4.11.07

Região Norte ainda mais longe do rendimento médio nacional

Álvaro Vieira, in Jornal Público

Em 1990, no Norte ganhava-se menos 800 euros anuais, em relação à média nacional. Em 2003, a diferença já chegou aos 2300 euros


A Região Norte manteve-se, entre 1990 e 2003, como a região do país com a mais baixa remuneração média anual. Segundo o estudo A Região Norte de Portugal: dinâmicas de mudança social e recentes processos de desenvolvimento, que será apresentado amanhã (ver texto em baixo), em 1990, um trabalhador do Norte ganhava, em média, 5,8 mil euros por ano, consideravelmente menos do que a média nacional, que era de 6,6 mil euros. Treze anos decorridos, a relação não se alterou. Aumentaram, é certo, as remunerações em termos nominais, e consideravelmente, até. Mas as discrepâncias regionais continuaram a penalizar o Norte: em 2003, a remuneração média na região foi de 15,1 mil euros por ano. Continuou a ser a mais baixa de todo o país, onde a média chegou aos 17,4 mil euros anuais, com a Região de Lisboa e Vale do Tejo e a Região Autónoma da Madeira a registarem salários anuais acima da média, de 20,3 e 18,8, respectivamente.

Nesse ano - o último referido sobre este aspecto no capítulo Actividade económica e nível de vida das famílias residentes na Região Norte -, a Região Centro registava uma remuneração média anual de 15,9 mil euros, enquanto que o Alentejo, o Algarve e a Região Autónoma dos Açores auferiam, por esta ordem, médias de 16,1, 16,2 e 17,1 milhares de euros.

Perante estes dados, não surpreende que também o Rendimento Disponível das Famílias per capita da Região Norte tenha permanecido, ao longo do período de 1990-2003, abaixo da média nacional, afastando-se, aliás, deste valor de referência. Chegada a 2003, a Região Norte apresentava um Rendimento Disponível das Famílias per capita 17 por cento inferior ao da média do país. E, assim, muito menos será motivo de admiração o facto de, no mesmo período, a Região Norte registar um poder de compra per capita inferior ao nacional, além de conviver com uma dupla assimetria no seu perímetro: as disparidades litoral-interior; e concelhos urbanos-concelhos rurais e periféricos, sempre com os segundos a revelarem-se os mais penalizados em termos de poder de compra.

Quatro anos bons

Mas há mais indicadores pouco animadores para a Região Norte no que diz respeito à sua dinâmica económica. Entre 1990 e 1994, a região nem se portou mal. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu no Norte a uma média anual de 11,5 por cento, com a região a andar, inclusivamente, a um passo mais largo do que o do resto do país (10,4 por cento), tendo sido apenas ultrapassada pela Região Autónoma da Madeira, que avançava expedita com os seus 12,4 por cento.

De 1995 a 2003, contudo, a Região Norte perdeu fôlego. O crescimento médio anual do PIB já foi apenas de 5,2 por cento. Portugal, no seu todo, não andou muito melhor, mas, ainda assim, mais rápido: a média nacional de crescimento do PIB aumentou, neste período, 6,2 por cento, deixando o Norte para trás. No final de 2003, o PIB da região atingiu os 37 mil milhões de euros, o que representava 28 por cento do PIB nacional. Foi uma contribuição para a economia nacional bastante inferior à de Lisboa e Vale do Tejo, mas, ainda assim, o dobro da da Região Centro.

Se considerarmos o PIB per capita em índice (com a grandeza 100 a representar o valor da capitação média do PIB nacional), verificamos que, em 1991, o Norte atingia o índice 86, inferior ao da média nacional, mas ainda assim a terceira maior capitação do país. Mas, em 2003, este indicador regional já se quedava pelos 79. Por esta altura, só Lisboa e Vale do Tejo, Madeira e Algarve superavam a média do país, com 132, 121 e 106.

Grande Porto é excepção

Mais uma vez, importa aqui recordar o problema das assimetrias inter-regionais. A sub-região do Grande Porto até conseguiu, quer em 1991 (cerca de 120) quer, mais modestamente, em 2003, índices superiores aos da média nacional. Mas todas as outras sub-regiões, Tâmega, Alto-Trás-os-Montes, Minho-Lima, Douro, Cávado, Ave e Entre Douro e Vouga ficaram muito abaixo do índice 100 e arrastaram o PIB per capita da Região Norte para o fundo da tabela.