Por Lusa, in Público online
Centros de recursos para a inclusão também viram o apoio reforçado. Medidas foram aprovadas no Conselho de Ministros desta quinta-feira.
O Ministério da Educação anunciou esta sexta-feira um reforço do apoio financeiro às escolas do ensino profissional, permitindo o aumento do número de alunos, bem como aos centros de recursos para a inclusão. Este reforço foi aprovado na quinta-feira em reunião do Conselho de Ministros.
No caso do ensino profissional, foi autorizada a despesa relativa aos apoios decorrentes da celebração de contratos-programa com escolas privadas nas regiões da Área Metropolitana de Lisboa e do Algarve, refere o Ministério da Educação em comunicado.
Num valor global de 59 milhões, a despesa corresponde a um aumento de cerca de 8%, incluindo a reposição de 5% referentes a cortes durante o período da troika e 3% de aumento adicional que, segundo a tutela, permitirá o aumento do número de alunos a frequentar o ensino profissional.
“A reposição deste corte responde a uma reivindicação das escolas que leccionam cursos profissionais e dos seus representantes e consolida também o caminho feito desde 2015 de valorização desta via de ensino, que se constitui como um percurso do ensino secundário que responde cada vez mais aos perfis dos alunos e às necessidades de qualificação dos jovens e dos territórios”, refere o Ministério.
Quanto aos centros de recursos para a inclusão, o Conselho de Ministros autorizou a despesa num valor que ascende a cerca de 13 milhões no âmbito dos contratos de cooperação celebrados para o próximo ano lectivo.
O valor, que não era actualizado há vários anos, é agora reforçado em cerca de 25%. Para o Ministério da Educação, é “mais um passo no cumprimento do acordo com os parceiros sociais e, sobretudo, uma resposta mais robusta no apoio aos alunos com necessidades educativas específicas que beneficiarão de mais apoios terapêuticos”.
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11.8.23
10.1.23
Quase um quarto dos alunos abandona cursos superiores profissionais
Samuel Silva, in Público online
Falhas na orientação vocacional e atracção do mercado de trabalho ajudam a explicar fenómeno. “Via verde” para diplomados do ensino profissional continua com pouca procura.
Quase um quarto dos alunos inscritos em cursos técnicos superiores profissionais (Ctesp) abandonaram os estudos antes de concluírem estas formações, que duram dois anos e são oferecidas em exclusivo no sector politécnico. Os responsáveis das instituições e os estudantes concordam que há falhas na orientação vocacional e alguns alunos acabam em cursos de que não gostam. O mercado de trabalho é, para muitos, mais atraente do que a formação no curto prazo.
Os dados mais recentes dizem respeito ao ano lectivo 2020/21 e foram divulgados pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) no mês passado. Em 2020/21, 24% dos estudantes inscritos pela primeira vez no primeiro ano dos Ctesp já não se encontrava no ensino superior no ano seguinte. Este é o indicador oficial mais fiável e que tem sido usado para medir o abandono escolar no ensino superior. No mesmo ano, a taxa de abandono nas licenciaturas fixou-se nos 11%.
Os números da DGEEC revelam que houve um aumento do abandono nos dois anos lectivos atingidos pela covid-19: a taxa foi de 19% em 2019/20, ao passo que, nos dois anos anteriores, ficou em 17%. “Não se pode deixar de considerar os efeitos da pandemia”, contextualiza o presidente da Federação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico (FNAEESP), João Pedro Pereira, mas o abandono nos Ctesp já antes era elevado.
O dirigente aponta falhas na orientação vocacional nas escolas secundárias e profissionais, que fazem com que muitos dos seus colegas “acabem em cursos de que não gostam”. “Alguns são quase empurrados pelos seus professores para fazerem um Ctesp só porque isso lhes dá acesso a mais um estágio”, comenta ainda o presidente da FNAEESP. Os dados da DGEEC mostram que, além dos 24% de alunos que desistem de estudar, há mais 9% que optam por mudar de curso um ano após o início da formação.
A presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Maria José Fernandes, concorda que existem problemas na orientação destes alunos. “Muitos deles não sabem ao certo o que pretendem fazer”, admite esta responsável, defendendo que as instituições de ensino superior devem trabalhar melhor no acompanhamento dos alunos.
O acesso aos Ctesp é feito por concursos locais. Ou seja, os alunos candidatam-se directamente junto do politécnico onde pretendem estudar, ao contrário do que acontece nas licenciaturas, às quais a maioria dos estudantes acede através do concurso nacional de acesso, que é centralizado.
As soluções para os problemas de orientação e abandono dos Ctesp devem, por isso, “ser tomadas localmente”, defende Maria José Fernandes. Por exemplo, o Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, que dirige, colocou, na página de candidaturas aos cursos técnicos superiores do seu site, um questionário acerca dos interesses dos alunos, destinado a dar-lhes algum tipo de orientação nas escolhas.
Aos problemas com a orientação vocacional, junta-se a “concorrência” das empresas, sobretudo no caso dos alunos que chegam aos Ctesp com um diploma do ensino profissional nas mãos. “Da maneira que está o mercado de trabalho, é fácil arranjar um emprego e isso desvia estes estudantes”, considera a presidente do CCISP, uma posição secundada pelo líder da FNAEESP e também pelo presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior (CNAES), Fontainhas Fernandes.
Competição interna
Os Ctesp, com a duração de dois anos, são uma oferta de ensino superior com uma componente prática, implicando sempre um período de trabalho em contexto de empresa. Foram introduzidos em 2014/15 e, desde então, não têm parado de crescer. No ano lectivo 2020/21, ao qual dizem respeito os dados divulgados pela DGEEC, havia 9394 estudantes inscritos nestas formações, mais 841 do que no ano anterior. No ano lectivo em curso, foram colocados 9840 alunos, segundo dados disponibilizados ao PÚBLICO pelo CCISP. Foram ocupadas 76,4% das vagas disponíveis num total de 507 cursos.
Ao contrário dos Ctesp, que têm tido procura crescente, o concurso especial de acesso para diplomados em vias profissionalizantes, introduzido em 2020 para facilitar ao acesso a uma licenciatura dos alunos do ensino profissional, continua a ter pouca procura.
Matricularam-se no ensino superior 874 estudantes por esta via, neste ano lectivo. Ou seja, foram ocupadas pouco mais de um terço (35,8%) das vagas existentes. Também este ano, houve cerca de 4500 diplomados do ensino profissional a entrar numa licenciatura através do concurso nacional de acesso, que os obriga a fazer exames nacionais sobre matérias que podem não ter estudado nos seus cursos.
A maioria dos alunos do Ctestp são provenientes do ensino profissional e muitos (cerca de 1600 no ano passado) acabam por prosseguir estudos para uma licenciatura, apesar de não terem sido originalmente criados com esse intuito. Por isso, o ingresso nos cursos técnicos superiores e o concurso especial para as vias profissionalizantes acabam por “concorrer entre si” pelos mesmos alunos, admite a presidente do CCISP, Maria José Fernandes.
A líder dos politécnicos entende, ainda assim, que as duas vias devem continuar a coexistir. Para isso, é necessário “melhorar a articulação do ensino secundário e profissional com o ensino superior” e fazer uma “maior divulgação” do concurso especial destinado aos diplomados dos cursos profissionais, entende.
Estas eram também as recomendações feitas ao Governo, no Verão, por um grupo de trabalho, nomeado ainda pelo anterior ministro, Manuel Heitor, sobre o acesso ao ensino superior, e que foi liderado pelo presidente da CNAES, Fontainhas Fernandes.
O ensino superior nacional “precisa de atrair mais alunos do ensino profissional”, até para compensar os efeitos da quebra demográfica no número de estudantes que fazem uma licenciatura, considera aquele responsável. O caminho deve “passar por uma especialização” das instituições de ensino superior, que tenha em conta as características das regiões onde se localizam.
Falhas na orientação vocacional e atracção do mercado de trabalho ajudam a explicar fenómeno. “Via verde” para diplomados do ensino profissional continua com pouca procura.
Quase um quarto dos alunos inscritos em cursos técnicos superiores profissionais (Ctesp) abandonaram os estudos antes de concluírem estas formações, que duram dois anos e são oferecidas em exclusivo no sector politécnico. Os responsáveis das instituições e os estudantes concordam que há falhas na orientação vocacional e alguns alunos acabam em cursos de que não gostam. O mercado de trabalho é, para muitos, mais atraente do que a formação no curto prazo.
Os dados mais recentes dizem respeito ao ano lectivo 2020/21 e foram divulgados pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) no mês passado. Em 2020/21, 24% dos estudantes inscritos pela primeira vez no primeiro ano dos Ctesp já não se encontrava no ensino superior no ano seguinte. Este é o indicador oficial mais fiável e que tem sido usado para medir o abandono escolar no ensino superior. No mesmo ano, a taxa de abandono nas licenciaturas fixou-se nos 11%.
Os números da DGEEC revelam que houve um aumento do abandono nos dois anos lectivos atingidos pela covid-19: a taxa foi de 19% em 2019/20, ao passo que, nos dois anos anteriores, ficou em 17%. “Não se pode deixar de considerar os efeitos da pandemia”, contextualiza o presidente da Federação Nacional de Associações de Estudantes do Ensino Superior Politécnico (FNAEESP), João Pedro Pereira, mas o abandono nos Ctesp já antes era elevado.
O dirigente aponta falhas na orientação vocacional nas escolas secundárias e profissionais, que fazem com que muitos dos seus colegas “acabem em cursos de que não gostam”. “Alguns são quase empurrados pelos seus professores para fazerem um Ctesp só porque isso lhes dá acesso a mais um estágio”, comenta ainda o presidente da FNAEESP. Os dados da DGEEC mostram que, além dos 24% de alunos que desistem de estudar, há mais 9% que optam por mudar de curso um ano após o início da formação.
A presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), Maria José Fernandes, concorda que existem problemas na orientação destes alunos. “Muitos deles não sabem ao certo o que pretendem fazer”, admite esta responsável, defendendo que as instituições de ensino superior devem trabalhar melhor no acompanhamento dos alunos.
O acesso aos Ctesp é feito por concursos locais. Ou seja, os alunos candidatam-se directamente junto do politécnico onde pretendem estudar, ao contrário do que acontece nas licenciaturas, às quais a maioria dos estudantes acede através do concurso nacional de acesso, que é centralizado.
As soluções para os problemas de orientação e abandono dos Ctesp devem, por isso, “ser tomadas localmente”, defende Maria José Fernandes. Por exemplo, o Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, que dirige, colocou, na página de candidaturas aos cursos técnicos superiores do seu site, um questionário acerca dos interesses dos alunos, destinado a dar-lhes algum tipo de orientação nas escolhas.
Aos problemas com a orientação vocacional, junta-se a “concorrência” das empresas, sobretudo no caso dos alunos que chegam aos Ctesp com um diploma do ensino profissional nas mãos. “Da maneira que está o mercado de trabalho, é fácil arranjar um emprego e isso desvia estes estudantes”, considera a presidente do CCISP, uma posição secundada pelo líder da FNAEESP e também pelo presidente da Comissão Nacional de Acesso ao Ensino Superior (CNAES), Fontainhas Fernandes.
Competição interna
Os Ctesp, com a duração de dois anos, são uma oferta de ensino superior com uma componente prática, implicando sempre um período de trabalho em contexto de empresa. Foram introduzidos em 2014/15 e, desde então, não têm parado de crescer. No ano lectivo 2020/21, ao qual dizem respeito os dados divulgados pela DGEEC, havia 9394 estudantes inscritos nestas formações, mais 841 do que no ano anterior. No ano lectivo em curso, foram colocados 9840 alunos, segundo dados disponibilizados ao PÚBLICO pelo CCISP. Foram ocupadas 76,4% das vagas disponíveis num total de 507 cursos.
Ao contrário dos Ctesp, que têm tido procura crescente, o concurso especial de acesso para diplomados em vias profissionalizantes, introduzido em 2020 para facilitar ao acesso a uma licenciatura dos alunos do ensino profissional, continua a ter pouca procura.
Matricularam-se no ensino superior 874 estudantes por esta via, neste ano lectivo. Ou seja, foram ocupadas pouco mais de um terço (35,8%) das vagas existentes. Também este ano, houve cerca de 4500 diplomados do ensino profissional a entrar numa licenciatura através do concurso nacional de acesso, que os obriga a fazer exames nacionais sobre matérias que podem não ter estudado nos seus cursos.
A maioria dos alunos do Ctestp são provenientes do ensino profissional e muitos (cerca de 1600 no ano passado) acabam por prosseguir estudos para uma licenciatura, apesar de não terem sido originalmente criados com esse intuito. Por isso, o ingresso nos cursos técnicos superiores e o concurso especial para as vias profissionalizantes acabam por “concorrer entre si” pelos mesmos alunos, admite a presidente do CCISP, Maria José Fernandes.
A líder dos politécnicos entende, ainda assim, que as duas vias devem continuar a coexistir. Para isso, é necessário “melhorar a articulação do ensino secundário e profissional com o ensino superior” e fazer uma “maior divulgação” do concurso especial destinado aos diplomados dos cursos profissionais, entende.
