19.4.22

Juiz quer que Maria de Fátima Bonifácio seja julgada por racismo. Defesa vai recorrer

Joana Gorjão Henriques, in Público

Juíz de instrução de Matosinhos considera que no seu texto no PÚBLICO, a 6 de Julho de 2019, a arguida “ofendia, rebaixava e inferiorizava” os grupos visados “em razão da cor da sua pele e origem, pertença cultural ou étnica”. E argumenta: “Liberdade de expressão não é um direito que possa ser exercido de forma irrestrita ou ilimitada.” Defesa vai recorrer, segundo o seu advogado.

O Ministério Público arquivou, mas o juiz de instrução criminal de Matosinhos discordou e decidiu pronunciar a historiadora Maria de Fátima Bonifácio para julgamento pelo crime de discriminação por causa de um texto que assinou no PÚBLICO a 6 de Julho de 2019. O texto motivou uma queixa-crime no MP de Lisboa da associação SOS Racismo, logo a seguir à sua publicação, e depois um pedido de abertura de instrução. A arguida vai “naturalmente” recorrer da decisão de pronúncia, segundo o seu advogado, Francisco Teixeira da Mota (também advogado do PÚBLICO). Contactada, a historiadora não quis comentar.

A decisão do juiz de pronunciar Maria de Fátima Bonifácio, assinada a 21 de Março por Miguel Aranda Monteiro, e só agora tornada pública, inclui ainda a medida de coacção menos gravosa, termo de identidade e residência. O texto de Fátima Bonifácio motivou indignação interna no jornal e mais tarde um editorial do director do PÚBLICO, Manuel Carvalho, “no qual se rejeita o teor do artigo e as expressões usadas pela autora”. Também um grupo de 14 profissionais de várias áreas — professores universitários, escritores, juristas, cineastas, entre outros, como as procuradoras do Ministério Público aposentadas Dulce Rocha e Aurora Rodrigues, o escritor José Eduardo Agualusa, os jornalistas António Borga, Diana Andringa, os académicos António Pedro Dores e Manuela Ribeiro Sanches — apresentou uma queixa-crime.