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O aumento do desemprego e das desigualdades e a diminuição dos apoios sociais criam “as condições para a ocorrência de um maior número de suicídios”, alertou hoje um especialista.
“O suicídio é um fenómeno complexo e multifacetado e por isso é difícil fazer uma relação entre o que quer que seja e o suicídio”. Contudo, “é expectável que haja um aumento do número de casos” face à atual situação económica e social que o país atravessa, afirmou o presidente da Sociedade Portuguesa de Suicidiologia (SPS), José Carlos Santos.
Participando no VIII Congresso Nacional de Psiquiatria 2012, a decorrer no Porto até sábado, o responsável considerou que é preciso ter em conta o que aconteceu na Grécia e na Irlanda, em que, de acordo com estudos feitos em 2009, “houve um aumento dos suicídios que foi paralelo à crise económica”.
Nos anos 1990, “na Dinamarca, isso não aconteceu”, salientou, explicando que, apesar de ter registado um aumento da taxa de desemprego, a Segurança Social reforçou os apoios a dar às pessoas em crise.
“A taxa de desemprego aumentou muito e é um fator determinante para as questões do suicídio e, ao mesmo tempo, assistimos a uma diminuição nos apoios da Segurança Social. Se estamos a limitar as pessoas que estão já em situações difíceis do ponto de vista económico e social não estamos a protegê-las para os comportamentos do foro suicidário, estamos sim a fragilizar ainda mais para este tipo de comportamentos”, sublinhou José Carlos Santos.
Adiantando que “há discrepâncias” entre os números oficiais que existem sobre suicídios no ano passado, que não permitem concluir que houve um aumento do número de casos, o responsável afirmou, contudo, que “tem havido uma maior procura de consultas” para casos de suicídio.
“É preciso estarmos muito atento. Temos condições para que aumente [a incidência], tendo em conta a crise social e, concomitantemente, a acessibilidade [a cuidados primários de saúde] é fundamental”, explicou.
Falando no congresso sobre “Comportamentos suicidários: da prevenção à pósvenção”, a médica Inês Rothes apresentou um estudo que indica que 75 % de idosos contactaram com o seu médico de família no mês anterior ao suicídio.
“Ninguém lhes pergunta qual foi o impacto da reforma na sua vida, ninguém lhes pede para dizer como é o seu dia-a-dia”, alertou José Carlos Santos, considerando “ser necessário olhar para o grito de alerta” das pessoas, que muitas vezes recorrem ao médico de família com queixas, como uma dor de barriga ou de uma perna, para as quais não há um diagnóstico médico.
No âmbito desse estudo, a investigadora conclui que também os profissionais de saúde sofrem com o suicídio de um paciente e que estes “não tendem a pedir ajuda” nestas situações.
Através de um inquérito realizado a 242 profissionais, entre psiquiatras, psicólogos e médicos de clínica geral, foi possível concluir que “o sofrimento emocional é o sentimento mais frequente (47 %)” em caso de suicídio de um paciente.
Além da aposta na prevenção nos cuidados primários de saúde, José Carlos Santos apontou também “a colocação de barreiras” nas pontes como outra medida de prevenção deste fenómeno.