26.11.12

Tenha medo, muito medo dos números do desemprego

João Silvestre, in Expresso

Os dados que o Instituto Nacional de Estatística (INE) revelou esta semana mostram uma subida de oito décimas na taxa de desemprego no terceiro trimestre para 15,8%. Trata-se de um novo recorde que, só por si, é motivo de preocupação. Principalmente, porque a tendência nos próximos meses é para a situação se agravar e a taxa continuar a subir. O governo estima um valor médio de 16,4% para o próximo ano que, para muitos analistas, é excessivamente otimista.

O pior é que, quando se mergulha nos números, a realidade é ainda mais assustadora do que parece. O Utilidade Marginal apresenta-lhe sete razões para ter medo...muito medo.

1 - Desemprego 'real' já atinge mais de 1,1 milhões
A taxa oficial de desemprego de 15,8% corresponde a 870,9 mil desempregados. O INE segue a metodologia internacional e considera desempregados apenas quem está sem emprego, disponível para trabalhar e que tenha feito diligências para encontrar trabalho. Esta classificação deixa de fora inativos disponíveis (sem emprego, disponíveis para trabalhar mas que não procuraram emprego) e os inativos à procura de emprego mas não disponíveis (sem emprego, à procura mas sem possibilidade de começar a trabalhar no prazo pretendido). Estas duas rubricas com totais de, respetivamente 24 mil e 249,2 mil pessoas, ficam de fora do número de desempregados e da população ativa. Somando as duas temos um desemprego total de 1,144 milhões de pessoas que implicam uma taxa de desemprego de 19,7%.

2 - Um ano e meio de troika, 210 mil empregos destruídos
No espaço de um ano e meio, que coincide mais ou menos com o programa da troika assinado em maio de 2011, Portugal perdeu cerca de 210 mil empregos. Se fosse uma cidade com este número de habitantes seria a quinta maior de Portugal depois de Lisboa, Sintra, Porto e Gaia. Se admitirmos que os desempregados têm família, o que é normal, e que esta tem, em média, três elementos em média estamos já a falar de uma população que bate Lisboa.

3 - Uma espera longa demais para os desempregados
Os números do INE mostram que 304,2 mil desempregados estão sem emprego há mais de dois anos. São cerca de um terço da taxa total (5,5%). Muitos já terão perdido o subsídio de desemprego (e o subsídio social de desemprego) nesta altura. Aliás, apenas 370 mil pessoas recebem alguma forma de subsídio de desemprego, o que significa que 500 mil não têm qualquer subsídio. E mesmo o rendimento social de inserção (RSI), que é a alternativa que resta muitas vezes, apenas cobre 185 mil pessoas se excluirmos os beneficiários com menos de 18 anos. Há, por isso, centenas de milhares de portugueses (e as suas famílias eventualmente) sem qualquer proteção nesta fase de grave crise económica. O mais pior é que a situação não vai recuperar tão depressa.

4 - Desemprego jovem bate recordes sucessivos
A taxa de desemprego entre os jovens (15 a 24 anos) chegou aos 39%. É ligeiramente mais do que um em cada três jovens sem emprego. Trata-se de um sinal altamente preocupante porque mostra a dificuldade de entrar no mercado de trabalho para quem chega de novo, mas que deve ser lido com alguma cautela. A taxa é elevada, sem qualquer dúvida, mas trata-se de uma faixa etária onde há muitos inativos (estudantes na maior parte dos casos). São cerca de 60% inativos. O que significa que há 39% de jovens desempregados, entre os que querem trabalhar, mas que face à população total deste escalão etário a taxa ronda os 13%.

5 - Algarve vai sofrer depois do verão
O Algarve teve uma queda drástica da taxa de desemprego de 17,4% para 14,7% à custa da sazonalidade. É sempre assim. Este ano, o verão 'trouxe' cerca de 8000 empregos, depois de no segundo trimestre já ter havido alguma criação de postos de trabalho. O problema é que agora chega a sazonalidade má - o inverno - e, se a queda for como a do ano passado, a taxa poderá disparar para próximo de dos 18%. Convém não esquecer que Albufeira é um dos concelhos com mais desemprego em Portugal.

6 - Formação académica compensa q.b.
Ter um curso superior está associado a um desemprego mais baixo. A taxa dos licenciados é de 12,7%, abaixo da média geral de 15,8%. À primeira vista é uma boa notícia e que mostra que estudar compensa. O problema é quando se olha mais para baixo em termos de formação. Quem tem apenas o ensino básico (3ª ciclo) tem uma taxa 15,9%, alinhada com a média, mas quem completou o ensino secundário está já 17,9%. O que levanta muitas dúvidas sobre os mecanismos por detrás da criação e destruição de emprego nesta fase crítica da economia nacional.
7 - Os salários médios são quem mais sofre
Os empregos por conta de outrém com salários entre 600 e 900 euros, um intervalo que inclui o salário médio em Portugal, foram os que mais sofreram entre julho e setembro deste ano. Foram destruídos 41 mil postos de trabalho, num período em que o trabalho por conta de outrem perdeu 24 mil empregos. Compensaram os salários mais baixos (abaixo de 310 euros), os empregos a pagar entre 2500 e 3000 euros e outros não especificados.