7.11.07

Europa quer ajudar os países mais pobres a preparem-se para as alterações climáticas

Ana Fernandes, in Jornal Público

Os Dias Europeus do Desenvolvimento, que começam hoje em Lisboa, vão avaliar estratégias de cooperação para fazer face às alterações climáticas


Não contribuíram para o problema, mas serão os mais afectados - os países pobres do planeta irão sentir, como ninguém, os impactos das alterações climáticas. Estas, além de prejudicar as suas já frágeis economias, serão mais um engulho nas suas perspectivas de desenvolvimento. Um problema que a Europa promete não esquecer, quando fala em cooperação e que, de hoje a sexta-feira, é tema de um fórum em Lisboa.
As consequências das alterações climáticas, que anunciam secas, inundações e fenómenos meteorológicos extremos, entre outras, não só terão particular intensidade nas regiões tropicais, como é aqui que vive uma população mais vulnerável a todas estas catástrofes.

Um exemplo: quando ocorre uma seca em Portugal, as populações e os agricultores são apoiados pelo Estado - e por Bruxelas -, faz-se uma gestão criteriosa das barragens, em articulação com Espanha, e a probabilidade de alguém morrer à fome por causa deste evento é muito diminuta.

Agora, transporte-se o mesmo exemplo para África. A comparação é quase impossível pois as realidades não podiam ser mais díspares: nesses países, a economia está muito dependente dos recursos naturais que serão os primeiros a vergar face a condições meteorológicas extremas. Não há um Estado social. E morre-se de fome e de doenças ligadas à insalubridade.

É por estas razões que as alterações climáticas são também um problema de desenvolvimento, defende a Comissão Europeia. Sobretudo quando se sabe que, ao contrário do que se pretende no âmbito dos compromissos assumidos no seio das Nações Unidas, a pobreza extrema e a fome podem agravar-se nas zonas mais vulneráveis ao clima.

Para debater a forma como a cooperação pode ajudar a preparar os países pobres face às alterações climáticas, começam hoje as Jornadas Europeias do Desenvolvimento, que envolvem, além das instituições europeias e os seus parceiros, várias organizações das Nações Unidas e a sociedade civil, através de organizações não-governamentais.
"Em Lisboa, tencionamos intensificar a convergência de pontos de vista e reforçar as nossas parcerias, tão necessárias, e que são fundamentais para o êxito dos esforços mundiais de luta contra as alterações climáticas, centrando o debate político, em parte, na aplicação eficaz de medidas de atenuação e adaptação", defende Louis Michel, comissário europeu para o Desenvolvimento.

Além do debate de ideias, em que participam nomes como Kofi Annan, os Dias Europeus do Desenvolvimento, serão palco da assinatura de vários protocolos - entre a Comissão Europeia e a CPLP, por exemplo - e de vários acontecimentos paralelos, que vão desde a apresentação de experiências no terreno até ao debate de novas ideias a desenvolver.

Na quinta-feira, estará aberta ao público a Aldeia do Desenvolvimento, onde estarão representados universidades, organizações não governamentais, agências de desenvolvimento ou o sector privado.

O antigo secretário-geral da ONU Kofi Annan é um dos nomes que participarão nestas jornadas europeias