Económico com Lusa, in Económico
Lula da Silva defendeu que os seus dois mandatos provaram ser possível o crescimento económico com a distribuição de riqueza.
O ex-Presidente brasileiro Lula da Silva defendeu hoje que os seus dois mandatos provaram ser possível o crescimento económico com a distribuição de riqueza, em simultâneo,
e declarou-se vencedor antecipado de um improvável Prémio Nobel da Teimosia.
Falando em Maputo, perante "uma plateia com muito paletó e gravata", onde pontificavam dirigentes da Frelimo, elites académicas, gestores e banqueiros moçambicanos, Lula da Silva teve um discurso marcadamente de esquerda e "solidário com os pobres", que levou um dos intervenientes a suspirar "pelo socialismo que se viveu" em Moçambique.
"Provámos que era possível crescer e distribuir ao mesmo tempo", disse Lula, recordando que essa política provocou "o dia mais feliz" na sua vida. "Foi em 2005, chamei o patrão do FMI, que era um espanhol chamado (Rodrigo) Rato e disse-lhe que queria pagar a dívida brasileira, mas ele não aceitava", disse o ex-Presidente brasileiro.
"Eu passei a maior parte da minha vida carregando faixas contra o FMI e hoje eles me devem 14 biliões de dólares", acrescentou. Nem o facto de o chefe da escritório do FMI de Maputo ser um brasileiro, provavelmente na plateia, abrandou as suas críticas à organização internacional, a que Moçambique aderiu nos anos 1980.
O FMI "sabia tudo quando a crise era na Bolívia, no Brasil ou no México, agora, quando a crise é no país deles, não sabem nada", acusou, referindo-se ao caso do banco norte-americano Lehman Brothers. As críticas foram alargadas à chanceler alemã, Angela Merkel, que, disse, já está a pensar nas próximas eleições e a conversar com o
seu eleitorado.
Lula da Silva defendeu a sua política económica, com números de redução de pobreza, de aumento da classe média, de construção de escolas e de universidades e defendeu que essa política "não representa gasto" mas investimento. "Abolimos a palavra gasto. Quando o Estado empresta um milhão a uma empresa é um investimento, quando cede 10 centavos a um pobre é um gasto", ironizou.
"E como o pobre não participa no Governo, ninguém o defende no Orçamento do Estado," acrescentou Lula da Silva, para concluir que o Brasil é, hoje, "menos pobre do que em qualquer outro momento da sua História".,
Apresentado por Graça Machel como alguém que deve servir de inspiração a Moçambique, quando o país agrava as suas desigualdades sociais, Lula da Silva disse que o que "aconteceu no Brasil não pode ser transportado de forma automática" e recordou o seu passado de "grande derrotado" em eleições.
"Se houvesse um Prémio Nobel da Teimosia, eu seria nomeado, tantas eleições perdi", disse, modesto, perante históricos e actuais dirigentes da Frelimo, partido que ganhou todas as eleições em Moçambique.