Estas eram também as recomendações feitas ao Governo, no Verão, por um grupo de trabalho, nomeado ainda pelo anterior ministro, Manuel Heitor, sobre o acesso ao ensino superior, e que foi liderado pelo presidente da CNAES, Fontainhas Fernandes.
O ensino superior nacional “precisa de atrair mais alunos do ensino profissional”, até para compensar os efeitos da quebra demográfica no número de estudantes que fazem uma licenciatura, considera aquele responsável. O caminho deve “passar por uma especialização” das instituições de ensino superior, que tenha em conta as características das regiões onde se localizam.
11.7.22
Um em cada 10 alunos do ensino profissional abandona a escola
Dados são do Ministério da Educação.
Um em cada dez alunos que frequentavam o ensino profissional abandonou os estudos em 2020 antes de acabar o curso, mas quase 70% das escolas conseguiram que os seus estudantes o terminassem no tempo esperado.
As conclusões resultam de uma análise feita pela agência Lusa, com base em dados divulgados pelo Ministério da Educação que permitem acompanhar o percurso dos alunos que em 2017/2018 seguiram do 3.º ciclo para o ensino profissional.
Num universo de 31.550 estudantes, cerca de 3.700 não chegaram ao final do curso e acabaram por abandonar a escola antes do tempo.
O número representa 12% dos alunos que tinham entrado no ensino profissional três anos antes, mas regista também uma ligeira descida de 0,7 pontos percentuais em relação ao ano letivo anterior.
Apesar desses casos, num universo de 695 escolas, a maioria (67,5%) conseguiu que pelo menos metade dos seus alunos terminasse o curso no tempo esperado.
Em 154 estabelecimentos de ensino, a taxa de sucesso foi de, pelo menos, 80% dos seus alunos, e houve até duas em que o feito foi conseguido por todos os estudantes: a escola Pedro Álvares Cabral, em Belmonte, e a escola António Nobre, no Porto.
Em sentido contrário, houve três escolas em que nenhum dos alunos concluiu, naquele ano, o curso no tempo esperado.
Comparando, por outro lado, com a média nacional das escolas cujos alunos tinham um perfil semelhante ao ingressarem no profissional, em termos de idade e de apoios, em mais de metade foram superadas, ou pelo menos igualadas, as expectativas.
Houve, no entanto, 239 escolas que ficaram abaixo da média nacional.
As bases de dados permitem ainda identificar as escolas que nos últimos três anos letivos estiveram sempre a melhorar as percentagens de alunos que conseguiram concluir os cursos no tempo esperado. Foram 223, enquanto em 42 o indicador piorou a cada ano letivo.
Através de um outro critério, introduzido no ano passado pelo Ministério da Educação, é igualmente possível fazer uma análise semelhante olhando para os alunos mais carenciados e em 2019/2020 houve um grupo de 124 escolas onde, pelo menos, metade terminou o curso em três anos e 90 que superaram a média nacional.
Média nacional
Neste caso, a média nacional é calculada tendo por base os alunos do país que, ao entrarem no ensino secundário profissional, tinham um perfil semelhante em termos de idade, apoios, habilitação da mãe e categoria da escola relativamente à percentagem de alunos com ação social escolar.
Essa comparação permite aferir o nível de "equidade" nas escolas, e a esse nível destaca-se o agrupamento de escolas Coimbra Oeste, que conseguiu que que 91% dos seus alunos com ação social escolar concluíssem o curso profissional nos três anos.
A nível nacional, foram apenas 55% os alunos com percursos semelhantes que conseguiram um feito semelhante.No que toca a garantir o sucesso académico dos alunos carenciados, seguem-se no topo deste 'ranking' escolas de Fernão do Pó, Bombarral, e Coelho e Castro, em Santa Maria da Feira, onde quase nove em cada dez estudantes carenciados fizeram o secundário em três anos, fixando-se 30 e 28 pontos percentuais acima da média, respetivamente.
Cursos mais populares
À semelhança dos anos anteriores, os cursos de Ciências Informáticas continuam a ser os mais populares, com mais de 15 mil estudantes, seguindo-se os de Hotelaria e restauração (cerca de 12 mil alunos), Áudiovisuais e Produção dos média, Desporto, e Turismo e lazer, estes três com mais de 10 mil inscritos em 2019/2020.
Por outro lado, os cursos ligados à Arquitetura e Urbanismo eram os menos aliciantes, com apenas 15 alunos), à semelhança das áreas do Artesanato (27 alunos) e Floricultura e jardinagem (33 alunos).
Um em cada dez alunos que frequentavam o ensino profissional abandonou os estudos em 2020 antes de acabar o curso, mas quase 70% das escolas conseguiram que os seus estudantes o terminassem no tempo esperado.
As conclusões resultam de uma análise feita pela agência Lusa, com base em dados divulgados pelo Ministério da Educação que permitem acompanhar o percurso dos alunos que em 2017/2018 seguiram do 3.º ciclo para o ensino profissional.
Num universo de 31.550 estudantes, cerca de 3.700 não chegaram ao final do curso e acabaram por abandonar a escola antes do tempo.
O número representa 12% dos alunos que tinham entrado no ensino profissional três anos antes, mas regista também uma ligeira descida de 0,7 pontos percentuais em relação ao ano letivo anterior.
Apesar desses casos, num universo de 695 escolas, a maioria (67,5%) conseguiu que pelo menos metade dos seus alunos terminasse o curso no tempo esperado.
Em 154 estabelecimentos de ensino, a taxa de sucesso foi de, pelo menos, 80% dos seus alunos, e houve até duas em que o feito foi conseguido por todos os estudantes: a escola Pedro Álvares Cabral, em Belmonte, e a escola António Nobre, no Porto.
Em sentido contrário, houve três escolas em que nenhum dos alunos concluiu, naquele ano, o curso no tempo esperado.
Comparando, por outro lado, com a média nacional das escolas cujos alunos tinham um perfil semelhante ao ingressarem no profissional, em termos de idade e de apoios, em mais de metade foram superadas, ou pelo menos igualadas, as expectativas.
Houve, no entanto, 239 escolas que ficaram abaixo da média nacional.
As bases de dados permitem ainda identificar as escolas que nos últimos três anos letivos estiveram sempre a melhorar as percentagens de alunos que conseguiram concluir os cursos no tempo esperado. Foram 223, enquanto em 42 o indicador piorou a cada ano letivo.
Através de um outro critério, introduzido no ano passado pelo Ministério da Educação, é igualmente possível fazer uma análise semelhante olhando para os alunos mais carenciados e em 2019/2020 houve um grupo de 124 escolas onde, pelo menos, metade terminou o curso em três anos e 90 que superaram a média nacional.
Média nacional
Neste caso, a média nacional é calculada tendo por base os alunos do país que, ao entrarem no ensino secundário profissional, tinham um perfil semelhante em termos de idade, apoios, habilitação da mãe e categoria da escola relativamente à percentagem de alunos com ação social escolar.
Essa comparação permite aferir o nível de "equidade" nas escolas, e a esse nível destaca-se o agrupamento de escolas Coimbra Oeste, que conseguiu que que 91% dos seus alunos com ação social escolar concluíssem o curso profissional nos três anos.
A nível nacional, foram apenas 55% os alunos com percursos semelhantes que conseguiram um feito semelhante.No que toca a garantir o sucesso académico dos alunos carenciados, seguem-se no topo deste 'ranking' escolas de Fernão do Pó, Bombarral, e Coelho e Castro, em Santa Maria da Feira, onde quase nove em cada dez estudantes carenciados fizeram o secundário em três anos, fixando-se 30 e 28 pontos percentuais acima da média, respetivamente.
Cursos mais populares
À semelhança dos anos anteriores, os cursos de Ciências Informáticas continuam a ser os mais populares, com mais de 15 mil estudantes, seguindo-se os de Hotelaria e restauração (cerca de 12 mil alunos), Áudiovisuais e Produção dos média, Desporto, e Turismo e lazer, estes três com mais de 10 mil inscritos em 2019/2020.
Por outro lado, os cursos ligados à Arquitetura e Urbanismo eram os menos aliciantes, com apenas 15 alunos), à semelhança das áreas do Artesanato (27 alunos) e Floricultura e jardinagem (33 alunos).
19.2.21
“A digitalização vai ficar como ferramenta para um ensino presencial mais activo”
Ana Sá Lopes e Eunice Lourenço (Renascença), in Público on-line
A presidente do Conselho Nacional da Educação, Maria Emília Brederode Santos, teme que a pandemia venha a ter efeitos no abandono escolar.
Maria Emília Brederode Santos, a presidente do Conselho Nacional da Educação, acha que a escola digital, mesmo quando voltarem as aulas presenciais, veio para ficar. Na entrevista PÚBLICO/Renascença, que pode ouvir esta quinta-feira às 23 horas, está preocupada com as consequências no abandono escolar.
Já é possível identificar as consequências da pandemia na educação?
Provavelmente já é possível identificar alguns efeitos. Acho que nos demos todos conta do agravamento das desigualdades. De certa maneira, “descobrimos” as desigualdades que já existiam. Foram desocultadas, até parece que ninguém tinha dado por elas antes. Isso tornou-se muito mais evidente agora. Mas além dessa desocultação de uma coisa que já existia, é evidente que também nos demos conta que isto veio agravar as desigualdades. Há uma brecha digital, uma desigualdade perante os dispositivos digitais. Há muitas pessoas que não têm computador, nem acesso à rede. Não basta distribuir computadores, é preciso assegurar que a rede chegue a toda a parte. E sabemos que fora das grandes cidades, a rede não chega a toda a parte. Essa conclusão já se pode tirar. Mas há outras, que até podem ser positivas. Acho que nos demos conta de uma muito maior valorização da educação. Toda a gente está de acordo que a educação é muito importante e é um direito que é preciso assegurar. E eu não tenho a certeza de que, aqui há uns anos, a população portuguesa valorizasse tanto a educação. Isso com a pandemia revelou-se mais.
E há uma revalorização da educação como, pelo menos, equilibrador social, já que nem sempre é elevador.
Sim. E também uma valorização da escola, nas suas várias funções. De repente, a escola não é só para aprender e ensinar. Desempenha imensos papéis. Penso que aquilo de que os miúdos sentem mais falta é o seu papel na socialização, que é muito importante, porque eles também aprendem muito uns com os outros. Mas também o papel de “misturador” social, apesar do nosso urbanismo não ser muito conducente a isso.
Mas há uma maior mistura social do que noutras instituições e um papel de coesão da sociedade. E há um papel de custódia, que está a ser muito evidente com os miúdos pequeninos, para que os pais que estão a trabalhar saibam que há um sítio onde podem deixar os filhos em segurança e a aprender. Um papel também de âncora social, por exemplo, para imigrantes que chegam e não conhecem nada, a escola é um meio de contacto.
Mas não foi um ano perdido, pelo menos para os mais desfavorecidos?
Num contexto mais favorecido, não é desgraça nenhuma que a pessoa perca uns meses. Está a aprender outras coisas igualmente importantes. Mas para as crianças de meios desfavorecidos e em que os pais não possam estar a apoiar é muitíssimo mais grave. Há outro papel que a escola tem, felizmente para poucas crianças: as que são vítimas de maus-tratos ou de negligência e para quem a escola é o único contacto possível para saírem de uma situação terrível. E isso também nesta pandemia se revelou bastante. Daí que neste reconfinamento tenha havido o cuidado de abrir as escolas de acolhimento, que da outra vez foram só para filhos de profissionais da linha da frente e desta vez foram também abertas a crianças com necessidades específicas e a crianças sinalizadas pelas CCPJ. Abriram-se também às crianças em risco de abandono escolar. Acho que isso é positivo mas tem que se ter imenso cuidado... se o pôr essas crianças na escola não é estigmatizante para elas.
E eu gostava de apelar à comunicação social para se ter imenso cuidado quando se trata desse assunto. Estou a dizer isto porque saiu esta semana num jornal de referência uma fotografia na primeira página de uma criança em cima de um computador em que se dizia o nome, a idade, a escola que frequentava... É importante que se chame a atenção para que esta realidade existe, mas tem que se ter imenso cuidado para não dar esses factores de identificação porque podem ser muito estigmatizantes para a criança.
Mas esta revolução que aconteceu vai para um ano mostrou que a escola é capaz de dar o salto ou ainda ficou longe do que era necessário?
Sei que a escola foi muito capaz de responder quando ninguém estava à espera. Não havia computadores para todos, as pessoas não estavam formadas. E apesar de tudo houve um movimento muito grande da escola e da sociedade para conseguirem arranjar computadores ou outros meios - podem não ser computadores, os telemóveis são um meio fantástico e os miúdos usam mais. Houve movimentos muito interessantes de professores em rede. Os professores de informática ajudaram os outros. Foi um salto fantástico e a escola mostrou muito bem que era capaz de lidar com o imprevisto e com situações muito complicadas. Agora, claro que também houve problemas, desde os meninos que não se conseguiram encontrar, que deixaram de ter contacto com as escolas, até ao equipamento que não chega para todos, a rede...
Respondeu-se muito bem ao imprevisto, mas ao previsível já não se respondeu tão bem?
Passámos da fase heróica, em que todos respondemos o melhor possível e em que havia uma ilusão de que ia ser rápida, a uma fase de um grande cansaço, uma grande exaustão...
