24.11.12

“O carpe diem da economia terminou”

por Pedro Rios, in RR

Na Semana Social, que decorre no Porto, o presidente do Tribunal de Contas disse que o “crédito fácil tornou-se uma perigosa armadilha em que muitos caíram”. 24-11-2012

“A era do crédito fácil, de viver à base das dívidas e de gozar o momento, o carpe diem da economia, terminou. A crise é de sociedade, é de valores, uma vez que afecta os vínculos fundamentais entre as pessoas”. A análise é de Guilherme d’Oliveira Martins.

Na Semana Social, que decorre no Porto, o presidente do Tribunal de Contas disse, este sábado, que o “crédito fácil tornou-se uma perigosa armadilha em que muitos caíram”.

“A especulação, a idolatria do mercado e as economias de casino pareceram tomar o lugar do trabalho”, analisou. Resultado deste “consumismo sem freio”: “as gerações presentes começaram a gastar assim os recursos das gerações futuras”.

Estado Social não é o culpado dos défices
Numa altura em que o país debate a alegada necessidade de uma “refundação” do Estado Social, o presidente do Centro Nacional de Cultura argumenta que tal não pode significar a sua destruição.

“A disciplina e o rigor financeiros não podem ser esquecidos, mas importa dizer que os estudos de que dispomos levam-nos a concluir hoje que os principais défices dos estados mais desenvolvidos não podem ser imputados aos gastos sociais – educação, saúde e Segurança Social”, lembrou.

Guilherme d’Oliveira Martins apelou uma avaliação serena e rigorosa sobre a relação entre contribuições e impostos e serviços públicos e respectiva qualidade. Com uma certeza: “Quem é mais carenciado deve ser mais apoiado”.

“O Estado Social tem que se basear na sociedade solidária, respondendo aos novos problemas da crise demográfica, do envelhecimento da população, do isolamento, da exclusão”, disse. Um Estado mais próximo das pessoas, através de instâncias de mediação e redes de proximidade. “O cerne do Estado Social, hoje, está na sua melhoria”, sublinhou.

“Os cidadãos têm que sentir que são relevantes nas decisões. Não basta conquistar o voto com propostas aliciantes”, referiu.

“Justiça é o rosto social da caridade”
Um esforço no qual os cristãos têm um papel especial. “Os cristãos têm responsabilidades especiais na afirmação de que o Estado Social tem que ser preservado em nome da caridade e da justiça”, disse Guilherme d’Oliveira Martins.

"A Doutrina Social da Igreja é um pôr em prática um apelo permanente ao inconformismo e a uma sociedade assente no bem comum e na dignidade humana”, concluiu presidente do Tribunal de Contas, acrescentando que justiça e caridade podem e devem encontrar-se. "A justiça é o rosto social da caridade. Caridade é amor de irmão. Justiça é amor dos direitos dos irmãos”.