in Comunidade Cultura e Arte
O que vais ouvir, ler ou ver foi produzido pela equipa do Fumaça, um projecto de media independente, progressista e dissidente e foi originalmente publicado em www.fumaca.pt.
Olhar para a Região Autónoma dos Açores através de estatísticas ao invés das brochuras interativas da Direção Regional do Turismo, é ver um mundo distinto.
Vêem-se os pastos verdejantes como sinónimo da sobredependência do setor primário. Repara-se nas fotos das crianças que se banham no mar, e paira no ar a taxa de abandono precoce da educação mais elevada do país. As pitorescas habitações rurais passam a ter as vistas pintadas por uma taxa de risco de pobreza de 31,8%.
É aqui que se bebe mais e fuma mais em todo o país. É nos Açores que a esperança média de vida é mais baixa e que a taxa de obesidade é maior. Também foi destas nove ilhas que saiu boa parte da diáspora portuguesa na América-do-Norte.Os Açores são a região mais pobre e a mais desigual de Portugal. Um em cada 10 açorianos recebem o Rendimento Social de Inserção, três vezes a proporção do resto das pessoas nacionais. Mais de metade da população ativa ficou pelo ensino básico. Quem continua na escola tem as médias mais baixas no ensino secundário e a taxa de retenção mais elevada de todo o espaço português.
E, no entanto – ou talvez por isso – é na Região Autónoma dos Açores que se vota menos. Nas eleições legislativas de 2019, a abstenção foi de 63%. Nas europeias, no mesmo ano, 81%. Nas autárquicas, de 2018, 46%. Nas presidenciais de 2016, 69%. E nas últimas eleições legislativas regionais, em 2016, 59%.
No domingo, 25 de outubro de 2020, os açorianos voltam às urnas para decidir a composição da Assembleia Legislativa Regional. Tendo em conta os resultados eleitorais, o Representante da República [figura nomeada pelo presidente da República, com um mandato de duração correspondente, para cada região Autónoma] nomeia a presidência do Governo Regional dos Açores que, desde 1996, é controlado pelo Partido Socialista – em maioria absoluta, desde 2000, primeiro com Carlos César (atual Presidente do PS), depois com Vasco Cordeiro.
É nas vésperas dessa eleição que entrevistamos Fernando Diogo, sociólogo, professor na Universidade dos Açores, e investigador do Centro Interdisciplinar de Ciências Sociais (CICS.NOVA). É coordenador do pólo açoriano dessa instituição, da secção de Pobreza, Exclusão Social e Políticas Sociais da Associação Portuguesa de Sociologia e, ainda, membro do grupo de trabalho sobre pobreza infantil da Rede Europeia Anti Pobreza. É fundador e presidente da Assembleia Geral da KAIROS, uma cooperativa de incubação de economia solidária.
Desde 1991 trabalha as questões da pobreza, do emprego, da exclusão social, da educação e da infância, particularmente no contexto da Região Autónoma dos Açores. Falámos sobre tudo isso.
Captação de Som nos Açores: Rui Botelho, da Rádio Atlântida.
Fotografia: Rotary Portugal – Distrito 1960, do arquivo de Fernando Diogo.