Luís Henrique Oliveira, in Jornal de Notícias
Autarcas de três freguesias pedem lares e centros de dia para dar mais apoio
Três freguesias de Viana do Castelo contam mais de 700 idosos, muitos deles a sobreviver "com várias dificuldades". A afirmação é do movimento que promoveu uma manifestação com vista à criação de um lar que sirva Lanheses, Torre e Vila Mou.
É dos mais gritantes casos de idosos a sobreviver sem o mínimo de condições naquelas localidades. Segundo Filipe Costa, autarca de Vila Mou, uma octogenária, que não tem família, sobrevive da caridade dos vizinhos, numa casa em que tudo falta. "A casa onde vive, se é que lhe podemos assim chamar, não tem água, luz eléctrica ou casa de banho. Se existisse um lar, seria essa a resposta para esta idosa", assinalou, observando tratar-se de uma situação "preocupante", que há muito a Junta "quer ver solucionada".
Segundo o responsável, "há outros casos" na pequena localidade, situada a meio caminho entre Viana do Castelo e Ponte de Lima, considerando "da máxima importância" a criação de um apoio domiciliário destinado aos idosos que se encontram sozinhos. "Pessoas há que estão sozinhas e que, infelizmente, não reúnem mais condições para tal, pelo que, uma valência como o apoio domiciliário seria de vital importância", vincou.
Idosos em condições "difíceis"
Autarca de Torre, Joaquim Araújo comunga da opinião, dando conta que, na localidade a cujos destinos preside, "existem casos de idosos a sobreviver em condições difíceis". Homólogo de Lanheses, Ezequiel Vale junta a sua voz à da comissão que reivindica pela criação, na freguesia, de equipamento que compreenda tanto um lar como um centro de dia e apoio domiciliário. "De acordo com um levantamento feito pela comissão social, trata-se de uma estrutura que está no topo das prioridades", acentuou, assinalando que, enquanto o imóvel não nasce, a autarquia, em parceria com a Câmara e a Segurança Social, "vai atendendo às situações mais complicadas, com obras e, mesmo, géneros alimentícios".
Segundo avançou já a vereadora do pelouro da Acção Social da Câmara vianense, Margarida Silva, os lares de idosos contam-se entre os equipamentos sociais cuja falta mais é sentida no concelho. Dentro de um ano, espera a Câmara ter concluída a Carta Municipal de Equipamentos Sociais, documento que tem por meta perspectivar a distribuição das estruturas de apoio num horizonte temporal de dez anos.
"No lar não me sentiria tão só como aqui "
Maria de Lurdes Ferreira, 70 anos
É com os olhos marejados que Lurdes Ferreira, de 70 anos, se refere à sua situação. Há meia dúzia de anos, uma associação de Lanheses, freguesia onde vive, beneficiou a casa onde nasceu e onde ainda reside, dotando-a de uma nova cobertura e de uma casa de banho, divisão que, até então, simplesmente não existia. Mas as carências, afiança com dificuldade, não se esgotam nos bens materiais: "De longe a longe, aparecem cá uns sobrinhos, para me ver. Passam algum tempo comigo. De resto, os dias passo-os todos aqui sozinha. E é difícil. Às vezes, muito difícil", deixa escapar, com a emoção estampada no rosto, afiançando que, pela companhia de outras pessoas, trocava, de bom grado, a casa que a viu nascer por um lar. "Gostaria muito", garante a septuagenária, reformada pela Casa do Povo, que vive sozinha desde a morte dos pais, há mais de duas décadas. "Gosto de cá estar. Habituei-me, há já muito tempo. Mas, dias há em que é difícil. Digo-lhe. No lar, poderia sempre falar com outras pessoas. Assim, não me sentiria tão só", desabafa.
"Não tenho água na casa de banho"
Marta das Dores Ramos, 92 anos
É no lugar de Outeiro, o mais envelhecido da freguesia de Lanheses, onde reside Marta Ramos. A casa onde nasceu, há 92 anos, tem água corrente. E casa de banho. Contudo, a casa de banho não tem água corrente. "Disseram-me que, para isso, precisavam de fazer algumas obras e que eu teria de as pagar. Como não tenho dinheiro para pagar, ficaram por fazer", evidencia, bem disposta, a nonagenária. A casa, situada a dois passos da capela de S. Frutuoso, no centro do Largo de Outeiro, evidencia os sinais do tempo. Ali, Marta Ramos passa os seus dias sozinha. "Tenho umas sobrinhas que passam por cá e dão-me uma mão em muitas coisas. Enquanto elas vierem por aqui, não gostaria de deixar a minha casa", enfatiza, confidenciando que gostaria de poder contar "com alguma ajuda, para as coisas de casa". Com um sorriso no rosto, aludiu, a propósito, à medicação que coloca nos olhos: "Como, na maior parte das vezes não tenho quem a ponha, metade vai para o chão. Mas olhe, antes assim. É sinal de que ainda a consigo pôr".


