21.3.10

Procura do primeiro emprego pesa mais na Região Norte

Pedro Araújo, in Jornal de Notícias

Região de Lisboa tem três vezes menos registos pelo INE e menos de metade pelo IEFP.

No território continental, há 57,5 milhares de pessoas à procura do primeiro emprego, sendo 30,4 milhares do Norte e 8700 de Lisboa e Vale do Tejo. A desproporção é coerente com os registos nos centros de emprego: Norte tem 19 192 contra 7485 da Região de Lisboa.

Segundo Pedro Portugal - especialista em economia do trabalho, consultor do Banco de Portugal e professor da Universidade Nova de Lisboa -, o peso da Região Norte na procura de primeiro emprego tem de ser relativizada com o peso da população jovem nas regiões em análise. De acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, há 458 624 jovens na faixa etária dos 15-24 anos a residir no Norte, mais 171 121 do que na Região de Lisboa e Vale do Tejo.

Há também que ter em conta o peso das insolvências no Norte, factor que tem efeitos directos na oferta de primeiros (ou novos) empregos. Três distritos do Norte (Porto, Braga e Aveiro) representaram metade das 4450 acções de insolvência de 2009, de acordo com os dados da CofaceMope.

De qualquer forma, os números do INE e do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) mostram bem o fosso que separa as regiões do Norte e de Lisboa. Cingindo-nos aos números do continente, o INE dá conta 57 500 activos à procura do primeiro emprego (mais 1400 do que em 2008), 52,8% dos quais estão no Norte e apenas 15,1% na região da capital. Uma distância entre as duas regiões de 37,7 pontos percentuais. No IEFP, o universo do continente é de 37 556, estando 19 192 no Norte e apenas 7485 em Lisboa e Vale do Tejo. Um fosso de 31 pontos percentuais.

Os números do IEFP, relativos a 2009, confirmam a preponderância dos jovens na procura do primeiro emprego. Na faixa etária dos menores de 25 anos, há 25 449 à procura de primeiro emprego, isto é, 67,7% do universo (37 556). Igualmente interessante é o facto de 34,8% de todos aqueles que procuram uma primeira "oportunidade" (13 102) terem formação universitária, 7153 dos quais menores de 25 anos e 5809 na faixa dos 25-34 anos. Ao contrário do que estes indicadores fazem supor, os números do INE relativos ao quarto trimestre de 2009, publicados na última quarta-feira, mostraram que o número de licenciados desempregados passou de 58 mil, em 2008, para 55 mil. O peso maior desta categoria de formados nos centros de emprego só pode ser lida como sendo o resultado de uma atitude mais pró-activa dos licenciados.

Por outro lado, nem todos os candidatos a um primeiro emprego procuram os centros de emprego. Um jovem que tenha acabado a sua formação não se considera logo um desempregado e poderá não ver qualquer vantagem imediata em procurar o IEFP, ao contrário do que sucede com quem procura um novo trabalho, quanto mais não seja para ter acesso ao subsídio de desemprego concedido pela Segurança Social. Daí que o número de pessoas à procura de emprego seja superior em 19 944 no INE relativamente ao IEFP (comparação só com números do continente).

É óbvio que a procura de novo emprego assume, em ambos os casos, uma proporção muito maior - a procura do primeiro emprego representa, no IEFP, apenas 7,4% do desemprego e 10,5% no INE, utilizando só os dados do continente.

Sendo um assunto menos tratado, a procura do primeiro emprego é um dos problemas sociais que mais preocupa os jovens e respectivas famílias. De acordo com um estudo divulgado em Outubro, os jovens à procura do primeiro emprego constituem a categoria mais consensualmente apontada como estando em risco sério de pobreza em Portugal.

"Quanto ao inquérito desenvolvido pela Rede Europeia Anti-Pobreza e pela Amnistia Internacional, ao qual o ISEG se associou, os jovens à procura de primeiro emprego são o grupo que, quer na edição do inquérito em 2004 quer em 2009, foi considerado por uma grande maioria (cerca de 88%) da amostra como um grupo vulnerável à pobreza", sublinha Raquel Rego, investigadora do ISEG e coordenadora do inquérito.