Mas isso não explica porque é que os computadores não chegaram a tempo...
Não sei dizer porque é que os computadores não chegaram a tempo. Acho que todos podíamos fazer melhor. Aqui não há boas soluções. Creio que era o Pacheco Pereira que dizia que caímos numa “indústria da indignação”. Há um excesso de indignação e insatisfação. Andamos à procura de culpados e de bodes expiatórios. Pessoalmente, não queria ir por aí.
Uma das coisas que dizia que se podia fazer melhor era a criatividade. O relatório do Conselho Nacional de Educação dizia que as aulas online não podiam ser uma repetição daquilo que existia presencialmente. Deram-se saltos digitais mas falta dar o salto da criatividade. Como é que se dá este salto numa altura em que está toda a gente cansada?
É difícil. E não é só o salto da criatividade. A própria formação não pode ser só digital. Acho que esta solução também veio reforçar muito o modelo um bocadinho antigo, o modelo muito transmissivo, muito centrado nos conteúdos. Mas mesmo nesse modelo, não o pondo em causa, sabemos que tem que ser mais pequeno, mais adequado à idade dos miúdos - se no presencial tem que ser adequado, à distância ainda mais. O tempo de atenção deles não é o mesmo. Tem que haver muito mais estímulos, um feedback muito mais imediato, tem que se estar sempre em cima, criar muitas interacções. Tem que se dar tempo para pensar. Tudo isso são conhecimentos de uma literacia digital.
Estes novos instrumentos digitais são muito úteis. São ferramentas que podem ser utilizadas na escola em ensino presencial e que são um excelente instrumento. Temos que pensar um bocadinho para quê. Para saber procurar informação, ter pensamento crítico para avaliar se aquela informação é fidedigna ou não. Depois, estes instrumentos também são muito bons para criar redes, contactos. E há outra dimensão que acho que é fantástica: a de qualquer pessoa poder produzir as suas mensagens...
Imagina uma escola mista, no futuro, que tenha as duas componentes?
Quase que diria que tenho a certeza de que a digitalização vai ficar como ferramenta de um ensino presencial que pode ser muito mais activo e muito mais autonomizante. O professor pode combinar com o aluno no início da semana as aprendizagens que vai fazer nessa semana e o miúdo fica responsável por essas aprendizagens. E no fim da semana faz o balanço com o professor. E isso tenho a certeza de que a digitalização da escola vai fornecer um instrumento precioso para que a pedagogia seja mais activa e criativa.
Mas isso também exige uma formação ainda maior dos professores?
A tal formação mediática que não é só técnica, não é só didáctica.
E quem fica para trás neste salto? Já falámos aqui das desigualdades... Como recuperar os que estão para ficar para trás nestes dois anos lectivos?
A preocupação é muito séria, esse é o problema grande. Mas acho que não é incompatível com estes métodos mais activos de utilizar o digital. Com mais ou menos atrasos, há-de se chegar ao apetrechamento tecnológico.
A parte da rede já me parece mais complicada, mas espero que se resolva. Esta parte de formação é a escola que vai ter que proporcionar. E é melhor para todos. Permite trazer questões polémicas - para as quais ainda não há uma resposta única e consensual - e acho que isso para os miúdos em condições mais vulneráveis é mais interessante. Pode agarrá-los mais. É menos normativo, não é uma coisa autoritária, é um saber em construção. Eles podem participar muito mais.
Está optimista? Mesmo que este tempo tenha deixado alguns em situação de desigualdade, é recuperável? Ou vamos precisar de um plano de recuperação para os que ficaram para trás por questões económicas e sociais?
Sim. Eu acho que é recuperar “quem”. Vamos tentar chegar a esses miúdos. Uma das coisas que se revelaram neste período é a falta que fazem os outros profissionais das escolas que não são só os professores. Os assistentes sociais, os mediadores, os psicólogos. Mas é preciso que haja profissionais que vão tentar encontrar esses meninos que desapareceram, que não mais foram vistos nas escolas. É obvio que é uma prioridade tentar reencontrá-los.
Aumentou o abandono escolar?
Ainda não se sabe. Os resultados de 2020 foram muito positivos, mas se calhar só mais tarde é que se vai saber os efeitos negativos sobre o abandono.
Estávamos com uma evolução positiva relativamente ao abandono escolar...
Óptima.
Os números do INE demonstram o número mais baixo de sempre de abandono escolar...
É fantástico, 8%, mais baixo que a meta da União Europeia.
Mas a pandemia pode inverter esta situação?
Exactamente. Confesso que estava à espera que nestes últimos dados isso já se sentisse. Mas não. Mas certamente que se vai sentir nos próximos anos.
É preciso ir à procura desses alunos... mas como se recupera mesmo aqueles que não desapareceram do radar da escola?
Havia um projecto que me parecia muito interessante e que não pôde ser posto em prática com a pandemia, que eram as tutorias ou mentorias, com miúdos mais velhos ligados a miúdos mais novos. Havia esse projecto como forma de combater o insucesso escolar e as dificuldades de aprendizagem. Espero que se possa retomar quando isto passar. Não sei se mesmo com a pandemia não se poderá utilizar... É uma questão de condições sanitárias seguras. Acho que é uma via muito interessante.
Às vezes critica-se muito as escolas que têm alunos de várias idades na mesma turma, sobretudo no primeiro ciclo. Mas as investigações em psicologia social mostravam que não era muito negativo. Claro que depende da organização. Mas o facto de um miúdo de menor desenvolvimento estar a trabalhar com um miúdo um bocadinho mais desenvolvido era muito positivo para os dois. Para o mais pequeno, porque o outro lhe tornava as coisas mais acessíveis do que um adulto. E muito positivo para o que ensina. A gente sabe isso: não há melhor maneira de aprender do que ter que ensinar. Essa ideia das tutorias, além de ser muito solidária, também é eficaz.
Já são cerca de 40% os alunos do secundário que estão na via profissional. Isto tem ajudado a combater o abandono escolar?
Tem ajudado imenso. Dedicámos a segunda parte do último “Estado da Educação”, que é uma espécie de retrato do sistema educativo do ano anterior, ao ensino profissional ou às vias de dupla certificação. De facto, a conclusão a que chegámos quando vimos a redução do abandono escolar e o aumento das vias da dupla certificação é que uma coisa contribuiu muito para a outra.
Uma curiosidade: tive a visita de uma investigadora japonesa que veio a Portugal para descobrir como é que nós tínhamos conseguido reduzir tão depressa o abandono escolar. E fizemos um levantamento: o aumento da escolaridade obrigatória, a diminuição do insucesso escolar - uma pessoa que está em insucesso tem mais tendência para abandonar. O próprio alargamento do pré-escolar. Sabe-se que tem influências a longo prazo no percurso educativo. Há vários factores, mas as vias de dupla certificação foram um dos factores mais importantes.
Mas o ensino profissional não é ainda visto como o “parente pobre"?
Ainda é, mas eu acho que devia ser visto como o parente rico. Os alunos que escolhem essa via ficam com o diploma do ensino secundário e um diploma profissional reconhecido a nível europeu.
A presidente do Conselho Nacional da Educação, Maria Emília Brederode Santos, teme que a pandemia venha a ter efeitos no abandono escolar.
Maria Emília Brederode Santos, a presidente do Conselho Nacional da Educação, acha que a escola digital, mesmo quando voltarem as aulas presenciais, veio para ficar. Na entrevista PÚBLICO/Renascença, que pode ouvir esta quinta-feira às 23 horas, está preocupada com as consequências no abandono escolar.
Já é possível identificar as consequências da pandemia na educação?
Provavelmente já é possível identificar alguns efeitos. Acho que nos demos todos conta do agravamento das desigualdades. De certa maneira, “descobrimos” as desigualdades que já existiam. Foram desocultadas, até parece que ninguém tinha dado por elas antes. Isso tornou-se muito mais evidente agora. Mas além dessa desocultação de uma coisa que já existia, é evidente que também nos demos conta que isto veio agravar as desigualdades. Há uma brecha digital, uma desigualdade perante os dispositivos digitais. Há muitas pessoas que não têm computador, nem acesso à rede. Não basta distribuir computadores, é preciso assegurar que a rede chegue a toda a parte. E sabemos que fora das grandes cidades, a rede não chega a toda a parte. Essa conclusão já se pode tirar. Mas há outras, que até podem ser positivas. Acho que nos demos conta de uma muito maior valorização da educação. Toda a gente está de acordo que a educação é muito importante e é um direito que é preciso assegurar. E eu não tenho a certeza de que, aqui há uns anos, a população portuguesa valorizasse tanto a educação. Isso com a pandemia revelou-se mais.
E há uma revalorização da educação como, pelo menos, equilibrador social, já que nem sempre é elevador.
Sim. E também uma valorização da escola, nas suas várias funções. De repente, a escola não é só para aprender e ensinar. Desempenha imensos papéis. Penso que aquilo de que os miúdos sentem mais falta é o seu papel na socialização, que é muito importante, porque eles também aprendem muito uns com os outros. Mas também o papel de “misturador” social, apesar do nosso urbanismo não ser muito conducente a isso.
Mas há uma maior mistura social do que noutras instituições e um papel de coesão da sociedade. E há um papel de custódia, que está a ser muito evidente com os miúdos pequeninos, para que os pais que estão a trabalhar saibam que há um sítio onde podem deixar os filhos em segurança e a aprender. Um papel também de âncora social, por exemplo, para imigrantes que chegam e não conhecem nada, a escola é um meio de contacto.
Mas não foi um ano perdido, pelo menos para os mais desfavorecidos?
Num contexto mais favorecido, não é desgraça nenhuma que a pessoa perca uns meses. Está a aprender outras coisas igualmente importantes. Mas para as crianças de meios desfavorecidos e em que os pais não possam estar a apoiar é muitíssimo mais grave. Há outro papel que a escola tem, felizmente para poucas crianças: as que são vítimas de maus-tratos ou de negligência e para quem a escola é o único contacto possível para saírem de uma situação terrível. E isso também nesta pandemia se revelou bastante. Daí que neste reconfinamento tenha havido o cuidado de abrir as escolas de acolhimento, que da outra vez foram só para filhos de profissionais da linha da frente e desta vez foram também abertas a crianças com necessidades específicas e a crianças sinalizadas pelas CCPJ. Abriram-se também às crianças em risco de abandono escolar. Acho que isso é positivo mas tem que se ter imenso cuidado... se o pôr essas crianças na escola não é estigmatizante para elas.
E eu gostava de apelar à comunicação social para se ter imenso cuidado quando se trata desse assunto. Estou a dizer isto porque saiu esta semana num jornal de referência uma fotografia na primeira página de uma criança em cima de um computador em que se dizia o nome, a idade, a escola que frequentava... É importante que se chame a atenção para que esta realidade existe, mas tem que se ter imenso cuidado para não dar esses factores de identificação porque podem ser muito estigmatizantes para a criança.
Mas esta revolução que aconteceu vai para um ano mostrou que a escola é capaz de dar o salto ou ainda ficou longe do que era necessário?
Sei que a escola foi muito capaz de responder quando ninguém estava à espera. Não havia computadores para todos, as pessoas não estavam formadas. E apesar de tudo houve um movimento muito grande da escola e da sociedade para conseguirem arranjar computadores ou outros meios - podem não ser computadores, os telemóveis são um meio fantástico e os miúdos usam mais. Houve movimentos muito interessantes de professores em rede. Os professores de informática ajudaram os outros. Foi um salto fantástico e a escola mostrou muito bem que era capaz de lidar com o imprevisto e com situações muito complicadas. Agora, claro que também houve problemas, desde os meninos que não se conseguiram encontrar, que deixaram de ter contacto com as escolas, até ao equipamento que não chega para todos, a rede...
Respondeu-se muito bem ao imprevisto, mas ao previsível já não se respondeu tão bem?
Passámos da fase heróica, em que todos respondemos o melhor possível e em que havia uma ilusão de que ia ser rápida, a uma fase de um grande cansaço, uma grande exaustão...
Mas isso não explica porque é que os computadores não chegaram a tempo...
Não sei dizer porque é que os computadores não chegaram a tempo. Acho que todos podíamos fazer melhor. Aqui não há boas soluções. Creio que era o Pacheco Pereira que dizia que caímos numa “indústria da indignação”. Há um excesso de indignação e insatisfação. Andamos à procura de culpados e de bodes expiatórios. Pessoalmente, não queria ir por aí.
Uma das coisas que dizia que se podia fazer melhor era a criatividade. O relatório do Conselho Nacional de Educação dizia que as aulas online não podiam ser uma repetição daquilo que existia presencialmente. Deram-se saltos digitais mas falta dar o salto da criatividade. Como é que se dá este salto numa altura em que está toda a gente cansada?
É difícil. E não é só o salto da criatividade. A própria formação não pode ser só digital. Acho que esta solução também veio reforçar muito o modelo um bocadinho antigo, o modelo muito transmissivo, muito centrado nos conteúdos. Mas mesmo nesse modelo, não o pondo em causa, sabemos que tem que ser mais pequeno, mais adequado à idade dos miúdos - se no presencial tem que ser adequado, à distância ainda mais. O tempo de atenção deles não é o mesmo. Tem que haver muito mais estímulos, um feedback muito mais imediato, tem que se estar sempre em cima, criar muitas interacções. Tem que se dar tempo para pensar. Tudo isso são conhecimentos de uma literacia digital.
