31.3.10

Freiras acusadas de maus tratos a crianças deficientes

in Jornal de Notícias

Uma nova denúncia de maus tratos a menores deficientes numa instituição gerida por freiras católicas aumentou hoje, terça-feira, a série extensa de casos que tem abalado a Igreja Católica na Áustria.

O novo caso foi revelado por uma mulher que assegura ter assistido a maus tratos no Centro Social São José, da Ordem das Irmãs da Caridade, na localidade de Mils, no Tirol, divulgou hoje a cadeia pública de rádio e televisão ORF.

A testemunha relatou na ORF que ficou impressionada quando começou a trabalhar em 1980, com 22 anos, naquele Centro, que recebe meninos com problemas físicos e psicológicos, pelos métodos brutais de educação aplicados.

"Havia duches frios, camisas de força, insultos, pontapés e os internados eram encerrados na sala de banho durante horas. Quando um menino vomitava, tinha de comer o vomitado", contou.

A mulher começou a escrever um diário onde registava os maus tratos infligidos por cada freira e, ao fim de cinco meses, levou os seus apontamentos ao Gabinete de Protecção de Menores e a outras autoridades tirolesas, sem conseguir ser ouvida.

"Pensava que iam ficar satisfeitos por receberem esta informação, mas a única coisa que recebi foi uma palmada no ombro, por parte de um senhor que me disse que o assunto era muito delicado", recordou, adiantando que foi aconselhada a queimar os apontamentos e a deixar de escrever o diário.

Mais tarde, dirigiu-se, com outra mulher, a meios de comunicação social, também sem êxito: "Sentimo-nos tratadas como mentirosas e insinuaram inclusive que tínhamos recebido dinheiro".

Por fim, a mulher abandonou o Tirol e foi para Viena e hoje pediu o anonimato porque não quer ver-se confrontada com acusações similares, e lamenta não ter feito o suficiente para esclarecer o assunto.

Nas suas declarações, afirmou sentir vergonha e grande impotência, considerando que se sentira paralisada e cobarde.

Garante que as suas declarações não tiveram quaisquer consequências para as freiras que trabalhavam no Centro, parte das quais continuam em trabalhar com os menores.

Contactada agora pela ORF, a diocese de Innsbruck disse que não tinha competência no caso, porque se trata de uma instituição controlada por uma ordem religiosa.

O Gabinete de Protecção de Menores, acusado de inação face às acusações feitas há três décadas, limitou-se a assinalar que a autoridade competente para o assunto é o vereador dos Assuntos Sociais, Gerhard Reheis, que prometeu investigar os casos.

"Quando tivermos documentos concretos, contactaremos o asilo. Desta vez, a senhora pode estar certa de que a levaremos a sério", afirmou Reheis.

Hoje também, fontes da Ordem das Irmãs da Caridade prometeram estudar e esclarecer estas acusações.