26.11.12

Emigração. A mais de 11 mil quilómetros de Portugal e sem regresso à vista

in iOnline

Ana Margarida Coelho e Carlota Beja têm percursos diferentes, mas em comum têm Macau, onde descobriram o lugar que Portugal não lhes soube dar e iniciam agora uma nova etapa. A 11 mil quilómetros de distância.

Ana Margarida Coelho, 35 anos, despediu-se de Portugal em agosto, um mês que, ironicamente, surge sempre associado ao regresso dos emigrantes a casa. Até agora, nunca tinha vivido uma experiência no estrangeiro, mas foi fora que a janela de oportunidade que procurava se viria a abrir.

"Enviei o meu currículo para uma associação de Portugal que trabalha em parceria com Macau. Eles tinham a informação de que precisavam de educadoras de infância, deram-me o contacto da instituição onde estou a trabalhar agora, contactei, responderam-me dois dias depois, marcaram entrevista via Skype e passado uma semana estava a dar a minha resposta", diz.

Ana Margarida Coelho, natural de Lisboa, abraça hoje o mundo das crianças, mas nem sempre foi assim. "Tinha estado a trabalhar numa área diferente - em restauro imobiliário -, mas as dificuldades [que também havia] em Portugal de concretizar esse sonho (...) levaram-me a tirar este curso que seria secundário em termos de paixão".

Após um primeiro curso técnico-profissional na arte de trabalhar a madeira, sai especializada em marceneira embutidora, mas o ofício de sonho nas oficinas duraria pouco: "Não estava a ser fácil, o que me levou a tentar outra área".

Contudo, a licenciatura, concluída em 2007, não lhe viria a oferecer o que tanto ambicionava. "Desde 2007 até hoje tem sido complicado. Fiz o estágio profissional e depois estive em trabalhos ditos precários até vir para Macau".

Macau já tinha despontado no mapa de Ana Margarida Coelho há dois anos, através de um contacto facultado por uma amiga que ali vive, mas a partida acabaria por não se proporcionar.

Desembarcou há apenas três meses a Oriente, mas já delineou um plano: "O meu objetivo seria cumprir o ano letivo e depois ver, quem sabe, se não houver possibilidade de trabalhar em Macau, vou tentar voltar a Portugal, vou tentar enviar mais currículos, tentar contactar mais empresas, mais escolas?" Quando? Não sabe.

Carlota Beja chegou em maio, impelida para fora de Portugal pelos mesmos motivos. Ao contrário de Ana Margarida Coelho, não partiu, contudo, à aventura por um mundo completamente desconhecido: está umbilicalmente ligada a Macau, terra que a viu nascer há 25 anos.

Depois de concluir o curso em Medicina Veterinária, trabalhou em Portugal, mas principalmente a fazer substituições: "Estive um ano em Portugal, a tentar arranjar emprego, começava, parava".

"Tentei fazer o estágio profissional, mas foi na altura em que surgiu a oportunidade em Macau e pus completamente de lado", conta Carlota Beja, que vê o investimento que fez na formação menosprezado por Portugal.

"No último ano, acabei por fazer o estágio final - que inclui a tese de mestrado - numa clínica de Munique, na Alemanha, em equinos, um investimento muito grande", diz, acrescentando que em Portugal não havia sequer mercado para equinos, o que a levou a ingressar em estágios não remunerados em outras especialidades.

Hoje, em Macau, os cavalos fazem parte do seu dia a dia no trabalho.

"As condições estão péssimas. (...) Ao final de nove meses somos normalmente mandados embora ou então ficamos a recibos verdes. Para quem estudou seis anos e fez o mestrado - agora integrado - e investiu numa formação, não me parece que seja uma coisa justa", avalia.

Carlota Beja, que também tem uma irmã a viver no Brasil há um ano, pensou primeiro em emigrar para mais perto, designadamente para Inglaterra, mas o "voltar às raízes" falou mais forte na hora de traçar o rumo.

Olhando para o que deixou para trás permanece a sensação de que tomou a opção certa: "Acaba por ser um bocado 'vou ficar aqui para quê? Vou ficar em Portugal sozinha, porque daqui a dois anos não vai cá estar ninguém'".

"Está toda a gente a sair ou a tentar", diz Carlota Beja, admitindo, porém, que emigrar não é algo que esteja ao alcance de todos: "É preciso condições financeiras. Nem toda a gente pode".

E o regresso? Carlota Beja confessa que já ouviu a pergunta vezes sem conta: "Eu já nem respondo. Não fiz balanço sequer. Estou feliz cá, estou mesmo. Não vim com data".

"Se as coisas me continuarem a correr bem, por aqui vou ficar até Portugal acalmar e até eu sentir que tenho condições para voltar".

Porque Macau "não é para sempre".