Estes novos instrumentos digitais são muito úteis. São ferramentas que podem ser utilizadas na escola em ensino presencial e que são um excelente instrumento. Temos que pensar um bocadinho para quê. Para saber procurar informação, ter pensamento crítico para avaliar se aquela informação é fidedigna ou não. Depois, estes instrumentos também são muito bons para criar redes, contactos. E há outra dimensão que acho que é fantástica: a de qualquer pessoa poder produzir as suas mensagens...
Imagina uma escola mista, no futuro, que tenha as duas componentes?
Quase que diria que tenho a certeza de que a digitalização vai ficar como ferramenta de um ensino presencial que pode ser muito mais activo e muito mais autonomizante. O professor pode combinar com o aluno no início da semana as aprendizagens que vai fazer nessa semana e o miúdo fica responsável por essas aprendizagens. E no fim da semana faz o balanço com o professor. E isso tenho a certeza de que a digitalização da escola vai fornecer um instrumento precioso para que a pedagogia seja mais activa e criativa.
Mas isso também exige uma formação ainda maior dos professores?
A tal formação mediática que não é só técnica, não é só didáctica.
E quem fica para trás neste salto? Já falámos aqui das desigualdades... Como recuperar os que estão para ficar para trás nestes dois anos lectivos?
A preocupação é muito séria, esse é o problema grande. Mas acho que não é incompatível com estes métodos mais activos de utilizar o digital. Com mais ou menos atrasos, há-de se chegar ao apetrechamento tecnológico.
A parte da rede já me parece mais complicada, mas espero que se resolva. Esta parte de formação é a escola que vai ter que proporcionar. E é melhor para todos. Permite trazer questões polémicas - para as quais ainda não há uma resposta única e consensual - e acho que isso para os miúdos em condições mais vulneráveis é mais interessante. Pode agarrá-los mais. É menos normativo, não é uma coisa autoritária, é um saber em construção. Eles podem participar muito mais.
Está optimista? Mesmo que este tempo tenha deixado alguns em situação de desigualdade, é recuperável? Ou vamos precisar de um plano de recuperação para os que ficaram para trás por questões económicas e sociais?
Sim. Eu acho que é recuperar “quem”. Vamos tentar chegar a esses miúdos. Uma das coisas que se revelaram neste período é a falta que fazem os outros profissionais das escolas que não são só os professores. Os assistentes sociais, os mediadores, os psicólogos. Mas é preciso que haja profissionais que vão tentar encontrar esses meninos que desapareceram, que não mais foram vistos nas escolas. É obvio que é uma prioridade tentar reencontrá-los.
Aumentou o abandono escolar?
Ainda não se sabe. Os resultados de 2020 foram muito positivos, mas se calhar só mais tarde é que se vai saber os efeitos negativos sobre o abandono.
Estávamos com uma evolução positiva relativamente ao abandono escolar...
Óptima.
Os números do INE demonstram o número mais baixo de sempre de abandono escolar...
É fantástico, 8%, mais baixo que a meta da União Europeia.
Mas a pandemia pode inverter esta situação?
Exactamente. Confesso que estava à espera que nestes últimos dados isso já se sentisse. Mas não. Mas certamente que se vai sentir nos próximos anos.
É preciso ir à procura desses alunos... mas como se recupera mesmo aqueles que não desapareceram do radar da escola?
Havia um projecto que me parecia muito interessante e que não pôde ser posto em prática com a pandemia, que eram as tutorias ou mentorias, com miúdos mais velhos ligados a miúdos mais novos. Havia esse projecto como forma de combater o insucesso escolar e as dificuldades de aprendizagem. Espero que se possa retomar quando isto passar. Não sei se mesmo com a pandemia não se poderá utilizar... É uma questão de condições sanitárias seguras. Acho que é uma via muito interessante.
Às vezes critica-se muito as escolas que têm alunos de várias idades na mesma turma, sobretudo no primeiro ciclo. Mas as investigações em psicologia social mostravam que não era muito negativo. Claro que depende da organização. Mas o facto de um miúdo de menor desenvolvimento estar a trabalhar com um miúdo um bocadinho mais desenvolvido era muito positivo para os dois. Para o mais pequeno, porque o outro lhe tornava as coisas mais acessíveis do que um adulto. E muito positivo para o que ensina. A gente sabe isso: não há melhor maneira de aprender do que ter que ensinar. Essa ideia das tutorias, além de ser muito solidária, também é eficaz.
Já são cerca de 40% os alunos do secundário que estão na via profissional. Isto tem ajudado a combater o abandono escolar?
Tem ajudado imenso. Dedicámos a segunda parte do último “Estado da Educação”, que é uma espécie de retrato do sistema educativo do ano anterior, ao ensino profissional ou às vias de dupla certificação. De facto, a conclusão a que chegámos quando vimos a redução do abandono escolar e o aumento das vias da dupla certificação é que uma coisa contribuiu muito para a outra.
Uma curiosidade: tive a visita de uma investigadora japonesa que veio a Portugal para descobrir como é que nós tínhamos conseguido reduzir tão depressa o abandono escolar. E fizemos um levantamento: o aumento da escolaridade obrigatória, a diminuição do insucesso escolar - uma pessoa que está em insucesso tem mais tendência para abandonar. O próprio alargamento do pré-escolar. Sabe-se que tem influências a longo prazo no percurso educativo. Há vários factores, mas as vias de dupla certificação foram um dos factores mais importantes.
Mas o ensino profissional não é ainda visto como o “parente pobre"?
Ainda é, mas eu acho que devia ser visto como o parente rico. Os alunos que escolhem essa via ficam com o diploma do ensino secundário e um diploma profissional reconhecido a nível europeu.
30.10.20
Governo promete novos cursos no ensino profissional com maior ligação à indústria
Clara Viana, in Público on-line
Medida está inscrita no plano entregue em Bruxelas e no Orçamento de Estado para 2021. Mudança no ensino profissional já tinha sido tentada por Nuno Crato, mas falhou por “falta de condições” nas escolas públicas.
Em vez de mais cursos de empregado de bar, de apoio à gestão desportiva ou de multimédia, o Governo pretende iniciar em 2021 uma reviravolta no ensino profissional “aumentando a atractividade das ofertas de dupla certificação [escolar e profissional] e a sua adequação às necessidades do tecido produtivo”.
Para tal, a aposta será a criação de “novos cursos com grande potencial na criação de valor acrescentado” como a mobilidade eléctrica, energias renováveis, mecatrónica, automação e comando, produção aeronáutica, operação robotizada ou construção aeronáutica, entre várias outras. Estes são alguns dos exemplos apontados na nota explicativa do orçamento para a Educação em 2021, que foi disponibilizada na página electrónica da Assembleia da República no âmbito da discussão na especialidade do OE, que terá nesta sexta-feira a presença do ministro Tiago Brandão Rodrigues.
A reviravolta em que o Governo aposta actualmente já foi tentada durante a tutela de ex-ministro Nuno Crato, quando em 2014 a então Agência Nacional para a Qualificação e Ensino Profissional (ANQEP) definiu que uma das áreas prioritárias para ensino profissional deveria ser a indústria, com o desenvolvimento de cursos como a manutenção industrial, electrotecnia, mecatrónica, entre outros. Uma aposta que falhou no ensino público por” falta de condições” das escolas para promoverem este tipo de formação, justificou então o presidente da ANQEP.
Este é um panorama que no essencial se mantém nas escolas públicas, o que levou de novo o Governo a inscrever verbas no OE para 2021 destinadas ao aluguer de espaços e equipamentos por parte destes estabelecimentos de ensino.
A mudança dos cursos profissionais, onde estão inscritos cerca de 42% dos alunos do secundário, é uma das reformas apontadas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que o governo apresentou em Bruxelas para garantir o apoio de muitos milhões em subsídios da Comissão Europeia destinados à retoma pós covid-19.
Uma das reformas inscritas neste plano, que se prolonga entre 2021 e 2026, é precisamente a “modernização do ensino profissional e formação profissional”, para a qual está previsto um investimento neste período de 710 milhões de euros. A inscrição da modernização do ensino profissional tem na base o pressuposto de que esta contribuirá para “aumentar o potencial produtivo” do país, que é uma das “dimensões fundamentais” do PPR.
No Orçamento de Estado para 2021 está previsto, para já, um reforço 1,2% para o ensino profissional público e privado, que passará de um investimento de cerca de 400,5 para 408,6 milhões de euros.
Tutores e psicólogos com mais verbas
Outro dos reforços previstos no orçamento para a educação é o que diz respeito ao investimento no programa de tutorias, lançado em 2017 para recuperar alunos com um historial de retenções. A verba inscrita no OE para este efeito mais do que duplica, passando de 15,9 para 34,9 milhões de euros.
Este programa destinava-se apenas a alunos do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, mas este ano foi alargado a estudantes do secundário que tenham reprovado no ano lectivo passado. De cerca de 20 mil alunos acompanhados por professores tutores, o ministério estima que chegará aos 60 mil, segundo anunciado pelo ministro da Educação.
Também as verbas para os Serviços de Psicologia e Orientação passam de 17 milhões em 2020 para 30 milhões em 2021. Estes serviços destinam-se a informar, apoiar e aconselhar os alunos nas escolhas que fazem no final do ensino básico, nomeadamente quanto aos cursos a seguir no básico.
Para o ME, o seu bom funcionamento, que passa pela “melhoria dos instrumentos de orientação vocacional, é apresentado como uma das condições para “construir uma escola de sucesso e de inclusão”. Na sua última audição no Parlamento, na semana passada, Tiago Brandão Rodrigues revelou que neste momento estão colocados nas escolas 1600 psicólogos, um valor que apresentou como um “recorde”.
Medida está inscrita no plano entregue em Bruxelas e no Orçamento de Estado para 2021. Mudança no ensino profissional já tinha sido tentada por Nuno Crato, mas falhou por “falta de condições” nas escolas públicas.
Para tal, a aposta será a criação de “novos cursos com grande potencial na criação de valor acrescentado” como a mobilidade eléctrica, energias renováveis, mecatrónica, automação e comando, produção aeronáutica, operação robotizada ou construção aeronáutica, entre várias outras. Estes são alguns dos exemplos apontados na nota explicativa do orçamento para a Educação em 2021, que foi disponibilizada na página electrónica da Assembleia da República no âmbito da discussão na especialidade do OE, que terá nesta sexta-feira a presença do ministro Tiago Brandão Rodrigues.
A reviravolta em que o Governo aposta actualmente já foi tentada durante a tutela de ex-ministro Nuno Crato, quando em 2014 a então Agência Nacional para a Qualificação e Ensino Profissional (ANQEP) definiu que uma das áreas prioritárias para ensino profissional deveria ser a indústria, com o desenvolvimento de cursos como a manutenção industrial, electrotecnia, mecatrónica, entre outros. Uma aposta que falhou no ensino público por” falta de condições” das escolas para promoverem este tipo de formação, justificou então o presidente da ANQEP.
Este é um panorama que no essencial se mantém nas escolas públicas, o que levou de novo o Governo a inscrever verbas no OE para 2021 destinadas ao aluguer de espaços e equipamentos por parte destes estabelecimentos de ensino.
A mudança dos cursos profissionais, onde estão inscritos cerca de 42% dos alunos do secundário, é uma das reformas apontadas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que o governo apresentou em Bruxelas para garantir o apoio de muitos milhões em subsídios da Comissão Europeia destinados à retoma pós covid-19.
Uma das reformas inscritas neste plano, que se prolonga entre 2021 e 2026, é precisamente a “modernização do ensino profissional e formação profissional”, para a qual está previsto um investimento neste período de 710 milhões de euros. A inscrição da modernização do ensino profissional tem na base o pressuposto de que esta contribuirá para “aumentar o potencial produtivo” do país, que é uma das “dimensões fundamentais” do PPR.
No Orçamento de Estado para 2021 está previsto, para já, um reforço 1,2% para o ensino profissional público e privado, que passará de um investimento de cerca de 400,5 para 408,6 milhões de euros.
Tutores e psicólogos com mais verbas
Outro dos reforços previstos no orçamento para a educação é o que diz respeito ao investimento no programa de tutorias, lançado em 2017 para recuperar alunos com um historial de retenções. A verba inscrita no OE para este efeito mais do que duplica, passando de 15,9 para 34,9 milhões de euros.
Este programa destinava-se apenas a alunos do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, mas este ano foi alargado a estudantes do secundário que tenham reprovado no ano lectivo passado. De cerca de 20 mil alunos acompanhados por professores tutores, o ministério estima que chegará aos 60 mil, segundo anunciado pelo ministro da Educação.
Também as verbas para os Serviços de Psicologia e Orientação passam de 17 milhões em 2020 para 30 milhões em 2021. Estes serviços destinam-se a informar, apoiar e aconselhar os alunos nas escolhas que fazem no final do ensino básico, nomeadamente quanto aos cursos a seguir no básico.
