25.11.12

Desemprego empurra jovens para economia paralela

por Lusa, publicado por Graciosa Silva, in Diário de Notícias

O alto índice de desemprego entre a população jovem nas zonas urbanas de Manica, centro de Moçambique, está a "empurrar" muitos deles para a economia paralela, em busca de sobrevivência, apesar dos riscos do setor informal.
Carregados de roupa usada, sapatos, celulares, frutas em peneiras, refrigerantes, água, cartões de recargas pré-pagas das operadoras de telemóveis, até refeições, vários vendedores ambulantes pululam nas ruas da capital, Chimoio, e ou em instituições públicas para "namorar clientes" e conseguir negociar.
"Não é uma tarefa fácil ser ambulante, por vezes cruzamos com pessoas mal-humoradas e descarregam por cima de nós. Outras vezes passas o dia todo sem vender e as contas a complicarem-se a cada dia: renda, luz, água e comida. Isso é um sacrifício para sobrevivência", desabafa Celestino Fausto, vendedor de refrigerantes no terminal de autocarros.
A taxa de desemprego juvenil em Moçambique está acima de 21% nas zonas urbanas, sendo que grande parte da população procura alternativas na economia informal, uma vez que o mercado formal tem uma série de limitações para jovens, inclusive recém-formados, mesmo em áreas técnico-profissionais.
Estatísticas governamentais apontam que um em cada três jovens tem emprego formal no país. Já dados do Instituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (INEFP), ligado ao Ministério de Trabalho, apontam para menos de 10 mil jovens anualmente com acesso a emprego, num universo de mais de três milhões.
"O emprego está difícil. Os jovens são chamados a gerar autoemprego, mas as políticas governamentais não são claras, porque para isso precisam aliar recursos e conhecimentos", explica à Lusa Horácio Carlos, vendedor informal, a concluir o ensino superior. "Onde buscar recursos financeiros para arrancar uma iniciativa, se os fundos disponíveis são de difícil acesso além de serem quase nada?", questiona.
Entre corridas, para vender aos passageiros nos "chapas" [transportes semi-públicos] que escalam na cidade na rota para outros destinos e ou fuga da polícia camarária, que tenta controlar a desordem nos passeios, o risco fica cada vez mais evidente, quando os ambulantes fazem velozes "travessias de esperança ou desespero" nas ruas.
"Precisas ser bom em tudo: atleta para ir atrás dos clientes no carro, mas também para fugir a polícia. Esperto para que os passageiros não saiam sem pagar. Tudo isso tem que ser combinado com equilíbrio, pois nesses movimentos o teu cesto de produto te acompanha", conta à Lusa Miguel Santo, vendedor ambulante de pedaços de frango frito.
A Projovem, uma iniciativa de apoio juvenil, reafirmou em carta que Moçambique necessita de informação estatística fiável e atualizada sobre a força de trabalho juvenil, apelando para a transformação de estratégia governamental sobre emprego e formação profissional, e que a juventude "não se distraia muito com conceitos", mas dar atenção àquilo que se pretende ao final do dia, que é a redução da pobreza das pessoas.
"O lucro é muito ínfimo, mas vale a pena arriscar a vender crédito (recargas de telemóvel), para conseguir sobreviver. Além de eu vender contratei mais dois miúdos que também vendem para me. " noite tem pouca concorrência e vende-se mais", disse à Lusa Lúcia Francisco, uma vendedora de recargas, um negócio que geralmente atrai homens.
Uma iniciativa governamental, através do INEFP, pretende formar um milhão de desempregados em 10 anos (2006 até 2015), em vários ramos de atividade, serralharia mecânica, construção civil, hotelaria, entre outros.
Entretanto, a governadora de Manica, Ana Comoane, disse que o seu executivo alocou, este ano, 11,8 milhões de meticais (462 mil euros) para ações de combate a pobreza urbana em Chimoio, tendo já sido formados 6.601 pessoas (2.569 mulheres) em gestão de pequenos negócios.
Os projetos incluem corte e costura, montagem e reparação de bicicletas, pintura, culinária, construção civil, carpintaria e serralharia. Igualmente, no primeiro trimestre de 2012, foram colocados no mercado de trabalho 1.189 pessoas (210 mulheres), mas a realidade no terreno sugira uma tendência contrária.