorismo, que o reencaminhou de imediato para a InovCapital.

Após a primeira reunião com a sociedade de capital de risco do Ministério da Economia e dois meses de espera, o projecto foi aprovado. Um mês depois, nascia. "Achei que iria ser um processo muito mais lento. Normalmente são precisas muito mais reuniões para convencer os investidores", diz. O facto de já ter muita experiência profissional e o domínio da área em que a Essential Data opera foram dois pontos a favor do nascimento de mais uma start-up em Portugal.

O ex-funcionário da Samsung, que era, até Setembro de 2008, responsável pela área de telemóveis da empresa de tecnologias de informação, quis experimentar o empreendedorismo depois de ver fracassadas três tentativas de reentrada no mercado de trabalho. "Apanhei o pico da crise. Estava tudo congelado", conta. Hoje, não se arrepende.

O investimento para criar a empresa foi de 60 mil euros e a InovCapital entrou com 60 por cento, passando, por isso, a ser o accionista maioritário. As restantes acções são detidas, em partes iguais, pelos dois sócios-fundadores. O facto de ter nascido em época de crise faz com que a Essential Data não queira crescer depressa demais. Continua a ter os mesmos três trabalhadores do início e não tem ambições desmesuradas. "Vamos crescendo à medida que a nossa carteira de clientes também for crescendo", sublinha Jaime Ferreira. Essa carteira, que agora tem sete nomes, poderá vir a ser reforçada em breve. "Temos a expectativa de fechar três ou quatro grandes projectos este ano", avança o empreendedor. Com isso, a facturação registada em 2009 - perto de 100 mil euros - poderá crescer consideravelmente. A Essential Data prevê alcançar o retorno operacional do negócio este ano e, em 2011, começar a recuperar o investimento.

Daqui a dois anos, a ambição é continuar a crescer, dentro e fora de Portugal. Esse patamar será alcançado com a ajuda de novos serviços. A empresa está a preparar o alargamento da actual oferta, que também inclui clipping (selecção de notícias) digital, a PDA, bem como a criação de novos serviços. São eles a possibilidade de incluir esta barra de alertas nos sites informativos ou de a colocar à disposição de clientes muito especiais: os políticos e os VIP - novidades que deverão avançar ainda este ano.

Há e haverá sempre a possibilidade de estas ferramentas serem copiadas pela concorrência. Apesar de já estarem registadas, "os produtos tecnológicos e a lei de protecção em seu redor podem ter muitas interpretações diferentes", lamenta Jaime Ferreira.

A solução foi apressar-se a dar a conhecer a sua ideia às maiores empresas nacionais. Agora, tudo parece fácil, mas se não fosse o empurrão financeiro dado pelo capital de risco, a Essential Data hoje não existiria. "Não teríamos avançado porque as receitas, neste tipo de negócio, só vêm mais tarde. Era um risco demasiado grande", explica o gestor de 42 anos