29.11.12

O que tem Portugal a aprender com o modelo laboral dos países nórdicos?

in RR

Na Noruega, pode-se "ficar em casa se os filhos ficarem doentes sem ter o salário reduzido"

Na Noruega, na Dinamarca e na Finlândia, as negociações laborais são feitas apenas entre empresas e trabalhadores. O Governo só intervém se necessário. Além disso, são criadas condições para que seja possível "ter uma família e trabalhar ao mesmo tempo".

A maneira como se vive e pensa o trabalho em Portugal tem muito pouco que ver com o modo como os países do Norte da Europa o perspectivam. A questão foi debatida esta quarta-feira na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, pelos embaixadores da Noruega, da Finlândia, da Dinamarca e da Suécia em Portugal, com a participação do secretário de Estado do Emprego, Pedro Martins. A Renascença falou com alguns dos protagonistas para saber que medidas concretas é que Portugal deveria "importar" e aplicar no mercado de trabalho nacional.

NORUEGA
GOVERNO COM PAPEL SECUNDÁRIO NAS NEGOCIAÇÕES LABORAIS
O embaixador da Noruega, Uva Thorsheim, considera que as negociações em matéria laboral devem ser menos centralizadas em Portugal – ou seja, o Governo deve ter um papel secundário, para que as relações entre patrões e empregados sejam mais transparentes. E dá o exemplo do seu país.

"As negociações são tripartidas. Temos os empregados, temos os trabalhadores com as uniões sindicais e depois, se necessário, temos o Governo. Não começamos com o Governo. Temos como ponto de partida que a paz é bom para os lucros e ambos, empresa e trabalhadores, vivem dos lucros. E concordamos que os trabalhadores recebam parte dos lucros", explica.

O embaixador norueguês destaca também alguns benefícios sociais que permitem melhorar a competitividade dos trabalhadores, como a possibilidade de ficar em casa se os filhos ficarem doentes sem ter o salário reduzido.

"Isso permite que as pessoas admitam depois ter dias de trabalho mais longos. São condições de trabalho que tornam possível ter uma família e trabalhar ao mesmo tempo", defende Uva Thorsheim.

FINLÂNDIA
NEGOCIAÇÃO LABORAL AJUDOU A RECUPERAR O EMPREGO
A Finlândia já viveu um período negro. Na década de 90, o país teve uma elevada taxa de desemprego. O seu embaixador em Potugal, Asco Numinen, diz que uma das medidas que ajudou à recuperação da economia do país foi a negociação laboral: é descentralizada, feita ao nível local, empresa a empresa, entre patrões, sindicatos e empregados.

"As negociações são feitas por comissões industriais, que têm lugar ao nível das empresas e são resolvidos ao nível das empresas de acordo com a situação económica de cada uma delas", conta.

O diplomata destaca a ainda a mobilidade no trabalho existente no país, factor que contribuiu para melhorar a competitividade. Mas Asco Numinen lembra que existe uma lei na Finlândia específica para proteger a segurança na mudança.

"Se tiver uma empresa que vá à falência, por exemplo, de acordo com esta lei há uma obrigação da companhia cooperar com as pessoas que ficaram desempregadas e o Estado também tem de participar com o seu contributo, de modo a garantir que nenhum desempregado fique sem ajuda. Terá formação para poder ser reintegrado noutra empresa."

DINAMARCA
APOSTA NA MOBILIDADE E NA PROTECÇÃO
Para o embaixador da Dinamarca em Portugal, Hans Micaell Koloed-Hansen, a mobilidade no trabalho é a chave para melhorar a competitividade num país, mas, para tal, "tem de haver" protecção para quem fica no desemprego.

"Na Dinamarca, as pessoas mudam de emprego com grande frequência, em média de três a quatro anos. Na maior parte das vezes, com um salário melhor, mas esse não é o ponto. Isto só é possível porque os empregados assim o desejam ou porque os patrões querem mudar. Por outro lado, existe um elevado nível de protecção social para todos aqueles que estão sem trabalho", explica o diplomata.

Hans Micaell Koloed-Hansen considera também que é necessário que a negociação laboral seja feita pelos trabalhadores e patrões - são eles que conhecem a realidade das empresas.

"Nós desenvolvemos um modelo em que os patrões, os empregados e os sindicatos podem e devem decidir, porque são eles que conhecem bem a situação local - e são eles que sabem o que é preciso fazer."