por Maria João Costa, in RR
“Com a entrada na Europa pensávamos que tínhamos entrado para um hotel de primeira classe", afirma o ensaísta Eduardo Lourenço, para quem a crise chegou como um tsunami.
O ensaísta Eduardo Lourenço considera que Portugal é um país humilhado e defende que a soberania está nas mãos de cada um dos portugueses, mesmo num momento singular como o actual.
“Estamos numa situação singular porque, do ultimato até hoje, foi raro que nós tivéssemos no nosso país uma situação tão humilhante, objectivamente falando”, afirma Eduardo Lourenço, que esta terça-feira participou num debate em torno da soberania, em Lisboa, organizado pelo Clube Português de Imprensa, o Centro Nacional de Cultura e o Grémio Literário.
E neste Portugal “humilhado” todos anseiam por uma saída: “Estamos todos à espera que algum milagre à portuguesa ou não portuguesa se realize e que a coisa seja menos dramática do que nós estamos a viver neste tempo. Neste tempo a situação não é famosa, efectivamente”.
Eduardo Lourenço lembra que Portugal está na Europa, não é uma ilha e tem soberania. O ensaísta defende que “os valores, as perspectivas que cada individuo numa sociedade moderna almeja que se realizem, passam por cada um dos cidadãos, não por uma classe política privilegiada que vai, miraculosamente, resolver por nós os problemas que todos nós devemos resolver”.
A soberania tem sido defendida através das manifestações de rua e da contestação, na análise do ensaísta que faz as contas à crise a que chama “tsunami”.
“Com a entrada na Europa pensávamos que tínhamos entrado para um hotel de primeira classe com que sonhámos desde sempre e andámos nessa primeira classe, mas não percebemos que isso tinha de ser pago de alguma maneira e que podia acontecer qualquer coisa. Esta crise não é, fundamentalmente, europeia, é uma crise do tipo universal que a Europa, num certo momento, apanhou este tsunami que nos vem de fora”, concluiu.