Por Graça Barbosa Ribeiro, in Público on-line
O memorando de entendimento que o ministro da Educação português celebrou ontem, em Berlim, para a cooperação com a Alemanha na área do ensino profissional, está a provocar apreensão em alguns especialistas, dadas as críticas feitas por organizações internacionais ao chamado modelo alemão.
Tem sido identificada como negativa, em concreto, "a orientação quase compulsiva de crianças muito jovens para o ensino profissional", como apontam Ana Maria Bettencourt, que preside ao Conselho Nacional de Educação, e Luís Capucha, ex-presidente da Agência Nacional para a Qualificação.
O acordo assinado prevê o intercâmbio entre alunos, formadores e empresários, bem como outras acções que têm em vista "um maior conhecimento recíproco e uma análise comparativa dos sistemas e das estruturas do ensino profissional em ambos os países".
No comunicado divulgado através do gabinete de imprensa, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) não concretiza, ainda, que tipo de práticas pretende adoptar. Considera, de forma geral, que "terão a lucrar com a experiência alemã" o ensino profissional, que já é oferecido "em todo o país", e o vocacional, que é particularmente recomendado aos alunos com duas retenções no mesmo ciclo ou três retenções em ciclos diferentes e está em fase de projecto-piloto, em 12 escolas do país.
"Haverá muito de positivo a aprender com a Alemanha e com inúmeros outros países, nomeadamente no que respeita à ligação entre a escola e o mundo do trabalho, no ensino secundário. Já a orientação precoce para a área profissional por crianças de 11 ou 12 anos, por exemplo, é contrária às orientações do CNE, que defende que aos primeiros sinais de dificuldade de aprendizagem os alunos devem ser apoiados e não desviados para outras vias", disse ao PÚBLICO Ana Maria Bettencourt, que frisou estar a falar a título pessoal.
Também Luís Capucha, quando contactado pelo PÚBLICO, frisou que entidades independentes internacionais têm apontado críticas ao modelo alemão. "Ao nível do secundário, teoricamente, é vantajoso, mas, como já se provou, uma vez que o modelo alemão foi introduzido em Portugal há cerca de 30 anos, o país não tem um tecido empresarial suficientemente forte e consolidado para assumir a formação profissional", analisou.
Sobre o ensino básico, o ex-dirigente da ANQ diz "estar provado que são normalmente encaminhadas para o profissional as crianças com menos recursos sócio-económicos e, por isso, com menos apoio". "Verifica-se que também que não há facilidade de transição daqueles alunos para o ensino regular", acrescentou, sublinhando que os dois aspectos geram "uma situação flagrante de falta de equidade".