24.11.12

OCDE considera que força da União Europeia reside em ajudar países menos fortes

in Jornal de Notícias

O presidente do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento da OCDE manifestou-se, esta sexta-feira, em Lisboa contra os cortes nos fundos de coesão previstos no orçamento europeu, considerando que a força da Europa reside em ajudar os países mais fracos.

"É extremamente importante manter esse aspeto do orçamento europeu. Há outros sítios onde cortar. A força da União Europeia sempre esteve em ajudar os países menos fortes. Esta filosofia é mais importante agora que nunca. Se a União Europeia quer continuar a fortalecer-se (...), não pode cortar nos fundos de coesão", disse Brian Atwood.

Os chefes de Estado e de Governo da União Europeia (UE) estão reunidos em Bruxelas para negociar o orçamento comunitário plurianual 2014-2020, com base numa proposta do Conselho Europeu que prevê cortes na ordem dos 80 mil milhões de euros, comparativamente à proposta inicial da Comissão Europeia para o envelope financeiro global, e reduções na ordem dos 17 por cento nos fundos comunitários.

Tal redução poderá representar cortes de 500 milhões de euros nos fundos estruturais destinados a Portugal, que já considerou a proposta inaceitável.

O presidente do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico], que falava aos jornalistas à margem da conferência "Papel do setor privado no apoio ao desenvolvimento", defendeu também a necessidade de a União Europeia manter as verbas previstas para o apoio aos países pobres.

"Continua a pressão para atingir o objetivo de [destinar] 0,5 por cento [do orçamento da UE à ajuda ao desenvolvimento] até 2015. Há alguns países como a Finlândia e o Reino Unido que aumentaram essa contribuição no último ano. Não espero que países como Portugal aumentem a contribuição, mas que pelo menos mantenham o orçamento", disse.

O presidente do CAD admitiu que atualmente é "politicamente muito difícil" defender o aumento de verbas para a ajuda aos países pobres, sustentado que é preciso pensar no apoio aos países pobres "como um investimento" que contribui para a segurança, para os interesses económicos e para os valores humanitários.

Brian Atwood lembrou a necessidade de encorajar através do apoio público aos países em desenvolvimento o setor privado a investir nesta área.

"O setor privado está hoje muito interessado em encontrar novos mercados e esses mercados existem em regiões como África onde se localizam 10 dos países que crescem mais rapidamente. É um verdadeiro investimento no futuro encorajar o setor privado a fazer mais pelo desenvolvimento", sublinhou.

Falando sobre a relação entre o crescimento económico e o desenvolvimento nos países lusófonos, Brian Atwood sublinhou os progressos de Cabo Verde e Moçambique, considerando, em relação a Angola, que o crescimento não tem beneficiado como devia a população.

"Alguns países carregam o fardo de terem petróleo, talvez seja esse o problema de Angola. É muito fácil mostrar que o produto nacional bruto está a crescer porque há dinheiro do petróleo e é muito fácil descobrir várias formas de esconder onde se gasta esse dinheiro e não dar o suficiente à população. Isso tem sido o problema em Angola. É muito difícil perceber para onde tem ido todo aquele dinheiro, mas muito mais devia ter sido investido na população de Angola", considerou.