in RTP
O presidente da cooperativa de solidariedade social Arrimo, com sede no Porto, que atua na área das dependências e da exclusão social, disse hoje que os projetos da instituição correm risco de continuidade, por falta de financiamento.
Em declarações à Lusa, a propósito de uma ação de rastreio da tuberculose no Bairro social do Cerco, realizada no âmbito do projeto "Elos", António Caspurro explicou que este projeto é financiado em 80 % pelo ministério da Saúde e, estando previsto o seu término para dezembro, ainda não foi determinada a sua prorrogação e continuidade, até ao momento.
"Dada a proximidade da data limite para o fim do projeto e na ausência de uma decisão de renovação até ao momento, tememos que o projeto seja obrigado a parar, uma vez que a Arrimo muito dificilmente terá os recursos mínimos necessários para garantir a sua total sustentabilidade".
O projeto "Elos" visa a redução de riscos e minimização de danos associados ao consumo de drogas, contribuindo para aproximar os utilizadores de drogas dos serviços de saúde e sociais.
Trata-se, segundo António Caspurro, de uma intervenção que "garante o acesso aos cuidados de saúde primários a um tipo de pessoas que está excluída dos serviços normativos".
"Devido a muitos anos de vida na marginalidade associada ao consumo de drogas ilícitas, essas pessoas encontram-se num processo crescente de degradação, física e psíquica, que não lhes permite conseguir cuidar de si. Só é possível ajudá-las indo ao seu encontro, nos seus locais de permanência quotidiana", sustentou.
A equipa do "Elos" contacta diariamente com uma média de mais de 100 pessoas, que "muito dificilmente se deslocariam aos serviços da rede formal, para receberem um tratamento diário e indispensável às suas necessidades de saúde".
"Uma percentagem significativa dessas pessoas são seropositivas e portadoras de muitas outras infeções e dependem deste projeto até para satisfação das necessidades mais básicas como a alimentação e cuidarem da sua higiene pessoal", sublinhou o mesmo responsável.
Deixando de existir este projeto, "não existe atualmente uma alternativa com capacidade de garantir resposta às necessidades identificadas, de travar o processo de degradação médica, por um lado, e reiniciar a ressocialização destas pessoas, em situação de exclusão grave", disse.
"Assim, quando se questiona a continuidade deste tipo de intervenção de proximidade, em última análise, estão em jogo vidas humanas", frisou.
A Lusa questionou à Administração Regional de Saúde do Norte sobre a continuidade do apoio do Ministério da Saúde aos projetos da Arrimo, mas até ao momento ainda não obteve resposta.
A ação de rastreio hoje realizada no bairro do Cerco, realizada em articulação com a delegada de saúde Porto Oriental e com o Centro Diagnóstico Pneumológico (CDP), visou a vigilância epidemiológica de "uma população de alto risco, dependentes de drogas endovenosas", num grupo onde se identificou um caso de tuberculose pulmonar.
"Este tipo de intervenção está em risco de se perder, com consequências graves para as pessoas que estão a receber este apoio, assim como também ao nível da saúde pública", acrescentou António Caspurro.
A Arrimo, que tem cerca de 500 pessoas recenseadas, desenvolve a sua atividade na zona do Porto Central e Oriental.