Por Marta F. Reis, in iOnline
800 voluntários correram Lisboa para sinalizar sem-abrigo. Vimos a rua pelos olhos de João Paulo e Cláudio
“Isto é aquele trabalho de contar os sem-abrigo?” João Paulo, há dois anos a viver na rua, apresenta-se numa esquina do Cais Sodré ao ver passar um grupo com duas câmaras de televisão. “Mas é só tirar notas e andar? Estava à espera de falar um bocado.” Conversa com arte para nos prender enquanto os voluntários da iniciativa promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que na quinta-feira à noite percorreram as ruas de Lisboa para sinalizar locais de pernoita e contar as pessoas a dormir na rua, prosseguem caminho. Primeiro histórias de deputados ou até que foi colega do ex-primeiro-ministro, depois o que importa mesmo: o tempo que passa a pedir para arranjar medicamentos, os técnicos bons e os maus que os atrapalham, o desperdício de comida que lhe mete nojo, porque na rua há quem não tenha de se levantar para receber várias marmitas por noite e por isso se dá ao luxo de deitar fora o que não gosta enquanto outros passam fome.
Aos 47 anos, diz que já teve um AVC, tem problemas de epilepsia e outras coisas da cabeça. E depois há o álcool, que não mete no rol de doenças, talvez por achar que não se cura com os comprimidos de nomes complicados que sabe de cor. “Que quer que eu faça se chego ao final do dia e estou triste?”. Diz-se maltratado em instituições onde até trabalhou, traído pela mulher no Brasil.