18.2.13

Desemprego. "Há oportunidades raras e demasiados instalados a travar todas as ambições"

Por Pedro Rainho, in iOnline

Ministro considera que as “oportunidades raras” de emprego são resultado de trabalhadores que estão “a travar todas as ambições”


Miguel Relvas acusou ontem, em Lisboa, os “instalados” do mercado de trabalho de serem os responsáveis pelo nível de desemprego jovem que se regista em Portugal – que está perto de atingir os 40%. O ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares disse, na apresentação das “Orientações Estratégicas para a Política de Juventude” do governo, que o“mundo laboral não parece mais favorável”, porque há “oportunidades raras e instalados a travar todas as ambições”.

O discurso de Relvas volta assim a pôr sobre os ombros das gerações mais velhas a responsabilidade da falta de emprego para os que agora tentam entrar no mercado de trabalho. “Décadas de leis laborais inflexíveis introduziram uma perturbação no mercado laboral e contribuíram para um longo período de abrandamento económico”, disse ainda o ministro, acentuando que, apesar de as empresas disporem hoje de gerações de jovens mais qualificadas que no passado, continuam a não contratar. “Primeiro porque as leis laborais beneficiavam quem tinha contrato, agora por causa do endividamento e das restrições de crédito”, considera o governante.

O discurso do ministro foi apenas o segundo take de um rol de mais amargos de boca para os cidadãos mais velhos. No sábado, o semanário “Expresso” tinha já dado conta de que o governo tem planos para tornar permanentes os cortes a prazo nos vencimentos dos trabalhadores do Estado e nas reformas dos pensionistas, tornando também permanente a poupança anual de milhões de euros nos cofres públicos.

Relvas não esqueceu a “fuga de cérebros” – que se acentuou nos últimos meses e que acarreta “prejuízos para o país” – e lembrou que “também cabe ao Estado promover a entrada no mercado de trabalho”. Nesse capítulo, o ministro quis indicar o caminho para onde estão hoje as oportunidades, ao referir que “muitos jovens querem regressar à agricultura” e que “o Estado pode ter um papel, ao facilitar esse regresso”, mas também garantindo que “o desígnio do mar é parte integrante da nossa Estratégia Global para a juventude”.

O “Livro Branco” da Juventuserá apresentado “nas próximas semanas”, estando ainda dependente dos contributos de alguns ministérios para ficar concluído. O documento vai funcionar de forma “transversal” às políticas do governo, evitando que cada ministério actue de forma independente neste âmbito. “Não haverá mais política da juventude feita de uma forma aleatória porque houve um membro do governo que o pretendeu fazer, porque em determinado momento se decidiu nesse sentido. Passa a haver um guião que resulta do Livro Branco”, disse Miguel Relvas no final do Conselho Nacional de Juventude. “O desemprego e o desemprego jovem tiram-me o sono. Não sou insensível. Insensíveis são aqueles que no discurso se preocupam com o desemprego e na prática nada fazem”, fez também questão de sublinhar o ministro.