30.10.20

Governo promete novos cursos no ensino profissional com maior ligação à indústria

Clara Viana, in Público on-line

Medida está inscrita no plano entregue em Bruxelas e no Orçamento de Estado para 2021. Mudança no ensino profissional já tinha sido tentada por Nuno Crato, mas falhou por “falta de condições” nas escolas públicas.

Em vez de mais cursos de empregado de bar, de apoio à gestão desportiva ou de multimédia, o Governo pretende iniciar em 2021 uma reviravolta no ensino profissional “aumentando a atractividade das ofertas de dupla certificação [escolar e profissional] e a sua adequação às necessidades do tecido produtivo”.

Para tal, a aposta será a criação de “novos cursos com grande potencial na criação de valor acrescentado” como a mobilidade eléctrica, energias renováveis, mecatrónica, automação e comando, produção aeronáutica, operação robotizada ou construção aeronáutica, entre várias outras. Estes são alguns dos exemplos apontados na nota explicativa do orçamento para a Educação em 2021, que foi disponibilizada na página electrónica da Assembleia da República no âmbito da discussão na especialidade do OE, que terá nesta sexta-feira a presença do ministro Tiago Brandão Rodrigues.

A reviravolta em que o Governo aposta actualmente já foi tentada durante a tutela de ex-ministro Nuno Crato, quando em 2014 a então Agência Nacional para a Qualificação e Ensino Profissional (ANQEP) definiu que uma das áreas prioritárias para ensino profissional deveria ser a indústria, com o desenvolvimento de cursos como a manutenção industrial, electrotecnia, mecatrónica, entre outros. Uma aposta que falhou no ensino público por” falta de condições” das escolas para promoverem este tipo de formação, justificou então o presidente da ANQEP.

Este é um panorama que no essencial se mantém nas escolas públicas, o que levou de novo o Governo a inscrever verbas no OE para 2021 destinadas ao aluguer de espaços e equipamentos por parte destes estabelecimentos de ensino.

A mudança dos cursos profissionais, onde estão inscritos cerca de 42% dos alunos do secundário, é uma das reformas apontadas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que o governo apresentou em Bruxelas para garantir o apoio de muitos milhões em subsídios da Comissão Europeia destinados à retoma pós covid-19.

Uma das reformas inscritas neste plano, que se prolonga entre 2021 e 2026, é precisamente a “modernização do ensino profissional e formação profissional”, para a qual está previsto um investimento neste período de 710 milhões de euros. A inscrição da modernização do ensino profissional tem na base o pressuposto de que esta contribuirá para “aumentar o potencial produtivo” do país, que é uma das “dimensões fundamentais” do PPR.

No Orçamento de Estado para 2021 está previsto, para já, um reforço 1,2% para o ensino profissional público e privado, que passará de um investimento de cerca de 400,5 para 408,6 milhões de euros.

Tutores e psicólogos com mais verbas

Outro dos reforços previstos no orçamento para a educação é o que diz respeito ao investimento no programa de tutorias, lançado em 2017 para recuperar alunos com um historial de retenções. A verba inscrita no OE para este efeito mais do que duplica, passando de 15,9 para 34,9 milhões de euros.

Este programa destinava-se apenas a alunos do 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, mas este ano foi alargado a estudantes do secundário que tenham reprovado no ano lectivo passado. De cerca de 20 mil alunos acompanhados por professores tutores, o ministério estima que chegará aos 60 mil, segundo anunciado pelo ministro da Educação.

Também as verbas para os Serviços de Psicologia e Orientação passam de 17 milhões em 2020 para 30 milhões em 2021. Estes serviços destinam-se a informar, apoiar e aconselhar os alunos nas escolhas que fazem no final do ensino básico, nomeadamente quanto aos cursos a seguir no básico.

Para o ME, o seu bom funcionamento, que passa pela “melhoria dos instrumentos de orientação vocacional, é apresentado como uma das condições para “construir uma escola de sucesso e de inclusão”. Na sua última audição no Parlamento, na semana passada, Tiago Brandão Rodrigues revelou que neste momento estão colocados nas escolas 1600 psicólogos, um valor que apresentou como um “recorde”.