in Sol
A subida das tarifas, o fim dos descontos para estudantes e o aumento do desemprego estão a afastar os portugueses dos transportes públicos e a procurarem alternativas no carro, nas bicicletas ou nas motorizadas.
Barcos, comboios e metropolitanos de Lisboa e Porto transportaram menos 12,9 milhões de passageiros no terceiro trimestre de 2012, comparativamente ao mesmo período do ano passado, segundo dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística na terça-feira.
O investigador do Centro de Sistemas Urbanos e Regionais (CESUR), Luís Martinez, aponta o aumento dos preços dos bilhetes e dos passes como uma das principais razões desta quebra, destacando o caso do Metropolitano de Lisboa, que com menos 6,2 milhões de utilizadores (menos 14,8%) foi o transporte que mais perdeu passageiros no terceiro trimestre deste ano.
Mas o aumento do desemprego teve também consequências sobre a redução da mobilidade, que foi generalizada no último ano e se estendeu ao tráfego automóvel, acrescenta o especialista em transportes: “os atravessamentos na ponte 25 de Abril e a circulação no IC19 e A5 [que ligam Lisboa a Sintra e Cascais) tiveram uma redução bastante significativa”.
Luís Martinez estima que tenha havido uma descida de 10% no número de viagens realizadas nos transportes públicos da área metropolitana de Lisboa, incluindo autocarros, barcos e comboios, durante os seis primeiros meses de 2012.
Confrontadas com a subida dos preços, “muitas pessoas deixaram de usar o transporte público e passaram a organizar-se para dividir o carro porque sai mais barato”.
“Conheço mulheres da limpeza que moram na Margem Sul e se juntam para vir de carro para Lisboa porque o preço do passe é muito elevado”, continua o investigador do Instituto Superior Técnico.
O passe combinado mais caro da Margem Sul (Sulfertagus/Carris/Metropolitano de Lisboa) custa 113,65 euros e o preço de um combinado Fertagus/TST/Metropolitano de Lisboa, por exemplo, oscila entre 63,90 para os passageiros do Pragal e 94,65 para os do Fogueteiro.
Outras alternativas são andar a pé, de bicicleta e de mota: “Não temos dados estatísticos, mas posso dizer que aqui na universidade verificamos um aumento de bicicletas e motociclos. Os parques estão cheios”, assinalou Luís Martinez.
A diminuição nas viagens pendulares casa-trabalho-casa, relacionada com o desemprego é particularmente visível na diminuição dos passageiros dos comboios suburbanos, que são “sistemas muito dependentes das pessoas que trabalham”.
Luís Martinez sublinha que, enquanto a Carris e o Metro transportam, durante o fim de semana, cerca de um terço dos passageiros, nos comboios suburbanos essa proporção é de cerca de 1/8, o que significa que são usados essencialmente para as deslocações casa-trabalho e vice-versa.
Outro facto que influenciou a perda de passageiros foi o fim dos descontos para estudantes disse Luís Martinez, admitindo que algumas famílias tenham feito contas à vida e regressado ao automóvel.
Em Setembro, o Governo acabou com as modalidades “4-18” e “sub-23”, que permitiam aos estudantes comprar o passe a metade do preço e passou a atribuir os descontos apenas a crianças e jovens de famílias cujo rendimento médio mensal seja igual ou inferior a 503 euros.
Um casal com dois filhos com um rendimento mensal de 1300 euros deixou de ter direito a comprar o passe dos filhos com 50% de desconto e terá de desembolsar 140 euros para comprar um título de transporte mensal para toda a família, o que representa mais de 10% do dinheiro que tem para gastar no mês.
Para quem mora na margem Sul, os custos podem chegar aos 400 euros.
Lusa/SOL