15.9.21

Maioria dos exercícios para apoio às aprendizagens são de nível médio ou elevado

Clara Viana, in Público on-line

Instituto de Avaliação Educativa lança plataforma com itens retirados dos exames e dos testes internacionais para apoiar plano de recuperação das aprendizagens. Embora de acesso livre, é mais direccionada aos professores.

A maioria dos exercícios que o Instituto de Avaliação Educativa (Iave) já disponibilizou para apoiar a recuperação das aprendizagens são de nível médio e superior no que respeita à sua “complexidade cognitiva”. É o que se passa com 15 dos 19 exercícios que se encontram por agora disponíveis na plataforma ITENS S.A. - Explorar os Itens da Avaliação Externa em Sala de Aula, lançada nesta segunda-feira pelo Iave, que é o organismo responsável pela elaboração e classificação dos exames e provas nacionais.

Por enquanto, ainda só existem 19 itens relativos a provas nacionais que foram realizadas por alunos do ensino básico e outros 16 provenientes do PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study) um estudo internacional sobre literacia dirigido a alunos do 4.º ano.

O Iave promete que nesta primeira fase irão ser disponibilizados “cerca de meia centena de itens dos três ciclos do ensino básico, nas áreas disciplinares de Português, Matemática, Estudo do Meio, Português Língua Não Materna, Expressões Artísticas e Educação Física”. Serão também apresentados mais itens retirados “de estudos internacionais em que Portugal participa”, como o PISA ((Programme for International Student Assessment) destinado a avaliar a literacia dos alunos de 15 anos ou o TIMSS (Trends in International Mathematics and Science Study), que avalia os alunos do 4.º ano nas áreas de Matemática e Ciências.

“Numa segunda fase, serão integrados na plataforma itens pertencentes às disciplinas do ensino secundário sujeitas a avaliação externa”, acrescenta o Iave. O objectivo anunciado é que todos estes exercícios “possam ser explorados pedagogicamente em sala de aula para diagnosticar o estado das aprendizagens dos alunos, nomeadamente dos conhecimentos e das competências que apresentem maiores fragilidades e que seja necessário apoiar”. E assim ajudar no plano de recuperação que estará em vigor até 2023, destinado essencialmente a suprir as aprendizagens que ficaram em défice devido ao encerramento das escolas por causa da pandemia.
Défices antigos

Mas os exercícios apresentados apontam também para défices mais antigos. Por exemplo, em metade dos 16 itens retirados da edição do PIRLS de 2016 os alunos portugueses tiveram classificações abaixo dos 50% e em dois destes não foram além dos 11%. São exercícios que apelam sobretudo ao raciocínio e à construção de respostas, domínios que repetidamente têm sido apontados como críticos na performance dos alunos portugueses. As melhores classificações, como geralmente sucede, são as fornecidas pelas questões de escolha múltipla.

Já no que respeita aos itens retirados das provas de aferição nacionais, o Iave optou por não apresentar as classificações obtidas pelos alunos uma vez que as características desta avaliação são “mais de âmbito formativo e qualitativo”. Por agora são a maioria. Neste caso, apenas se indica o “nível de complexidade cognitiva” dos itens: 1 (inferior, a reprodução de conhecimentos), 2 (médio, aplicar e interpretar) e 3 (superior, raciocinar e criar).

Nos itens retirados de provas e exames nacionais é apresentada a classificação que os alunos obtiveram. Só ainda estão três disponíveis que foram retirados do último exame de Matemática do 9.º ano, feito em 2019. Nos dois anos de pandemia estas provas não se realizaram. As cotações oscilaram entre 11% e 57%.

Em respostas ao PÚBLICO, o Iave refere que a escolha dos itens é feita pelas equipas do instituto, “de acordo com os objectivos da plataforma”. “A plataforma ITENS S.A. pretende disponibilizar itens das várias áreas disciplinares que avaliam vários conteúdos e competências consideradas importantes para as aprendizagens dos alunos. Pretende-se também apresentar itens de tipologias e formatos variados”, acrescenta.

Em todos os itens apresentados, o Iave esclarece que “complexidade não é sinónimo de dificuldade”. Razões? “A complexidade tem a ver com o processo cognitivo que é requerido para a realização da tarefa ou do item da avaliação. É definida durante o processo de construção” destes. No que respeita à dificuldade “pode e deve ser estimada, mas só é possível determinar com exactidão depois da aplicação do instrumento/tarefa, através dos resultados obtidos”.

O Iave especifica também que a plataforma, embora seja de acesso livre, é “mais direccionada a professores”.