Ana Brito, in Público on-line
Quem são os empreendedores sociais portugueses? O que fazem e com que meios? Em que sectores actuam? Como conseguem transformar recursos escassos em projectos que mobilizam comunidades, respondem a necessidades sociais e são sustentáveis economicamente? É em busca dessas respostas que os investigadores do MIES - Mapa de Inovação e Empreendedorismo Social (desenvolvido pelo IES em parceria com o IPAV) percorrem centenas de quilómetros de carro nas regiões do Norte, Centro e Alentejo e fazem milhares de entrevistas presenciais e telefónicas nas quais procuram identificar modelos de negócio inovadores e social e ambientalmente transformadores.
Os primeiros resultados do levantamento deverão surgir no primeiro semestre de 2014, permitindo divulgar pelo menos 168 iniciativas com elevado potencial de inovação, disse ao PÚBLICO a coordenadora do mapeamento, Mafalda Sarmento. Neste momento, o MIES tem várias fases a decorrer em paralelo através da metodologia de pesquisa ES +, criada em parceria com professores do INSEAD, ISCTE, Universidade Católica do Porto e de um doutorando da Universidade de Lancaster. É através das comunidades locais e dos seus “observadores privilegiados”, que os investigadores fazem um primeiro levantamento de iniciativas relevantes. “São pessoas com conhecimento das regiões, que podem pertencer a fundações, associações, aos serviços da segurança social ou podem ser a senhora da mercearia que faz voluntariado há muitos anos, ou mesmo o padre da aldeia”. Depois há telefonemas de despiste aos líderes das iniciativas referenciadas (sejam da sociedade civil, de entidades públicas ou privadas, individuais ou colectivas, com ou sem fins lucrativos) e, finalmente, a entrevista aprofundada (cerca de duas horas e meias), que decide se o projecto passa à lista dos selecionados. Para isso tem de responder a quatro critérios base: resolver problemas sociais e ou ambientais negligenciados; ser transformador da sociedade nesses domínios; utilizar modelos de negócio inovadores e ter potencial de crescimento e/ou replicação noutro local geográfico. “Os que procuramos são aqueles que com muito pouco conseguem fazer muito, esses é que são verdadeiramente inovadores”, refere a coordenadora do MIES.
Mafalda Sarmento nota que o “Norte está mais sensibilizado para o empreendedorismo social, mas conta também com mais entidades de apoio, como incubadoras e universidades”. Já o Alentejo “tem vindo a fazer uma grande caminhada” e tem na Fundação Eugénio de Almeida, de Évora, uma “grande referência”. Nesta região, em que o MIES (financiado pelas fundações Gulbenkian e EDP e pelo programa Compete) já tem mais dados tratados, os projectos foram identificados essencialmente nas áreas da educação e formação, envelhecimento e apoio ao desenvolvimento e à participação civil e comunitária.
As iniciativas têm ainda de passar pelo crivo do Conselho Académico Consultivo do IES, que seleciona as que podem levar o carimbo ES +. Os empreendedores podem beneficiar do acompanhamento do IES através de formações específicas e, simultaneamente, ganham um estatuto de projectos economicamente sustentáveis que também garante maior credibilidade junto de potenciais investidores sociais. Estabelecer pontes entre empreendedores e potenciais financiadores será, aliás, uma das prioridades do IES para o próximo ano.
Além de dar visibilidade aos bons projectos, o MIES quer também que as iniciativas que “não passam a fase de inquérito, mas ficam inseridas na plataforma”, tenham acesso a um diagnóstico que permita reconhecer as “características fatais”, dando-lhes oportunidade de melhorarem. Ao tirar esta radiografia ao sector do empreendedorismo social em Portugal, o mapa irá também permitir identificar os principais problemas e corrigi-los de raiz, explica a investigadora. Mas o MIES não quer ficar por aqui e já esta a procurar financiamento para realizar o levantamento em Lisboa e Vale do Tejo, Algarve e Ilhas, para que o retrato da inovação e do empreendedorismo social em português fique mais completo