A Covid-19 voltou à agenda mediática e, uma vez mais, percebe-se que muito do que está em causa tem a ver com a gestão de expectativas. Dois anos de pandemia mostraram que gerir expectativas representa um trabalho inacabado. Na última semana, dois temas ilustraram este argumento e o quanto é preciso uma comunicação acertada para garantir o realinhamento entre cientistas, políticos e cidadãos em geral:
1. A PANDEMIA NÃO ACABOU
A guerra na Ucrânia tirou tempo de antena à pandemia, contudo, tal como escrevi há um mês: “do mesmo modo que a Covid-19 não era mais grave ou preocupante por estar na agenda mediática diária, também não deixou de existir ou de preocupar apenas porque a atualidade da guerra se impôs”.
Era óbvio que o tema da pandemia tinha que voltar. Este regresso anunciado decorre do facto de Portugal permanecer em situação de alerta, o que implica ter que decidir sobre as medidas ainda em vigor: aliviar, manter ou agravar? E quando, para quem e porquê? Mesmo com o anúncio do fim das reuniões do Infarmed e com a condecoração justa de dezenas de personalidade, sinais que podiam levar à ideia de virar de página, a verdade é que os decisores políticos não falaram no fim da pandemia. Esse foi um erro do passado que não voltou a acontecer.
Não falaram no fim da pandemia porque o fim de uma pandemia não se decreta num país quando as várias regiões do mundo continuam a lidar com situações díspares do ponto de vista da vacinação e dos impactos da doença nos sistemas de saúde. Também não falaram no fim da pandemia porque entre os países em que a população mais aderiu à vacinação vive-se com expectativa a monitorização da doença.
A situação atual é favorável e projeta-se que assim continue nas próximas semanas, mas poucos são aqueles que arriscam dizer como será o verão, o outono e o inverno. Volto a recordar que mesmo quando for consensual que entrámos numa fase endémica, não há conhecimento sobre a gravidade das manifestações clínicas do vírus. Afinal, o conceito de endemia não tem a ver com a severidade de um agente patogénico (a malária é endémica e não passou a ser mais inofensiva).
Há que insistir na ideia de que as decisões de gestão da pandemia dizem respeito à factualidade do presente e não às hipóteses do futuro.
1. A PANDEMIA NÃO ACABOU
A guerra na Ucrânia tirou tempo de antena à pandemia, contudo, tal como escrevi há um mês: “do mesmo modo que a Covid-19 não era mais grave ou preocupante por estar na agenda mediática diária, também não deixou de existir ou de preocupar apenas porque a atualidade da guerra se impôs”.
Era óbvio que o tema da pandemia tinha que voltar. Este regresso anunciado decorre do facto de Portugal permanecer em situação de alerta, o que implica ter que decidir sobre as medidas ainda em vigor: aliviar, manter ou agravar? E quando, para quem e porquê? Mesmo com o anúncio do fim das reuniões do Infarmed e com a condecoração justa de dezenas de personalidade, sinais que podiam levar à ideia de virar de página, a verdade é que os decisores políticos não falaram no fim da pandemia. Esse foi um erro do passado que não voltou a acontecer.
Não falaram no fim da pandemia porque o fim de uma pandemia não se decreta num país quando as várias regiões do mundo continuam a lidar com situações díspares do ponto de vista da vacinação e dos impactos da doença nos sistemas de saúde. Também não falaram no fim da pandemia porque entre os países em que a população mais aderiu à vacinação vive-se com expectativa a monitorização da doença.
A situação atual é favorável e projeta-se que assim continue nas próximas semanas, mas poucos são aqueles que arriscam dizer como será o verão, o outono e o inverno. Volto a recordar que mesmo quando for consensual que entrámos numa fase endémica, não há conhecimento sobre a gravidade das manifestações clínicas do vírus. Afinal, o conceito de endemia não tem a ver com a severidade de um agente patogénico (a malária é endémica e não passou a ser mais inofensiva).
Há que insistir na ideia de que as decisões de gestão da pandemia dizem respeito à factualidade do presente e não às hipóteses do futuro.
2. A UTILIZAÇÃO DAS MÁSCARAS
E porque no presente a Covid-19 tem um impacto reduzido no sistema de saúde importa ponderar a manutenção ou alívio da utilização da máscara em espaços coletivos fechados. O que está em causa são as escolas, dado não haver uma pressão pública tão notória em relação aos transportes públicos ou a outros espaços públicos de consumo. Isto mais ainda porque pairou a suspeita de que as máscaras iriam continuar nas escolas até ao fim do ano letivo.
A gestão de expectativas diz respeito a várias contradições que esta medida contém. Primeiro, porque destoa do que acontece noutros locais fechados, como bares e discotecas. Não é de todo claro quais as características destes espaços ou do tipo de contactos sociais aí mantidos que os tornam mais seguros face às escolas. Segundo, porque a vacinação das crianças e dos jovens foi anunciada como um meio necessário para retomar a normalidade. É difícil justificar a manutenção de medidas quando as pessoas aderiram ao que foi pedido. Terceiro, porque os contactos sociais fora das escolas voltaram a uma normalidade quase pré-pandemia, pelo que é ilusório achar que a transmissão do vírus é controlável se as máscaras forem mantidas nas escolas. Quarto, precisamente a ideia de querer travar a transmissão. Há dois meses foi dito que o controlo da transmissão tinha deixado de ser o foco da gestão da pandemia dado o sucesso da vacinação. Não tendo havido nenhuma alteração da efetividade das vacinas nem do impacto da doença no sistema de saúde, não se percebe a utilização deste argumento passado este tempo.
É verdade que o indicador da mortalidade em Portugal continua elevado face ao limiar definido para o espaço europeu. No entanto, percebendo que o perfil das pessoas que continuam a morrer por Covid-19 sobrepõe-se ao perfil das pessoas que morrem por infeções semelhantes e que o peso da mortalidade por Covid-19 mantém os padrões de mortalidade dentro das tendências habituais para o país, então deve-se promover a mudança do indicador-chave para o alívio ou agravamento das medidas. Nesta fase interessa muito mais saber se a mortalidade por Covid-19 altera ou não os padrões de mortalidade típicos em Portugal: se sim, então precaução acrescida é necessária; se não, então a proteção contra a Covid-19 é excessiva face às demais doenças.