Raquel Pinto, in Expresso
Comité Económico e Social Europeu distinguiu a associação portuguesa com o 'Civil Society Prize' por cinco projetos de "empregabilidade social" no âmbito da área em que se posicionam - a pobreza severa e os sem-abrigo.
A Associação CAIS foi distinguida pelo Comité Económico e Social Europeu (CESE) com o 'Civil Society Prize' por cinco projetos de "empregabilidade social" no âmbito da área em que se posicionam - a pobreza severa e os sem-abrigo.
Ir além da "impessoal solidariedade da esmola". É desta forma que Henrique Pinto, diretor da CAIS, caracteriza ao Expresso o trabalho que é desenvolvido ao longo de 18 anos, que se completam em dezembro.
A notícia do segundo prémio, no valor de 10 mil euros, chegou-lhe na passada semana e revela que "é a primeira vez que uma associação portuguesa recebe um prémio do Comité Económico e Social Europeu".
Contato direto para "resconstruir" físico e mente
Fala da importância na associação pelo "acolhimento direto das pessoas ao invés do apoio à distância" para que seja possível a "reconstrução física e mental" de quem ajudam.
"É possível trabalhar a auto-estima, os afetos, a harmonia, fazerem as pazes com a sua história de vida", sublinha Henrique Pinto, acrescentando que depois investem na "procura de uma casa" para quem não a tem, na "recuperação de competências pessoais e profissionais em espaços de formação com formadores voluntários" no sentido de "ingressarem no mercado".
Prémio revela que "vamos no bom sentido"
"É o reconhecimento de um bom trabalho, que vamos no bom sentido, estimula-nos e enche-nos de orgulho", diz o dirigente e enumera em forma de resumo os princípios da associação: "acolher pessoalmente, formar e requalificar, e encontrar trabalho". Um trabalho que "não os leve à precariedade, mesmo que pareça simples ou marginal", ressalva.
Henrique Pinto esclarece ao Expresso que os cinco projetos a que se candidataram ao prémio europeu são a lavagem a seco dos automóveis, reciclagem de resíduos, a venda da revista CAIS, engraxadores e a prestação de serviço de tarefeiro para funcionários de empresas. As funções são todas desempenhadas pelos utentes, no caminho do trabalho e conseguir o sustento económico.
Criatividade, inovação e empreendedorismo social
Para Henrique Pinto, as organizações têm que aprender a serem "criativas e inovadoras, o empreendedorismo social". É preciso "criar internamente mecanismos de auto-sustentação. Não podem correr o risco de entrar em falência" por falta de ajuda do Estado social ou falhas nos acordos de cooperação. E assume: "não devíamos ter medo. É preciso ter a ideia de lucro e reinvesti-la. Para gerar emprego e por sua vez riqueza, frisa e revela ao Expresso que está a ser estudado um novo formato editorial e um novo design para a revista CAIS.
O responsável aponta os números conseguidos com a revista CAIS - feita com a "generosidade" de colaboradores voluntários fora da associação e sem publicidade -, que tem uma tiragem anual de 15 mil exemplares: "São 7 milhões de euros em 18 anos, dos quais cinco milhões foram distribuídos aos vendedores, um milhão ficou para a CAIS e o restante para entidades parceiras".
O papel das comunidades
Não há resultados de 2012, mas em 2011 a associação prestou auxílio a 400 pessoas, conseguindo que 34 se integrassem no mercado laboral.
Henrique Pinto deixa ainda a mensagem da importância interventiva que as comunidades deveriam assumir para a identificação e resolução de situações de risco e o seu papel de coesão social.
"As organizações só deveriam fazer sentido quando as comunidades precisam delas. Olhar para os seres com necessidades e satisfazê-las não é esse o caminho para aliviar a pobreza", defende. Na sua opinião falta a perspetiva de "têm talento, um potencial único e como torná-lo em sustento".
O prémio vai ser apresentado amanhã, em Lisboa, numa conferência de imprensa no Conselho Económico Social. A 12 de dezembro decorre a cerimónia em Bruxelas numa sessão plenária do CES.