in Jornal de Notícias
Mais de 400 portugueses chegaram este mês a Great Yarmouth, no este de Inglaterra, para trabalhar temporariamente numa fábrica de transformação de carne de aves, mas alguns têm planos para ficar, disse um dirigente associativo na localidade.
"Há muitos, especialmente alguns jovens que não têm muitas responsabilidades em Portugal, ou que alguém está a segurar as pontas do lado de lá, e vêm tentar aqui", contou Manuel Mendonça, presidente da associação Heróis do Mar, à agência Lusa, especificando que chegaram 430 portugueses.
A esses, aconselha a trazerem os certificados dos estudos e a recomeçar a estudar no Reino Unido para, como outros conseguiram, encontrarem empregos melhores.
Tal como em anos anteriores, a associação realizou sessões de introdução às centenas de trabalhadores sazonais para a época do Natal, cujos perfis são variados.
"Vem de tudo: reformados, pessoas desempregadas, jovens que têm aqui praticamente o primeiro emprego, algumas pessoas formadas que estão desesperadas porque têm coisas para pagar em Portugal e que vêm ganhar mais um bocadinho para aguentar mais um mês ou outro. Claro que isto não resolve a situação deles, mas ameniza, pelo menos neste período de Natal: vão embora e se calhar já podem comprar uma prenda", descreve Manuel Mendonça.
Muitos têm casos pessoais complicados, acrescenta: "Eles não dizem e nós não perguntamos, mas vemos que eles vêm, especialmente este ano, vieram com muitas, muitas dificuldades".
As sessões de introdução têm ajudado, diz, a evitar desacatos na cidade como existiram no passado e a melhorar o desempenho na fábrica, segundo as autoridades locais e as representantes da Bernard Matthews.
Desde este ano, a empresa britânica passou a centralizar a contratação das pessoas segundo a base de dados dos anos anteriores, sendo 60 a 70% por cento dos recrutados "repetentes" devido à experiência no trabalho.
Este ano, Manuel Mendonça afirma ter também conseguido colocar 167 portugueses residentes localmente que se encontravam desempregados.
O trabalho, refere, é essencialmente preparar perus para natal, desde matar os animais a tirar tripas, cortá-los, empacotá-los e congelá-los para enviar depois para grandes cadeias de supermercados britânicos.
No final, "noventa por cento retorna" a Portugal, mas alguns "vão ficando".
Porém, avisa: "as coisas não estão muito boas aqui, também não há grande trabalho, não têm grande hipótese de ficar por aí".
Na localidade costeira vivem atualmente entre 4.500 a 5.000 portugueses, que serão reforçados em breve com médicos e enfermeiros no hospital local, avança este dirigente associativo.
"É importante, porque passamos a ter pessoas que falam na nossa língua numa zona onde há bastantes portugueses", salienta.