por Catarina Almeida Pereira, in Negócios on-line
O ex-presidente do CES considera que a pobreza não está a ser acautelada nem acompanhada.
O Governo deveria promover inquéritos mais ágeis que permitam retratar com maior actualidade a situação da pobreza em Portugal, paralelamente aos que já são feitos pelo INE e pelo Eurostat, defendeu hoje Alfredo Bruto da Costa. "A urgência é muito grande", afirmou aos jornalistas o sociólogo, que tem vindo a investigar a pobreza em Portugal.
"O País devia ter formas de inquéritos mais leves, anuais também" que permitam retratar de forma a construir "uma ideia mais concreta de como atacar a pobreza", disse o antigo presidente do Conselho Económico e Social, aos jornalistas, à margem da conferência "Empobrecimento. Construir a ajuda", organizada pelo Jornal de Negócios e pela Antena 1.
Os dados mais recentes retratam a situação em 2010 e revelam que, nessa altura, a percentagem de portugueses em risco de pobreza era de cerca de 18%.
Este atraso na publicação dos dados, explicou Bruto da Costa, é explicado pelo facto de os inquéritos tratados a nível nacional serem depois articulados com o Eurostat, de forma a abranger todos os países da União Europeia.
Ao longo do debate, Sérgio Aires, da Rede Europeia Anti Pobreza, também abordou esta questão, que considera que resulta de uma opção política. "Podemos questionar-nos porque é que há este atraso. Pode ser revelador do empenho político dos governos", afirmou. "Não se investe, e isso quer dizer alguma coisa no combate à pobreza", acrescentou.
Alfredo Bruto da Costa subscreve esta leitura. "Sem dúvida. A pobreza não só marginaliza os pobres, mas é também uma pobreza marginalizada do ponto de vista político", disse, em declarações aos jornalistas.
Considerando que o Governo não está a acautelar e acompanhar a situação da pobreza, o sociólogo acrescentou que é "preocupante" o facto de mais de metade dos desempregados não terem direito a subsídio de desemprego.
Em todo o caso, defendeu, a pobreza não é totalmente explicada pelo desemprego. Os dados de 2010 mostravam que eram maiores as percentagens de pobres que trabalham ou são idosos.
A análise da situação no mercado de trabalho também não se deve limitar aos indicadores sobre desemprego. "Há muitas outras situações de emprego precário, de tempo parcial, sem salário por inteiro, ou de pessoas que por estarem em cursos de formação não contam como desempregados", disse.