Por António Ribeiro Ferreira, in iOnline
Novo índice do INE revela que o bem-estar das famílias melhorou até 2011 com menos rendimentos. O pior veio a seguir. E falta ainda 2013
Os rendimentos das famílias estão em queda livre e já baixaram dos níveis verificados em 2004. Segundo o INE, partindo do ano-base de 2004 com o índice 100, em 2011 esse valor baixou para 89,2. Mas se as condições materiais evoluíram negativamente entre 2004 e 2011, a qualidade de vida apresentou uma "evolução continuamente positiva". É o que revela novo índice de bem-estar para Portugal (IBE). Com a crise instalada e a troika em Portugal, os sucessivos pacotes de austeridade agravaram ainda mais a estranha equação registada entre 2004 e 2011. E os primeiros dados só referentes a 2012 levam o INE a prever que as condições materiais das famílias portuguesas voltem a baixar. É natural que na análise do próximo ano, já com elementos referentes a 2013, a situação piore de forma significativa e afecte tanto a qualidade de vida, o chamado bem-estar, como as condições materiais, que podem levar Portugal para níveis próximos dos de 2002, ano da entrada no euro.
IBE vai ser anual Realizado pela primeira vez, o estudo foi de- senvolvido ao longo dos últimos três anos e abrange o período de 2004 a 2011, apresentando resultados preliminares para 2012, sendo objecto de actualização e divulgação anual.
Vamos então aos números do INE. O IBE "evoluiu positivamente" entre 2004 e 2011, atingindo o valor de 108,1 em 2011, estimando-se uma redução para 107,6 em 2012 devido à "quebra das condições materiais de vida".
Trabalho e salário a cair Dos dez domínios que integram o índice, o trabalho e remuneração e a vulnerabilidade económica foram os que apresentaram a "evolução mais desfavorável", ao contrário da educação, da saúde e do ambiente, que apresentam a evolução mais favorável. As duas perspectivas de análise do bem-estar - os índices sintéticos "condições materiais de vida" e "qualidade de vida" - evoluíram em sentidos opostos, com o primeiro a evidenciar uma tendência decrescente, que se acentuou de 2010 para 2012, e o segundo a apresentar uma tendência crescente. O índice das condições materiais de vida atingiu o valor de 89,2 em 2011 (na comparação com o ano-base de 2004 = 100), enquanto o da qualidade de vida atingiu em 2011 o valor de 116,2.
2012 piora tudo Os dados preliminares de 2012 "reforçam esse contraste": o índice das condições materiais de vida - que avalia o bem-estar económico dos portugueses, a vulnerabilidade económica, trabalho e remuneração - "teve novo agravamento com uma desvalorização de 13,2 pontos percentuais entre 2004 e 2012".
A evolução positiva da qualidade de vida entre 2004 /2008 (9,5 pontos percentuais) continuou no período 2008/2012, mas com menor intensidade (7,0 p. p.), estimando-se para 2012 uma variação de 16,5 p. p. face ao ano-base de 2004. Saúde, balanço vida-trabalho, relações sociais, participação cívica, segurança pessoal e ambiente são os indicadores avaliados neste índice. A vulnerabilidade económica é a que apresenta "a evolução mais desfavorável", traduzindo "uma progressiva vulnerabilidade das famílias fortemente induzida" pelo seu afastamento do mercado de trabalho, pelos elevados níveis de endividamento e pela intensificação da dificuldade em pagar os compromissos com a habitação. É o empobrecimento geral. Com Lusa