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As associações de ciganos portugueses sentem que «poucas pessoas» dão a cara para os defender. Apostados em deixar de ser «bicho papão», querem mandar os filhos à escola, o que entendem ser um «investimento» no futuro do país
António Pinto Nunes, presidente da Federação Calhim, que congrega as associações de ciganos portugueses, afirmou à agência Lusa que «90 por cento da sociedade» não aceita os ciganos, «parece que lhes tem repugnância».
Apesar de um cigano ser «um sujeito com dignidade, há bom e há mau, [a discriminação] pode acontecer só pelo facto de se vestir de maneira diferente», afirmou.
«Isso é uma realidade. Faz falta mais gente para colaborar com os ciganos. Poucas pessoas nos defendem. Os que gostam de nós dão a cara, e são poucos a fazê-lo», declarou, afirmando que «tem pena» que assim seja.
Na semana passada, o comissário dos Direitos Humanos do Conselho da Europa, Thomas Hammarberg, avisou o Governo português do que chamou «condições deploráveis» das condições de alojamento dos ciganos e da «extensão de discriminações a seu respeito», que «constituem uma fonte de preocupação».
Referindo-se à comunicação social, Pinto Nunes assinalou que tende a focar-se nas «ocorrências» em que estão envolvidos ciganos, lembrando os confrontos que ocorreram na Quinta da Fonte, em Loures, em 2008, em que «só se filmaram os ciganos aos tiros, como se ali estivessem feitos cowboys».
«Há que saber esquecer o que se vai passando. As coisas acontecem, as pessoas são condenadas e pagam pelo que fizeram, não se pode continuar a apontar o dedo a uma comunidade inteira», defendeu.
A propósito do Dia Internacional contra a Discriminação Racial, que se assinala no domingo, Pinto Nunes afirmou que o que os ciganos precisam é de uma ajuda «das entidades superiores» para «mentalizar as pessoas de que os ciganos não são nenhum bicho papão».
«As pessoas acham que o trabalho é só o que se faz num escritório. E um cigano que se levanta às cinco da manhã, carrega uma carrinha, vai fazer um mercado ou mais e depois regressa a casa à noite? Estamos a falar de trabalho físico e horários prolongados», notou.
António Pinto Nunes realça que os ciganos também querem «maneiras de pôr os seus filhos a estudar», explicando que «um pai e mãe que saem de casa às sete da manhã para ir fazer uma feira precisam de ter condições».
«O cigano é um pai muito cioso e protector dos seus filhos, não os deixa com qualquer pessoa», referiu, frisando que «é um investimento no futuro, porque amanhã, aquela criança pode ser um grande homem e dar a volta a este país».
«E por que não um cigano?», questionou.
Lusa / SOL