Para o ME, o seu bom funcionamento, que passa pela “melhoria dos instrumentos de orientação vocacional, é apresentado como uma das condições para “construir uma escola de sucesso e de inclusão”. Na sua última audição no Parlamento, na semana passada, Tiago Brandão Rodrigues revelou que neste momento estão colocados nas escolas 1600 psicólogos, um valor que apresentou como um “recorde”.
13.9.17
Ensino profissional resolve insucesso no secundário? Governo e antecessores acham que sim
Samuel Silva, in Público on-line
Mais de um terço dos estudantes deixa o secundário antes de o terminar, revela relatório anual da OCDE. Governo aposta no ensino profissional onde Portugal se distingue por conseguir bons níveis de sucesso.
Metade dos alunos nacionais não consegue completar o ensino secundário no espaço de três anos e 35% deixa a escola, dois anos depois, sem esse diploma. O retrato de um país com problemas de sucesso e abandono no último nível da escolaridade obrigatória é traçado no Education at a Glance, o relatório anual da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que foi publicado esta terça-feira. Em reacção ao estudo, o Governo aponta o ensino profissional como o caminho para responder ao problema. E dois ex-ministros da Educação concordam com essa opção.
O relatório da OCDE mostra que em nenhum outro país há tantos alunos a desistir do ensino secundário sem o completarem como em Portugal. Cinco anos após o início dessa formação, 35% dos estudantes deixam as escolas sem um diploma. A média internacional é de 21%.
A conclusão do ensino secundário “continua a ser um desafio significativo” para Portugal, lê-se nesta avaliação internacional. Apenas metade dos estudantes que entram nesse nível de educação consegue completá-lo em três anos, a duração esperada (o secundário começa no 10.º ano e prolonga-se até ao 12.º). Nos restantes países, em média, 68% dos alunos terminam o secundário dentro do período previsto.
A reacção do Ministério da Educação aos resultados do Education at a Glance ficou a cargo do secretário de Estado João Costa, que, à margem de uma visita à escola Francisco Arruda, em Lisboa, por ocasião do arranque do ano lectivo, sublinhou que o abandono elevado no ensino secundário e baixas taxas de conclusão são realidades com “muitos anos”.
O governante apontou o ensino profissional como o principal instrumento para responder a esses problemas, lembrando que este ano foi feito um reforço na rede e definidos novos critérios para a abertura de cursos deste tipo. João Costa apontou ainda um trabalho que está a ser feito com os psicólogos escolares para melhorar os instrumentos de orientação vocacional como uma medida que poderá ter efeitos positivos. A intenção é “garantir que os alunos escolhem o ensino profissional como uma via de sucesso e não como via secundária”.
Há uma especificidade sublinhada no relatório da OCDE. Ao contrário do que acontece na generalidade dos países, são os programas vocacionais aqueles que têm maior sucesso a garantir que os estudantes portugueses obtêm um diploma do ensino secundário. Enquanto a taxa de conclusão dos que entram em programas gerais (cursos científico-humanísticos) é de 59%, no ensino profissional o indicador sobre para 64%. Só Israel (onde a taxa de conclusão para os estudantes das vias vocacionais é de 92%) tem uma tendência semelhante à nacional.
PÚBLICO -
Aumentar
“Não tenho dúvida que a diversificação das escolhas, com o profissional e o vocacional, contribuiu para oferecer aos jovens alternativas para prosseguir os estudos”, sublinha ao PÚBLICO Nuno Crato, que foi ministro da Educação (num Governo de PSD e CDS), entre 2011 e 2015.
“Fez-se o que havia a fazer”
Apesar do insucesso e abandono no ensino secundário, Portugal melhorou bastante quando se analisa o indicador “população com 25 anos com o secundário”. Entre 2005 e 2015, o número dos que finalizaram este nível de ensino aumentou 32 pontos percentuais — passando de 50% para 82%.
Maria de Lurdes Rodrigues foi a ministra da Educação no início desse período (Governo do PS, entre 2005 e 2009) e recorda que, quando iniciou funções as taxas de abandono e insucesso escolar eram “absolutamente dramáticas”. Na altura, defende, “fez-se o que havia a fazer”. Ou seja, a oferta profissional foi alargada às escolas secundárias públicas, criando uma resposta “para as expectativas de parte dos alunos”.
O problema continua, ainda assim, a ser “gravíssimo” reconhece a socióloga do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa, que defende mudanças na relação entre o secundário e o ensino superior como forma de responder às baixas taxas de conclusão do ciclo. Por um lado, era necessário que os exames de conclusão do secundário “deixassem de estar subordinados ao acesso ao ensino superior”, defende Maria de Lurdes Rodrigues. Por outro, era necessário criar vias de acesso diferenciadas para os diplomados com os cursos profissionais, que neste momento são sujeitos a um esforço “desmesurado” para se prepararem para exames com matérias que não tiveram se quiserem entrar numa licenciatura, expõe.
Nuno Crato concorda com esta visão. “Uma das características importantes do sistema tem de ser a da permeabilidade de vias. Por exemplo, um jovem que termine uma via profissional deve poder prosseguir estudos superiores se o pretender”, sustenta, recordando a criação dos cursos técnicos superiores profissionais — formações de dois anos exclusivamente ministradas no ensino politécnico — durante o seu mandato como forma de resposta a estes alunos.
Mais de um terço dos estudantes deixa o secundário antes de o terminar, revela relatório anual da OCDE. Governo aposta no ensino profissional onde Portugal se distingue por conseguir bons níveis de sucesso.
Metade dos alunos nacionais não consegue completar o ensino secundário no espaço de três anos e 35% deixa a escola, dois anos depois, sem esse diploma. O retrato de um país com problemas de sucesso e abandono no último nível da escolaridade obrigatória é traçado no Education at a Glance, o relatório anual da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que foi publicado esta terça-feira. Em reacção ao estudo, o Governo aponta o ensino profissional como o caminho para responder ao problema. E dois ex-ministros da Educação concordam com essa opção.
O relatório da OCDE mostra que em nenhum outro país há tantos alunos a desistir do ensino secundário sem o completarem como em Portugal. Cinco anos após o início dessa formação, 35% dos estudantes deixam as escolas sem um diploma. A média internacional é de 21%.
A conclusão do ensino secundário “continua a ser um desafio significativo” para Portugal, lê-se nesta avaliação internacional. Apenas metade dos estudantes que entram nesse nível de educação consegue completá-lo em três anos, a duração esperada (o secundário começa no 10.º ano e prolonga-se até ao 12.º). Nos restantes países, em média, 68% dos alunos terminam o secundário dentro do período previsto.
A reacção do Ministério da Educação aos resultados do Education at a Glance ficou a cargo do secretário de Estado João Costa, que, à margem de uma visita à escola Francisco Arruda, em Lisboa, por ocasião do arranque do ano lectivo, sublinhou que o abandono elevado no ensino secundário e baixas taxas de conclusão são realidades com “muitos anos”.
O governante apontou o ensino profissional como o principal instrumento para responder a esses problemas, lembrando que este ano foi feito um reforço na rede e definidos novos critérios para a abertura de cursos deste tipo. João Costa apontou ainda um trabalho que está a ser feito com os psicólogos escolares para melhorar os instrumentos de orientação vocacional como uma medida que poderá ter efeitos positivos. A intenção é “garantir que os alunos escolhem o ensino profissional como uma via de sucesso e não como via secundária”.
Há uma especificidade sublinhada no relatório da OCDE. Ao contrário do que acontece na generalidade dos países, são os programas vocacionais aqueles que têm maior sucesso a garantir que os estudantes portugueses obtêm um diploma do ensino secundário. Enquanto a taxa de conclusão dos que entram em programas gerais (cursos científico-humanísticos) é de 59%, no ensino profissional o indicador sobre para 64%. Só Israel (onde a taxa de conclusão para os estudantes das vias vocacionais é de 92%) tem uma tendência semelhante à nacional.
PÚBLICO -
Aumentar
“Não tenho dúvida que a diversificação das escolhas, com o profissional e o vocacional, contribuiu para oferecer aos jovens alternativas para prosseguir os estudos”, sublinha ao PÚBLICO Nuno Crato, que foi ministro da Educação (num Governo de PSD e CDS), entre 2011 e 2015.
“Fez-se o que havia a fazer”
Apesar do insucesso e abandono no ensino secundário, Portugal melhorou bastante quando se analisa o indicador “população com 25 anos com o secundário”. Entre 2005 e 2015, o número dos que finalizaram este nível de ensino aumentou 32 pontos percentuais — passando de 50% para 82%.
Maria de Lurdes Rodrigues foi a ministra da Educação no início desse período (Governo do PS, entre 2005 e 2009) e recorda que, quando iniciou funções as taxas de abandono e insucesso escolar eram “absolutamente dramáticas”. Na altura, defende, “fez-se o que havia a fazer”. Ou seja, a oferta profissional foi alargada às escolas secundárias públicas, criando uma resposta “para as expectativas de parte dos alunos”.
O problema continua, ainda assim, a ser “gravíssimo” reconhece a socióloga do ISCTE — Instituto Universitário de Lisboa, que defende mudanças na relação entre o secundário e o ensino superior como forma de responder às baixas taxas de conclusão do ciclo. Por um lado, era necessário que os exames de conclusão do secundário “deixassem de estar subordinados ao acesso ao ensino superior”, defende Maria de Lurdes Rodrigues. Por outro, era necessário criar vias de acesso diferenciadas para os diplomados com os cursos profissionais, que neste momento são sujeitos a um esforço “desmesurado” para se prepararem para exames com matérias que não tiveram se quiserem entrar numa licenciatura, expõe.
Nuno Crato concorda com esta visão. “Uma das características importantes do sistema tem de ser a da permeabilidade de vias. Por exemplo, um jovem que termine uma via profissional deve poder prosseguir estudos superiores se o pretender”, sustenta, recordando a criação dos cursos técnicos superiores profissionais — formações de dois anos exclusivamente ministradas no ensino politécnico — durante o seu mandato como forma de resposta a estes alunos.
20.1.15
OCDE destaca reformas no ensino profissional que ainda quase não existem
Clara Viana e Samuel Silva, in Público on-line
No ensino vocacional, apontado no relatório da OCDE como uma das mudanças promovidas pelo Governo, estão inscritos cerca de 25 mil alunos.
Umas são ainda quase inexistentes. Outras nem sequer existem. É este o cenário das alterações ao ensino profissional que nesta segunda-feira foram destacadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) como fazendo parte do combate ao insucesso e abandono escolar em Portugal.
“Estão a valorizar algo que não tem substância”, comentou ao PÚBLICO o director executivo da Associação Nacional de Escolas Profissionais, Luís Costa, sobre a introdução dos chamados cursos vocacionais, com mais de 40% da formação em contexto de trabalho, realçada no relatório Education Policy Outlook. Estes cursos foram introduzidos no ensino básico em 2012-2013 e no secundário um ano depois. Este ano lectivo, segundo dados enviados ao PÚBLICO pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC), foram aprovadas no básico 1075 turmas frequentadas por 22.660 alunos e no secundário 96 com 1910 alunos. No conjunto estão envolvidos cerca de 25 mil alunos e perto de cinco mil empresas.
Nos outros cursos profissionais, mais longos e com menor componente de formação em contexto de trabalho, estavam inscritos, em 2013, cerca de 116 mil alunos, 40% do total de matriculados no secundário.
Sobre os cursos vocacionais, Luís Costa frisa ainda que, por serem tão recentes, “não foram ainda devidamente testados e validados”, o que é outra das razões que o leva a não compreender o destaque dado pela OCDE quando, em contrapartida, o restante ensino profissional tem mais de 25 anos de experiência e “provas dadas”.
A expansão do ensino profissional no secundário foi particularmente notória a partir de 2005, quando a sua oferta foi generalizada às escolas públicas Em dois anos o número de inscritos quase duplicou. “Não foi com este Governo que se registou a expansão do ensino profissional. Pelo contrário. Este ano lectivo o que existe é uma estagnação ou uma diminuição da oferta”, esclarece o director do agrupamento de escolas de Carcavelos, Adelino Calado. Segundo o também dirigente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, tal deve-se ao facto de os cursos que o MEC designou como prioritários, quase todos nas áreas da indústria e agricultura, não estarem a terem procura por parte dos alunos. “Muitos estudantes que queriam ir para o profissional estão agora no ensino regular porque os cursos que tinham escolhido não abriram. E isso vai traduzir-se num maior peso de retenções”, alerta.
Por aprovar continua também um dos diplomas de base para a criação de “uma estratégia nacional coerente” para o ensino profissional e vocacional, também destacada pela OCDE. Trata-se do Regime Jurídico do Ensino e Formação Profissional Dual, cujo projecto foi apresentado em Junho passado e que foi alvo de duras críticas por parte do Conselho Nacional de Educação e da Anespo, entre outras entidades.
Quanto às Escolas de Referência do Ensino Profissional, prometidas em 2012 e também referidas pela OCDE, não existem. O MEC anunciou então que iria identificar um “conjunto restrito de Escolas de Referência do Ensino Profissional” que teriam como “foco uma área de actividade económica prioritária” e funcionariam num “região relevante para essa actividade”, “Que saiba não há nenhuma”, afirma Luís Costa, lembrando que já depois disso, em 2014, o Governo aprovou um diploma em que cria as chamadas Escolas Profissionais de Referência Empresarial, que seriam geridas por empresas. O MEC, através da sua assessoria de imprensa, apenas se referiu a estas e não às citadas pela OCDE. O director da Anespo também não tem conhecimento de que já exista alguma.
