in Jornal de Notícias
Dos 268 euros que entram em casa de Ana, não sobra dinheiro para fazer planos para emigrar e seguir as pisadas da cunhada
Ana "nunca trabalhou". Sempre amealhou dinheiro para os seus dias na informalidade do ganha-pão de vendedora e nunca fez descontos para a Segurança Social. "Trabalhei muitos anos no mercado com a minha mãe", conta. E enquanto viveu a mãe, Ana Ribeiro, de 38 anos, ganhou sustento a vender fruta no mercado. Tinha banca, tinha chão, tinha pão.
Com a morte da mãe, finou-se também o lugar no mercado. A dupla perda atirou-a para uma informalidade ainda mais precária. Sem poder pagar o espaço, que é "muito caro", ficou desempregada.
Vive agora com o irmão, também desempregado, de 43 anos. A cunhada emigrou para a Bélgica. Foi à procura do trabalho que não há em Braga. Ana não lhe segue as pisadas. "É preciso que haja dinheiro para ir... E nem para nós há". As contas de ida parecem feitas há muito.
Ana explica de cabeça: "Para irmos precisamos de dinheiro para a viagem e para nos aguentarmos lá um mês, pelo menos, até arranjarmos trabalho".
Ana e o irmão recebem cada um 134 euros de Rendimento Social de Inserção (RSI). Um total de 268 euros de rendimento (tira o rendimento, fica mais direto) esticados ao limite: 25 euros de renda por uma habitação social no Bairro das Andorinhas; 30/40 de luz, 30/50 de água. O que sobra serve para comprar uma botija de gás e para comer durante o mês.
Ana vende meias e fatos de treino porta-a-porta pelas casas do bairro. "Para compor o dia-a-dia", explica. Mas o negócio corre mal. "Ninguém tem dinheiro", lamenta.