in O Primeiro do Janeiro
Conhecem-se hoje os resultados do estudo «Crianças e Jovens em Notícia». Algumas conclusões já avançadas revelam que os maus-tratos, a violência sexual, a delinquência e a Educação são dominantes. A forma como a informação é dada, porém, tem reparos dos especialistas...
Os maus-tratos, a violência sexual, a delinquência e a Educação dominam as notícias sobre crianças divulgadas pela Comunicação Social portuguesa, concluiu um estudo do Centro de Investigação Média e Jornalismo, em parceria com o Instituto de Apoio à Criança. Os resultados da investigação «Crianças e Jovens em Notícia», conduzida por Cristina Ponte e financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, serão apresentados no I Seminário Infância, Cidadania e Jornalismo - Quando crianças e jovens são notícia, hoje, na Fundação Calouste Gulbenkian. Este projecto vem na continuidade de um estudo sobre o tratamento jornalístico da criança (0-14 anos) no «Diário de Notícias» em intervalos de cinco anos. Ao longo do ano 2000, foi feita a comparação com outro jornal português, o «Público», e com o espanhol «El Pais», o britânico «The Guardian» e o francês «Le Monde», durante uma semana. Os resultados revelam um aumento do número de peças ao longo dos anos no jornal estudado e que a Educação aparece como tema dominante, tendo sido observada também a ascensão recente de temas como a pedofilia/violência sexual, os consumos e delinquência. Em 2005, a equipa decidiu actualizar a informação alargando a investigação ao «Jornal de Notícias», ao «Correio da Manhã» e a noticiários de televisão, além de incluir um novo objectivo: ouvir também como é que crianças e jovens se sentem tratados nas notícias que falam deles.
«Risco social»
Cristina Ponte explicou que, na globalidade, a criança aparece nas notícias no papel de maltratada ou de maltratante, mas também enquanto consumidor e aluno. O tema mais frequente na agenda noticiosa é o «risco social», com destaque para os subtemas «violência sexual» e a «delinquência». Em todos os jornais, explicou, encontra-se grande quantidade de peças curtas, que relatam de forma breve os acontecimentos, sem contextualização do problema. Já no subtema «negligência, abandonos e maus-tratos», o terceiro mais abordado dentro do tema «risco social», encontram-se peças mais longas e com mais fontes de informação. Na abordagem destas questões, explicou, os média mostram pouco cuidado na protecção da identidade das crianças, atitude que, na opinião de Cristina Ponte, deveria ser alvo de debate no meio jornalístico. Normalmente, adiantou, a identidade das crianças não é revelada quando se trata de uma violação, por exemplo, mas quando o assunto se refere a maus-tratos já existem muito mais derrapagens.
O estudo permitiu ainda revelar que a Educação é a segunda temática mais abordada nas notícias sobre crianças, assumindo-se nos diários portugueses como aquela em que há uma maior abertura à informação e ao debate público, não apenas pela frequência de peças, mas também pela sua visibilidade, dimensão e enfoque. No entanto, uma análise mais detalhada das peças sobre este tema permite compreender que a abertura ao espaço público é ainda limitada, visto que as peças são dominadas pelo debate entre o governo e a oposição/sindicatos.
Em relação aos telejornais, foram visionados 72 noticiários dos canais RTP1, SIC e TVI nos mesmos dias, no primeiro semestre de 2005. Das 111 peças estudadas, a TVI é a que dedica mais tempo às crianças. No âmbito deste estudo foram analisados mais de seis mil itens noticiosos de jornais e televisões portugueses em 2005 sobre temas como Educação, situações de risco social, saúde e comportamento, entre outros, envolvendo crianças e jovens menores de 18 anos.