Insucesso escolar
O relatório da OCDE considera “coerente” a estratégia para o ensino e formação profissional que tem sido seguida por Portugal, mas também aponta limitações ao sistema de ensino nacional, sobretudo no que toca às altas taxas de abandono e insucesso escolar.
Para a OCDE, o caminho seguido tem permitido colocar a formação profissional no ensino secundário como uma alternativa “ao mesmo nível” dos programas de carácter geral. O objectivo do Governo a médio prazo é o de que haja 200 mil estudantes inscritos nas vias profissionais de ensino até 2020. Atingir essa meta implicaria um aumento de 30% no número de inscritos.A aposta no ensino profissional está também incluída no destaque do relatório sobre as mudanças feitas em Portugal para responder a duas questões que a organização internacional considera “chave”: o combate ao insucesso e abandono escolar.
E quanto ao Programa de Combate ao Insucesso e Abandono Escolar, lançado em 2012 segundo a OCDE e apresentado com este nome no relatório da organização? “Não há um programa com esse nome. O que existem são medidas que foram sendo aprovadas pelo ministério. Diria que chamar a tal um programa é um eufemismo”, comenta Adelino Calado. “As linhas orientadoras da estratégia nacional de combate ao insucesso e abandono escolares são as que integram o decreto-lei” que em 2012 regulamentou o regime de matrícula e de frequência no âmbito da escolaridade obrigatória, esclareceu o MEC. Entre estas medidas figuram o apoio ao estudo de oferta obrigatória ou a possibilidade de reagrupar alunos com mais dificuldades em turmas específicas, entre outras.
No documento da OCDE são elencadas 450 alterações legislativas implementadas nos últimos sete anos. O maior número de mudanças (29%) tem como objectivo “preparar melhor os estudantes para o futuro”, segundo a categorização usada. É precisamente neste segmento que é valorizado o trabalho feito por Portugal. Mas o relatório não deixa de dar atenção às limitações da Educação nacional. A OCDE identifica, desde logo, limitações ao financiamento (a parcela do PIB destinada ao ensino fica aquém da do conjunto dos 34 países avaliados) e à autonomia das escolas, colocada também abaixo da média.
No ensino vocacional, apontado no relatório da OCDE como uma das mudanças promovidas pelo Governo, estão inscritos cerca de 25 mil alunos.
Umas são ainda quase inexistentes. Outras nem sequer existem. É este o cenário das alterações ao ensino profissional que nesta segunda-feira foram destacadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) como fazendo parte do combate ao insucesso e abandono escolar em Portugal.
“Estão a valorizar algo que não tem substância”, comentou ao PÚBLICO o director executivo da Associação Nacional de Escolas Profissionais, Luís Costa, sobre a introdução dos chamados cursos vocacionais, com mais de 40% da formação em contexto de trabalho, realçada no relatório Education Policy Outlook. Estes cursos foram introduzidos no ensino básico em 2012-2013 e no secundário um ano depois. Este ano lectivo, segundo dados enviados ao PÚBLICO pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC), foram aprovadas no básico 1075 turmas frequentadas por 22.660 alunos e no secundário 96 com 1910 alunos. No conjunto estão envolvidos cerca de 25 mil alunos e perto de cinco mil empresas.
Nos outros cursos profissionais, mais longos e com menor componente de formação em contexto de trabalho, estavam inscritos, em 2013, cerca de 116 mil alunos, 40% do total de matriculados no secundário.
Sobre os cursos vocacionais, Luís Costa frisa ainda que, por serem tão recentes, “não foram ainda devidamente testados e validados”, o que é outra das razões que o leva a não compreender o destaque dado pela OCDE quando, em contrapartida, o restante ensino profissional tem mais de 25 anos de experiência e “provas dadas”.
A expansão do ensino profissional no secundário foi particularmente notória a partir de 2005, quando a sua oferta foi generalizada às escolas públicas Em dois anos o número de inscritos quase duplicou. “Não foi com este Governo que se registou a expansão do ensino profissional. Pelo contrário. Este ano lectivo o que existe é uma estagnação ou uma diminuição da oferta”, esclarece o director do agrupamento de escolas de Carcavelos, Adelino Calado. Segundo o também dirigente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, tal deve-se ao facto de os cursos que o MEC designou como prioritários, quase todos nas áreas da indústria e agricultura, não estarem a terem procura por parte dos alunos. “Muitos estudantes que queriam ir para o profissional estão agora no ensino regular porque os cursos que tinham escolhido não abriram. E isso vai traduzir-se num maior peso de retenções”, alerta.
Por aprovar continua também um dos diplomas de base para a criação de “uma estratégia nacional coerente” para o ensino profissional e vocacional, também destacada pela OCDE. Trata-se do Regime Jurídico do Ensino e Formação Profissional Dual, cujo projecto foi apresentado em Junho passado e que foi alvo de duras críticas por parte do Conselho Nacional de Educação e da Anespo, entre outras entidades.
Quanto às Escolas de Referência do Ensino Profissional, prometidas em 2012 e também referidas pela OCDE, não existem. O MEC anunciou então que iria identificar um “conjunto restrito de Escolas de Referência do Ensino Profissional” que teriam como “foco uma área de actividade económica prioritária” e funcionariam num “região relevante para essa actividade”, “Que saiba não há nenhuma”, afirma Luís Costa, lembrando que já depois disso, em 2014, o Governo aprovou um diploma em que cria as chamadas Escolas Profissionais de Referência Empresarial, que seriam geridas por empresas. O MEC, através da sua assessoria de imprensa, apenas se referiu a estas e não às citadas pela OCDE. O director da Anespo também não tem conhecimento de que já exista alguma.
Insucesso escolar
O relatório da OCDE considera “coerente” a estratégia para o ensino e formação profissional que tem sido seguida por Portugal, mas também aponta limitações ao sistema de ensino nacional, sobretudo no que toca às altas taxas de abandono e insucesso escolar.
Para a OCDE, o caminho seguido tem permitido colocar a formação profissional no ensino secundário como uma alternativa “ao mesmo nível” dos programas de carácter geral. O objectivo do Governo a médio prazo é o de que haja 200 mil estudantes inscritos nas vias profissionais de ensino até 2020. Atingir essa meta implicaria um aumento de 30% no número de inscritos.A aposta no ensino profissional está também incluída no destaque do relatório sobre as mudanças feitas em Portugal para responder a duas questões que a organização internacional considera “chave”: o combate ao insucesso e abandono escolar.
E quanto ao Programa de Combate ao Insucesso e Abandono Escolar, lançado em 2012 segundo a OCDE e apresentado com este nome no relatório da organização? “Não há um programa com esse nome. O que existem são medidas que foram sendo aprovadas pelo ministério. Diria que chamar a tal um programa é um eufemismo”, comenta Adelino Calado. “As linhas orientadoras da estratégia nacional de combate ao insucesso e abandono escolares são as que integram o decreto-lei” que em 2012 regulamentou o regime de matrícula e de frequência no âmbito da escolaridade obrigatória, esclareceu o MEC. Entre estas medidas figuram o apoio ao estudo de oferta obrigatória ou a possibilidade de reagrupar alunos com mais dificuldades em turmas específicas, entre outras.
No documento da OCDE são elencadas 450 alterações legislativas implementadas nos últimos sete anos. O maior número de mudanças (29%) tem como objectivo “preparar melhor os estudantes para o futuro”, segundo a categorização usada. É precisamente neste segmento que é valorizado o trabalho feito por Portugal. Mas o relatório não deixa de dar atenção às limitações da Educação nacional. A OCDE identifica, desde logo, limitações ao financiamento (a parcela do PIB destinada ao ensino fica aquém da do conjunto dos 34 países avaliados) e à autonomia das escolas, colocada também abaixo da média.
19.11.14
Cursos curtos já têm vaga para quase 3000 alunos, mas nem todos vão começar este ano
Samuel Silva, in Público on-line
Um terço dos 92 Técnicos Superiores Profissionais já começaram as aulas, mas há pelo menos 15% que, face aos atrasos da DGES, adiaram a entrada em funcionamento para o próximo ano lectivo.
A nova oferta do ensino superior, implementada pelo Governo para dar continuidade à sua aposta nas vias vocacionais de ensino, está a começar a meio-gás. A cerca de um mês do final do primeiro semestre do ano lectivo, apenas um terço dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTSP) já aprovados pela Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES) entrou em funcionamento e há 46 ainda à espera de uma resposta do órgão tutelado pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC). Para já, há lugar para cerca de 3000 alunos, mas a tutela estima que possa atrair cerca de 10 mil estudantes por ano por esta via.
Quase um terço dos cursos aprovados pela DGES já entrou em funcionamento: há 26 CTSP que começaram as aulas entre Outubro e as primeiras semanas deste mês. O Secretário de Estado do Ensino Superior tem estado a presidir a algumas cerimónias, como em Viseu há três semanas, ou em Braga, onde funcionará parte da oferta do Politécnico do Cávado e Ave, na semana passada. A estes juntam-se 11 cursos curtos com início das aulas marcados entre Dezembro e Fevereiro.
Muitos dos que optaram por adiar por uns meses o início das aulas fizeram-se por causa do atraso na aprovação dos cursos pela DGES. No IPAM, por exemplo, o único CTSP aprovado (Marketing Digital) só deverá arrancar nos primeiros meses de 2015. “A demora de registo fez com que não fosse possível termos o CTSP a funcionar em regime de ano letivo regular”, justifica fonte da instituição.
Os atrasos da DGES levaram alguns politécnicos a tomar uma medida mais extrema: deixa apenas para o próximo ano a entrada em funcionamento dos cursos. Há 14 casos como estes (15,2% do total de CTSP aprovados). Como Bragança, que em Janeiro, terá um CTSP em funcionamento, mas deixa um segundo para o próximo ano, “tendo em conta a aprovação tardia destes cursos”, explica Luís Pais, vice-presidente do IP Bragança.
“Inicialmente a pretensão era abrir este ano, contudo, a data tardia da aprovação impediu a abertura”, diz também fonte da Escola Superior de Educação Jean Piaget de Arcozelo, que tem três cursos aprovados pela DGES: Desenvolvimento de Produtos Multimédia, Serviço Social e Desenvolvimento Comunitário, Desporto, Lazer e Bem-Estar.
Há ainda 19 cursos em que ainda não há decisão sobre a data de entrada em funções, sobretudo porque as instituições têm dúvidas se haverá candidaturas suficientes nesta fase do ano lectivo, quando a generalidade dos potenciais interessados já tomou as suas opções. É o caso do Instituto Politécnico de Leiria, onde a fase de candidaturas está agora a decorrer. “Em função do número de candidatos, decidiremos se os CTSP entram em funcionamento, ou se aguardamos pelo próximo ano lectivo”, diz o presidente da instituição, Nuno Mangas.
No final de Setembro, pouco mais de um oitavo das 138 propostas tinham autorização de funcionamento da DGES, o que tinha levado já algumas instituições a admitirem adiar o início do ano lectivo. O processo acelerou em Outubro, estando neste momento aprovados já 92 cursos até ao início desta semana. Mas há 46 cursos ainda estão à espera de decisão por parte da DGES e desde 22 de Outubro que não há alterações na lista publicada regularmente no site daquela instituição.
O MEC antecipa que os CTSP possam atrair cerca de 10 mil alunos em cada ano lectivo. A estimativa é feita pelo Governo partindo do número total de diplomados no ensino secundário que não entram no ensino superior (cerca de 22 mil), dos quais o público potencial dos cursos curtos serão os 40% de alunos das vias profissionais que revela nos inquéritos pretender continuar os estudos.
Propinas variam entre 3 mil e 300 euros
Dos 92 cursos já aprovados, 69 já têm número de vagas definidas, totalizando 1876. A dimensão da oferta varia entre as 60 vagas dos cursos de Comunicação e Marketing (no Instituto Superior de Educação e Ciências) e Produção Artística para a Conservação e Restauro (Instituto Politécnico de Tomar) e as 15 oferecidas em Biotecnologia de Plantas e Produtos Naturais do Instituto Politécnico de Castelo Branco. Em média, cada um dos novos cursos curtos tem 27 vagas. Se aplicarmos essa média aos 28 cursos já aprovados e ainda sem informação disponível, será possível atribuir mais cerca de 750 vagas aos CTSP já aprovados, fazendo aumentar para perto de 3000 o total de lugares disponíveis para os estudantes desta nova oferta do ensino superior.
Quantos às propinas, estas variam bastante entre os 3108 euros que serão cobrados nos cursos do Instituto Superior de Administração e Gestão e os 380 do Instituto Politécnico de Bragança. O valor médio da propina é 1266 euros anuais, mas as instituições privadas cobram preços substancialmente superiores do que as públicas, A propina média nas instituições públicas é de 660 euros anuais. Já nas instituições privadas, um curso curto custa, em média, 941 euros. O preço mais barato no ensino particular é o dos cursos do Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais (1068 euros), que custam mais do que os da instituição publica mais cara, o IP Leiria, com 940 euros.
