por Lusa, texto publicado por Isaltina Padrão, Diário de Notícias
O presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) afirmou hoje que "são ilusórios" os dados europeus, que indicam uma diminuição ligeira do número de portugueses em risco de pobreza e exclusão social.
Dados divulgados esta semana pelo Eurostat, gabinete de estatística da União Europeia, indicam que, entre 2010 e 2011, o risco de pobreza ou exclusão social baixou de 25,3% da população, para 24,4% (2,6 milhões de portugueses), mas continua acima da média europeia (24,2%).
"Estes números têm uma explicação que é importante dá-la, porque o que está em causa é o método de análise sobre o critério da pobreza em cada Estado-membro da União Europeia", disse à Lusa o presidente da EAPN.
O padre Jardim Moreira explicou que, em Portugal, como nos outros países da União Europeia, é pela mediana dos salários que se encontra o nível do risco de pobreza.
"Em Portugal, em 2011, começou a haver muitas falências, baixaram muito os ordenados, houve muitos cortes e, naturalmente, baixou a mediana", adiantou.
"Ao baixar a mediana, parece que há uma ilusão de ter diminuído a pobreza, o que não é verdade". Pelo contrário, "tornámo-nos todos mais pobres", acrescentou.
O presidente da EAPN disse que é importante "explicar bem", aos portugueses, a leitura dos dados. Se isso não acontecer, corre-se "o risco de iludir, [dizer] que há uma melhoria da pobreza, e não há".
Os dados do Eurostat indicam também que, na UE27, as crianças estão em maior risco de pobreza ou exclusão social, do que o resto da população.
Em Portugal, esta situação atinge 28,6% das crianças, quando a média europeia é de 27%.
Segundo os dados, o número de idosos em risco de pobreza ou exclusão baixou cerca de 1,5 pontos percentuais, fixando-se nos 24,5%, acima da média europeia (20,5%).
Para o padre Jardim Moreira, a subida da percentagem das crianças portuguesas pobres representa "um risco grave, porque está em causa o futuro da sociedade portuguesa".
"As crianças deixam de ter uma alimentação saudável, deixam de frequentar a escola e [no futuro] vamos ter gente incapaz e excluída, para poder fazer uma participação ativa na inclusão social, no trabalho e no desenvolvimento coletivo", comentou.
Relativamente aos idosos, o presidente da EAPN afirmou que "não é verdade" que tenha baixado o número dos que estão em risco de pobreza ou exclusão.
Mais uma vez, "o que está em causa é a metodologia do encontro da mediana portuguesa. É preciso ter isso claro para não se criar a ilusão de que a vida dos portugueses melhorou, quando de facto piorou".
São consideradas em risco de pobreza ou exclusão social, as pessoas que são atingidas, pelo menos, por uma de três condições: risco de pobreza, carências materiais ou reduzida intensidade de trabalho.
A Comissão Europeia (CE) afirmou hoje que erradicar a pobreza e assegurar um desenvolvimento sustentável são dois desafios que "devem ser enfrentados de forma conjunta, através de uma abordagem concertada".
Numa comunicação intitulada "Uma vida digna para todos: erradicar a pobreza e dar ao mundo um futuro sustentável", apresentada hoje, a CE propõe "um quadro abrangente, que visa abordar ambas as temáticas, com vista a assegurar uma posição comum da UE, que alimentará o debate na ONU e à escala mundial".
"Está ao nosso alcance erradicar a pobreza extrema em todo o mundo, na época em que vivemos. Não se trata de uma questão de recursos, mas sobretudo de ter vontade política e o quadro adequado", afirmou o comissário europeu responsável pelo Desenvolvimento, Andris Piebalgs.