Pedro Crisóstomo, in Público on-line
A OCDE prevê que a dívida pública suba para 111,4% do PIB nos países da organização e que o défice baixe para 4,6%
Sob pressão dos mercados e das agências de rating, as necessidades brutas de financiamento dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) deverão continuar a aumentar neste ano, ainda que ligeiramente, para os 10,9 biliões (milhões de milhões) de dólares (8,3 biliões de euros). E, entre si, vão disputar as poupanças de quem quer investir.
O nível da dívida pública do conjunto dos 34 Estados-membros da organização deverá atingir 111,4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013, prevêem os peritos da instituição num relatório divulgado nesta quarta-feira. E, entre as primeiras dez economias da OCDE, caminha-se para níveis de há quase 70 anos, ficando próximo do recorde registado depois da II Guerra Mundial (116% do PIB).
A percepção do risco dos países diminuiu (é o caso da zona euro, como ainda sublinhou nesta quarta-feira o presidente do BCE, Mario Draghi), mas nem por isso o custo do financiamento dos países deverá baixar em 2013.
A OCDE prevê não só que as necessidades de financiamento engrossem, mas também que as taxas de juro subam ou se mantenham “em níveis elevados”. Mas há, para a organização, uma “boa notícia” nestes dados: a de que “os rácios globais de dívida estão a aumentar muito mais lentamente do que no passado”. Contra uma subida de 11,5% entre 2008 e 2009, o aumento agora previsto é de 1,1% entre 2013 e 2014.
Já o défice dos 34 Estados-membros deverá baixar, embora se mantenha “próximo de níveis recorde”. Enquanto em 2012 terá ficado nos 5,5% do PIB (2,6 biliões de dólares), para este ano é previsto um recuo para 4,6% (2,3 biliões de dólares).
As economias consideradas mais frágeis na zona euro enfrentam dificuldades para cumprir as suas obrigações financeiras. No caso de Portugal, as necessidades líquidas de financiamento para este ano (11.500 milhões de euros) estão asseguradas, combinando o dinheiro dos empréstimos garantidos pela União Europeia e o FMI com emissões de dívida e outras operações de curto prazo.
Para a OCDE, Portugal deu já uma série de “passos importantes” para regressar aos mercados financeiros de longo prazo em Setembro. Mas a volatilidade na moeda única é ainda elevada e é preciso não esquecer o factor “incerteza” face ao abrandamento da economia global.
O “principal desafio” dos governos é, segundo a OCDE, obter fundos “ao custo mais baixo”. A maior parte das entidades responsáveis pela gestão da dívida pública (no caso português, o IGCP) “vão continuar a ajustar o seu portfólio, emitindo obrigações de longo prazo [e] reduzindo os títulos de curto prazo”.
Quem nesta quarta-feira foi ao mercado primário suportando juros mais altos para se endividar a cinco e a dez anos (6500 milhões de euros) foi Itália. Vista como uma reacção negativa dos investidores ao rescaldo das legislativas, a escalada que se fez sentir nos mercados é vista como um potencial factor de contágio. Preocupação que levou o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schäuble, a pedir a formação de um Governo estável que elimine as dúvidas dos mercados.