Um terço dos 92 Técnicos Superiores Profissionais já começaram as aulas, mas há pelo menos 15% que, face aos atrasos da DGES, adiaram a entrada em funcionamento para o próximo ano lectivo.
A nova oferta do ensino superior, implementada pelo Governo para dar continuidade à sua aposta nas vias vocacionais de ensino, está a começar a meio-gás. A cerca de um mês do final do primeiro semestre do ano lectivo, apenas um terço dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTSP) já aprovados pela Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES) entrou em funcionamento e há 46 ainda à espera de uma resposta do órgão tutelado pelo Ministério da Educação e Ciência (MEC). Para já, há lugar para cerca de 3000 alunos, mas a tutela estima que possa atrair cerca de 10 mil estudantes por ano por esta via.
Quase um terço dos cursos aprovados pela DGES já entrou em funcionamento: há 26 CTSP que começaram as aulas entre Outubro e as primeiras semanas deste mês. O Secretário de Estado do Ensino Superior tem estado a presidir a algumas cerimónias, como em Viseu há três semanas, ou em Braga, onde funcionará parte da oferta do Politécnico do Cávado e Ave, na semana passada. A estes juntam-se 11 cursos curtos com início das aulas marcados entre Dezembro e Fevereiro.
Muitos dos que optaram por adiar por uns meses o início das aulas fizeram-se por causa do atraso na aprovação dos cursos pela DGES. No IPAM, por exemplo, o único CTSP aprovado (Marketing Digital) só deverá arrancar nos primeiros meses de 2015. “A demora de registo fez com que não fosse possível termos o CTSP a funcionar em regime de ano letivo regular”, justifica fonte da instituição.
Os atrasos da DGES levaram alguns politécnicos a tomar uma medida mais extrema: deixa apenas para o próximo ano a entrada em funcionamento dos cursos. Há 14 casos como estes (15,2% do total de CTSP aprovados). Como Bragança, que em Janeiro, terá um CTSP em funcionamento, mas deixa um segundo para o próximo ano, “tendo em conta a aprovação tardia destes cursos”, explica Luís Pais, vice-presidente do IP Bragança.
“Inicialmente a pretensão era abrir este ano, contudo, a data tardia da aprovação impediu a abertura”, diz também fonte da Escola Superior de Educação Jean Piaget de Arcozelo, que tem três cursos aprovados pela DGES: Desenvolvimento de Produtos Multimédia, Serviço Social e Desenvolvimento Comunitário, Desporto, Lazer e Bem-Estar.
Há ainda 19 cursos em que ainda não há decisão sobre a data de entrada em funções, sobretudo porque as instituições têm dúvidas se haverá candidaturas suficientes nesta fase do ano lectivo, quando a generalidade dos potenciais interessados já tomou as suas opções. É o caso do Instituto Politécnico de Leiria, onde a fase de candidaturas está agora a decorrer. “Em função do número de candidatos, decidiremos se os CTSP entram em funcionamento, ou se aguardamos pelo próximo ano lectivo”, diz o presidente da instituição, Nuno Mangas.
No final de Setembro, pouco mais de um oitavo das 138 propostas tinham autorização de funcionamento da DGES, o que tinha levado já algumas instituições a admitirem adiar o início do ano lectivo. O processo acelerou em Outubro, estando neste momento aprovados já 92 cursos até ao início desta semana. Mas há 46 cursos ainda estão à espera de decisão por parte da DGES e desde 22 de Outubro que não há alterações na lista publicada regularmente no site daquela instituição.
O MEC antecipa que os CTSP possam atrair cerca de 10 mil alunos em cada ano lectivo. A estimativa é feita pelo Governo partindo do número total de diplomados no ensino secundário que não entram no ensino superior (cerca de 22 mil), dos quais o público potencial dos cursos curtos serão os 40% de alunos das vias profissionais que revela nos inquéritos pretender continuar os estudos.
Propinas variam entre 3 mil e 300 euros
Dos 92 cursos já aprovados, 69 já têm número de vagas definidas, totalizando 1876. A dimensão da oferta varia entre as 60 vagas dos cursos de Comunicação e Marketing (no Instituto Superior de Educação e Ciências) e Produção Artística para a Conservação e Restauro (Instituto Politécnico de Tomar) e as 15 oferecidas em Biotecnologia de Plantas e Produtos Naturais do Instituto Politécnico de Castelo Branco. Em média, cada um dos novos cursos curtos tem 27 vagas. Se aplicarmos essa média aos 28 cursos já aprovados e ainda sem informação disponível, será possível atribuir mais cerca de 750 vagas aos CTSP já aprovados, fazendo aumentar para perto de 3000 o total de lugares disponíveis para os estudantes desta nova oferta do ensino superior.
Quantos às propinas, estas variam bastante entre os 3108 euros que serão cobrados nos cursos do Instituto Superior de Administração e Gestão e os 380 do Instituto Politécnico de Bragança. O valor médio da propina é 1266 euros anuais, mas as instituições privadas cobram preços substancialmente superiores do que as públicas, A propina média nas instituições públicas é de 660 euros anuais. Já nas instituições privadas, um curso curto custa, em média, 941 euros. O preço mais barato no ensino particular é o dos cursos do Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais (1068 euros), que custam mais do que os da instituição publica mais cara, o IP Leiria, com 940 euros.
12.11.13
Escola Profissional de Aveiro tem taxa de 80% de garantia de emprego
Salomé Filipe, in Jornal de Notícias
A Escola Profissional de Aveiro cresce a um ritmo alucinante e tem mais 600 alunos no novo ano letivo. Mesmo assim, a direção garante que, após o final do curso, "nenhum aluno fica parado e sem ocupação".
Paixão. Jorge Castro, administrador da Escola Profissional de Aveiro (EPA), revela que a "paixão pelo que se faz" é a receita do grande sucesso da escola que dirige. Com 1200 alunos (600 dos quais acabados de chegar há cerca de um mês), a EPA colabora com mais de 500 empresas e garante um futuro risonho aos jovens que ensina. Um modelo de ensino diferente, que dá frutos no mercado de trabalho.
"A taxa de empregabilidade é superior a 80%. Os restantes alunos vão para o ensino Superior, para cursos de formação tecnológica, estágios ou para projetos de voluntariado. Mais do que emprego, queremos as pessoas ocupadas. E é isso que acontece", conta Jorge Castro.
A Escola Profissional de Aveiro cresce a um ritmo alucinante e tem mais 600 alunos no novo ano letivo. Mesmo assim, a direção garante que, após o final do curso, "nenhum aluno fica parado e sem ocupação".
Paixão. Jorge Castro, administrador da Escola Profissional de Aveiro (EPA), revela que a "paixão pelo que se faz" é a receita do grande sucesso da escola que dirige. Com 1200 alunos (600 dos quais acabados de chegar há cerca de um mês), a EPA colabora com mais de 500 empresas e garante um futuro risonho aos jovens que ensina. Um modelo de ensino diferente, que dá frutos no mercado de trabalho.
"A taxa de empregabilidade é superior a 80%. Os restantes alunos vão para o ensino Superior, para cursos de formação tecnológica, estágios ou para projetos de voluntariado. Mais do que emprego, queremos as pessoas ocupadas. E é isso que acontece", conta Jorge Castro.
4.1.13
Governo quer tornar ensino profissional 'mais atractivo para as famílias'
in Sol
O secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, João Grancho, anunciou hoje, em Celorico de Basto, que o Governo está a requalificar a matriz curricular do ensino profissional para o tornar “mais atractivo” junto das famílias.
“Queremos tornar evidente para as famílias que esta é uma boa opção ao nível da empregabilidade futura dos jovens”, afirmou.
Falando aos jornalistas à margem da inauguração do centro escolar de Gandarela de Basto, o secretário de Estado explicou que a preocupação do Ministério da Educação é "melhorar a qualidade do ensino profissional".
“Nós vamos apostar em áreas que são essenciais para o tecido económico e reforçando também a formação em contexto de trabalho”, disse, acrescentando: “Vamos conciliar a formação geral e científica com a formação em contexto de trabalho, alargando o número de horas que lhe é dedicado”.
Na reformulação em curso, segundo João Grancho, também está presente a preocupação de “reforçar a possibilidade de acesso ao ensino superior” pela via profissional.
“A via profissionalizante não é dedicada aqueles que têm mais dificuldade. É uma via que qualifica efectivamente para o mercado de trabalho”, reforçou o secretário de Estado.
João Grancho disse acreditar que esta aposta vai permitir aumentar o número de alunos do secundário na via profissional, incluindo os cursos de aprendizagem, passando dos actuais 47% para os 55%.
O secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário presidiu hoje à cerimónia de inauguração do centro escolar de Gandarela de Basto, o quarto do género no concelho de Celorico de Basto.
João Grancho elogiou a câmara local, presidida por Joaquim Mota e Silva (PSD), pela aposta que tem feito na educação, cumprindo todos os investimentos previstos na Carta Educativa.
O centro escolar de Gandarela, incluindo um novo acesso, custou cerca de quatro milhões de euros.
O presidente da autarquia assinalou que a rede constituída por quatro centros escolares, um em cada pólo urbano do concelho, “realizada em apenas dois anos”, representou um investimento global superior a 12 milhões de euros.
A nova escola está dotada de 10 salas do primeiro ciclo do ensino básico e três de jardins-de-infância.
Lusa/SOL
O secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário, João Grancho, anunciou hoje, em Celorico de Basto, que o Governo está a requalificar a matriz curricular do ensino profissional para o tornar “mais atractivo” junto das famílias.
“Queremos tornar evidente para as famílias que esta é uma boa opção ao nível da empregabilidade futura dos jovens”, afirmou.
Falando aos jornalistas à margem da inauguração do centro escolar de Gandarela de Basto, o secretário de Estado explicou que a preocupação do Ministério da Educação é "melhorar a qualidade do ensino profissional".
“Nós vamos apostar em áreas que são essenciais para o tecido económico e reforçando também a formação em contexto de trabalho”, disse, acrescentando: “Vamos conciliar a formação geral e científica com a formação em contexto de trabalho, alargando o número de horas que lhe é dedicado”.
Na reformulação em curso, segundo João Grancho, também está presente a preocupação de “reforçar a possibilidade de acesso ao ensino superior” pela via profissional.
“A via profissionalizante não é dedicada aqueles que têm mais dificuldade. É uma via que qualifica efectivamente para o mercado de trabalho”, reforçou o secretário de Estado.
João Grancho disse acreditar que esta aposta vai permitir aumentar o número de alunos do secundário na via profissional, incluindo os cursos de aprendizagem, passando dos actuais 47% para os 55%.
O secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário presidiu hoje à cerimónia de inauguração do centro escolar de Gandarela de Basto, o quarto do género no concelho de Celorico de Basto.
João Grancho elogiou a câmara local, presidida por Joaquim Mota e Silva (PSD), pela aposta que tem feito na educação, cumprindo todos os investimentos previstos na Carta Educativa.
O centro escolar de Gandarela, incluindo um novo acesso, custou cerca de quatro milhões de euros.
O presidente da autarquia assinalou que a rede constituída por quatro centros escolares, um em cada pólo urbano do concelho, “realizada em apenas dois anos”, representou um investimento global superior a 12 milhões de euros.
A nova escola está dotada de 10 salas do primeiro ciclo do ensino básico e três de jardins-de-infância.
Lusa/SOL
6.11.12
Inspiração de Nuno Crato no modelo alemão do ensino profissional causa preocupações
Por Graça Barbosa Ribeiro, in Público on-line
O memorando de entendimento que o ministro da Educação português celebrou ontem, em Berlim, para a cooperação com a Alemanha na área do ensino profissional, está a provocar apreensão em alguns especialistas, dadas as críticas feitas por organizações internacionais ao chamado modelo alemão.
Tem sido identificada como negativa, em concreto, "a orientação quase compulsiva de crianças muito jovens para o ensino profissional", como apontam Ana Maria Bettencourt, que preside ao Conselho Nacional de Educação, e Luís Capucha, ex-presidente da Agência Nacional para a Qualificação.
O acordo assinado prevê o intercâmbio entre alunos, formadores e empresários, bem como outras acções que têm em vista "um maior conhecimento recíproco e uma análise comparativa dos sistemas e das estruturas do ensino profissional em ambos os países".
No comunicado divulgado através do gabinete de imprensa, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) não concretiza, ainda, que tipo de práticas pretende adoptar. Considera, de forma geral, que "terão a lucrar com a experiência alemã" o ensino profissional, que já é oferecido "em todo o país", e o vocacional, que é particularmente recomendado aos alunos com duas retenções no mesmo ciclo ou três retenções em ciclos diferentes e está em fase de projecto-piloto, em 12 escolas do país.
"Haverá muito de positivo a aprender com a Alemanha e com inúmeros outros países, nomeadamente no que respeita à ligação entre a escola e o mundo do trabalho, no ensino secundário. Já a orientação precoce para a área profissional por crianças de 11 ou 12 anos, por exemplo, é contrária às orientações do CNE, que defende que aos primeiros sinais de dificuldade de aprendizagem os alunos devem ser apoiados e não desviados para outras vias", disse ao PÚBLICO Ana Maria Bettencourt, que frisou estar a falar a título pessoal.
Também Luís Capucha, quando contactado pelo PÚBLICO, frisou que entidades independentes internacionais têm apontado críticas ao modelo alemão. "Ao nível do secundário, teoricamente, é vantajoso, mas, como já se provou, uma vez que o modelo alemão foi introduzido em Portugal há cerca de 30 anos, o país não tem um tecido empresarial suficientemente forte e consolidado para assumir a formação profissional", analisou.
Sobre o ensino básico, o ex-dirigente da ANQ diz "estar provado que são normalmente encaminhadas para o profissional as crianças com menos recursos sócio-económicos e, por isso, com menos apoio". "Verifica-se que também que não há facilidade de transição daqueles alunos para o ensino regular", acrescentou, sublinhando que os dois aspectos geram "uma situação flagrante de falta de equidade".
O memorando de entendimento que o ministro da Educação português celebrou ontem, em Berlim, para a cooperação com a Alemanha na área do ensino profissional, está a provocar apreensão em alguns especialistas, dadas as críticas feitas por organizações internacionais ao chamado modelo alemão.
Tem sido identificada como negativa, em concreto, "a orientação quase compulsiva de crianças muito jovens para o ensino profissional", como apontam Ana Maria Bettencourt, que preside ao Conselho Nacional de Educação, e Luís Capucha, ex-presidente da Agência Nacional para a Qualificação.
O acordo assinado prevê o intercâmbio entre alunos, formadores e empresários, bem como outras acções que têm em vista "um maior conhecimento recíproco e uma análise comparativa dos sistemas e das estruturas do ensino profissional em ambos os países".
No comunicado divulgado através do gabinete de imprensa, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) não concretiza, ainda, que tipo de práticas pretende adoptar. Considera, de forma geral, que "terão a lucrar com a experiência alemã" o ensino profissional, que já é oferecido "em todo o país", e o vocacional, que é particularmente recomendado aos alunos com duas retenções no mesmo ciclo ou três retenções em ciclos diferentes e está em fase de projecto-piloto, em 12 escolas do país.
"Haverá muito de positivo a aprender com a Alemanha e com inúmeros outros países, nomeadamente no que respeita à ligação entre a escola e o mundo do trabalho, no ensino secundário. Já a orientação precoce para a área profissional por crianças de 11 ou 12 anos, por exemplo, é contrária às orientações do CNE, que defende que aos primeiros sinais de dificuldade de aprendizagem os alunos devem ser apoiados e não desviados para outras vias", disse ao PÚBLICO Ana Maria Bettencourt, que frisou estar a falar a título pessoal.
Também Luís Capucha, quando contactado pelo PÚBLICO, frisou que entidades independentes internacionais têm apontado críticas ao modelo alemão. "Ao nível do secundário, teoricamente, é vantajoso, mas, como já se provou, uma vez que o modelo alemão foi introduzido em Portugal há cerca de 30 anos, o país não tem um tecido empresarial suficientemente forte e consolidado para assumir a formação profissional", analisou.
Sobre o ensino básico, o ex-dirigente da ANQ diz "estar provado que são normalmente encaminhadas para o profissional as crianças com menos recursos sócio-económicos e, por isso, com menos apoio". "Verifica-se que também que não há facilidade de transição daqueles alunos para o ensino regular", acrescentou, sublinhando que os dois aspectos geram "uma situação flagrante de falta de equidade".
29.7.12
Quase mil alunos desistiram do ensino profissional por razões económicas
in iOnline
Cerca de um terço dos quase 3.000 alunos do primeiro ano do ensino profissional que abandonaram a escola no último ano letivo fizeram-no por razões económicas, conclui-se num estudo divulgado hoje pela associação de estabelecimentos do setor.
O inquérito, realizado pela Associação Nacional de Escolas Profissionais (ANESPO), revela que a taxa de desistentes por razões económicas subiu dos 22 por cento registados em 2010/2011 para 30,4 por cento no último ano letivo, a nível nacional.
Embora sejam privadas, as escolas de ensino privado são financiadas pelo Estado, pelo que os alunos não têm mais encargos do que os colegas que frequentam os estabelecimentos públicos, explicou à agência Lusa o diretor executivo da ANESPO, Luís Costa.
Por regiões, no Norte a taxa de desistência por razões financeiras foi mesmo o motivo invocado por quase metade (47,8 por cento) das desistências no primeiro ano daquele grau de ensino, mais 20 por cento do que em 2010/2011.
Também no Centro houve uma subida considerável, de 22,8 para 33,8 por cento, em Lisboa e Vale do Tejo o crescimento foi residual (de 17,9 para 19,2 por cento) e no Alentejo e Algarve houve mesmo uma descida de 37,2 por cento para 35,6 por cento, embora esta região, que registou a maior taxa em 2010/2011, seja a segunda com maior percentagem de desistentes.
A seguir às razões económicas, o abandono escolar no primeiro ano do ensino profissional (10.º ano de escolaridade) ocorre por “insatisfação vocacional” em 15,7 por cento dos casos, “insatisfação motivacional” (8,8 por cento), “mudança de escola" (13) e outras (32,1).
O inquérito foi feito a mais de metade dos 16 mil alunos que não concluíram o primeiro ano.
As 144 escolas de ensino profissional existentes no país tiveram inscritos no último ano letivo cerca de 60 mil alunos, precisou Luís Costa.
Cerca de um terço dos quase 3.000 alunos do primeiro ano do ensino profissional que abandonaram a escola no último ano letivo fizeram-no por razões económicas, conclui-se num estudo divulgado hoje pela associação de estabelecimentos do setor.
O inquérito, realizado pela Associação Nacional de Escolas Profissionais (ANESPO), revela que a taxa de desistentes por razões económicas subiu dos 22 por cento registados em 2010/2011 para 30,4 por cento no último ano letivo, a nível nacional.
Embora sejam privadas, as escolas de ensino privado são financiadas pelo Estado, pelo que os alunos não têm mais encargos do que os colegas que frequentam os estabelecimentos públicos, explicou à agência Lusa o diretor executivo da ANESPO, Luís Costa.
Por regiões, no Norte a taxa de desistência por razões financeiras foi mesmo o motivo invocado por quase metade (47,8 por cento) das desistências no primeiro ano daquele grau de ensino, mais 20 por cento do que em 2010/2011.
Também no Centro houve uma subida considerável, de 22,8 para 33,8 por cento, em Lisboa e Vale do Tejo o crescimento foi residual (de 17,9 para 19,2 por cento) e no Alentejo e Algarve houve mesmo uma descida de 37,2 por cento para 35,6 por cento, embora esta região, que registou a maior taxa em 2010/2011, seja a segunda com maior percentagem de desistentes.
A seguir às razões económicas, o abandono escolar no primeiro ano do ensino profissional (10.º ano de escolaridade) ocorre por “insatisfação vocacional” em 15,7 por cento dos casos, “insatisfação motivacional” (8,8 por cento), “mudança de escola" (13) e outras (32,1).
O inquérito foi feito a mais de metade dos 16 mil alunos que não concluíram o primeiro ano.
As 144 escolas de ensino profissional existentes no país tiveram inscritos no último ano letivo cerca de 60 mil alunos, precisou Luís Costa.
19.7.12
Ensino profissional: governo anunciou aumento próximo dos 50% das vagas para jovens
in RR
O Governo anunciou hoje um aumento de quase 50 por cento do número de vagas para os jovens que seguem as vias profissionais do ensino secundário, pretendendo passar dos atuais 18.000 alunos para 30.000, no próximo ano letivo.
“Estamos a promover o aumento de cerca de 50% das vagas, ao nível do sistema de aprendizagem dual, bem como promover alterações de cariz operacional que facilitam o enquadramento deste sistema”, no ano letivo do ensino regular, disse o secretário de Estado do Emprego, numa conferência conjunta com a secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário.
Os ministérios da Economia e da Educação e Ciência pretendem “otimizar os recursos públicos disponíveis nas duas redes, através da celebração de protocolos de parceria, entre os centros de formação profissional e escolas básicas, secundárias e profissionais.
Pedro Martins adiantou que estes cursos de aprendizagem se destinam aos jovens entre os 15 e os 24 anos, que pretendam obter uma qualificação profissional, com equivalência ao 12.º ano, contribuindo de “forma eficaz para o aumento dos níveis de empregabilidade e de inclusão social e profissional”.
Estes objetivos são potenciados pela organização da formação em alternância (dual), que envolve a entidade formadora e a empresa, um modelo que tem bastante sucesso em países da União Europeia, observou.
“Estou certo que conseguiremos formar mais jovens para empregos mais qualificados e mais qualificantes e, dessa forma, promover a competitividade e combater o desemprego”, frisou, adiantando que o objetivo é “ajustar a oferta de formação tendo em conta as necessidades e prioridades dos diferentes setores económicos e do mercado de trabalho”.
Pedro Martins adiantou que há uma “bolsa profissionalizante” para os jovens abrangidos por este sistema de aprendizagem dual.
Avançou ainda que estão planeadas mais de 700 ações para iniciar em setembro, nas diferentes áreas de formação, particularmente nas tecnológicas ou outras consideradas prioritárias para os cursos de aprendizagem em 2012, face às necessidades evidenciadas pelas empresas e pelo mercado de emprego
A secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário anunciou ainda a “revisão das várias modalidades de ensino profissional e profissionalizante para eliminar as sobreposições e facilitar a legibilidade da oferta formativa”.
Haverá ainda “uma maior flexibilização dos currículos para facilitar uma mais rápida adequação destas formações às necessidades do mercado de trabalho, dos públicos-alvos e das regiões abrangidas”, adiantou Isabel Leite.
As modalidades de cursos profissionais e de cursos de aprendizagem serão progressivamente uniformizadas e serão eliminados progressivamente os cursos secundários com planos próprios, através da sua integração na modalidade de cursos profissionais, avançou.
“Será ainda identificado um conjunto restrito de escolas de referência no ensino profissional, que terão como foco uma área de atividade económica prioritária”, que funcionarão numa região relevante para essa atividade, explicou, adiantando que estes estabelecimentos receberão um “selo de qualidade”.
Alem das componentes habituais de uma escola profissional de jovens, estes estabelecimentos “fornecerão ambientes empresariais para a realização de estágios e realizarão a formação de técnicos para outras escolas e empresas”-
O Governo anunciou hoje um aumento de quase 50 por cento do número de vagas para os jovens que seguem as vias profissionais do ensino secundário, pretendendo passar dos atuais 18.000 alunos para 30.000, no próximo ano letivo.
“Estamos a promover o aumento de cerca de 50% das vagas, ao nível do sistema de aprendizagem dual, bem como promover alterações de cariz operacional que facilitam o enquadramento deste sistema”, no ano letivo do ensino regular, disse o secretário de Estado do Emprego, numa conferência conjunta com a secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário.
Os ministérios da Economia e da Educação e Ciência pretendem “otimizar os recursos públicos disponíveis nas duas redes, através da celebração de protocolos de parceria, entre os centros de formação profissional e escolas básicas, secundárias e profissionais.
Pedro Martins adiantou que estes cursos de aprendizagem se destinam aos jovens entre os 15 e os 24 anos, que pretendam obter uma qualificação profissional, com equivalência ao 12.º ano, contribuindo de “forma eficaz para o aumento dos níveis de empregabilidade e de inclusão social e profissional”.
Estes objetivos são potenciados pela organização da formação em alternância (dual), que envolve a entidade formadora e a empresa, um modelo que tem bastante sucesso em países da União Europeia, observou.
“Estou certo que conseguiremos formar mais jovens para empregos mais qualificados e mais qualificantes e, dessa forma, promover a competitividade e combater o desemprego”, frisou, adiantando que o objetivo é “ajustar a oferta de formação tendo em conta as necessidades e prioridades dos diferentes setores económicos e do mercado de trabalho”.
Pedro Martins adiantou que há uma “bolsa profissionalizante” para os jovens abrangidos por este sistema de aprendizagem dual.
Avançou ainda que estão planeadas mais de 700 ações para iniciar em setembro, nas diferentes áreas de formação, particularmente nas tecnológicas ou outras consideradas prioritárias para os cursos de aprendizagem em 2012, face às necessidades evidenciadas pelas empresas e pelo mercado de emprego
A secretária de Estado do Ensino Básico e Secundário anunciou ainda a “revisão das várias modalidades de ensino profissional e profissionalizante para eliminar as sobreposições e facilitar a legibilidade da oferta formativa”.
Haverá ainda “uma maior flexibilização dos currículos para facilitar uma mais rápida adequação destas formações às necessidades do mercado de trabalho, dos públicos-alvos e das regiões abrangidas”, adiantou Isabel Leite.
As modalidades de cursos profissionais e de cursos de aprendizagem serão progressivamente uniformizadas e serão eliminados progressivamente os cursos secundários com planos próprios, através da sua integração na modalidade de cursos profissionais, avançou.
“Será ainda identificado um conjunto restrito de escolas de referência no ensino profissional, que terão como foco uma área de atividade económica prioritária”, que funcionarão numa região relevante para essa atividade, explicou, adiantando que estes estabelecimentos receberão um “selo de qualidade”.
Alem das componentes habituais de uma escola profissional de jovens, estes estabelecimentos “fornecerão ambientes empresariais para a realização de estágios e realizarão a formação de técnicos para outras escolas e empresas”-
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